Em plena era de Pibinhos - a produção de bens e serviços no país cresceu apenas 2,7% em 2011 e próximo de 1% em 2012 -, o mercado de trabalho aquecido tem segurado não só a arrecadação do governo e a popularidade da presidente Dilma Rousseff, como garantido a assistência previdenciária a cada vez mais brasileiros. A criação de milhares de postos com carteira assinada, a formalização de quem estava sem direitos trabalhistas e a filiação de profissionais autônomos têm turbinado a base de contribuintes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Dados referentes a 2011, fechados recentemente pelo governo, apontam a existência de 64,3 milhões de trabalhadores com pelo menos uma contribuição mensal, um recorde. O total representa crescimento de 61% em relação a 2003, quando somavam apenas 39,9 milhões. Com isso, eles garantem a aposentadoria no futuro e a renda em caso de imprevistos, como doenças ou acidentes que os impeçam de trabalhar temporariamente ou de forma permanente. Os números de 2012 ainda não foram contabilizados, mas a estimativa oficial é de que, com a geração de 1,6 milhão de postos com carteira assinada, somada à formalização de outros sem registro e à entrada de mais autônomos e empregadas domésticas diaristas, a base do INSS tenha chegado aos 67,5 milhões de segurados. É uma alta de quase 70% sobre 2003. Nesses 10 anos, a quantidade de trabalhadores que têm se filiado à Previdência Social cresceu ao ritmo de 6,2% ao ano, bem acima da média de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), chegando a taxas próximas de 8% em 2008 e 2010. Em 2011, o INSS viu sua base avançar 6,8%. Para 2012, é esperado aumento de pelo menos 5% do total de filiados. Conforme o Ministério da Previdência, os principais responsáveis pelo expressivo incremento da cobertura do INSS são os segurados empregados, basicamente do setor de serviços e comércio, destacando os de alimentação, alojamento, transporte, armazenagem e comunicações. A exceção no segmento industrial, que registra encolhimento de vagas, é a construção civil, que tem sido forte geradora de vagas formais. Autônomos Há, no entanto, um outro grupo de segurados que têm chamado a atenção dos técnicos da Previdência: o aumento dos que trabalham por conta própria, os autônomos, que incluem as empregadas diaristas e os microempreendedores. Eles passaram de 7 milhões em 2003 para 11,3 milhões em 2011, um aumento de 62,4%. É um desempenho pouco acima dos 61% quando se analisa a base completa, incluindo os segurados empregados. "Além do próprio avanço do emprego formal, o crescimento da renda dos brasileiros nos últimos anos, aliado ao esforço de conscientização do governo, possibilitou que muitos trabalhadores entrassem no sistema previdenciário", afirma o economista João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O salário mínimo teve ganho real, acima da inflação de 86,1% desde 2003. Saboia destaca que a melhora nos rendimentos possibilitou ao trabalhador recolher a contribuição previdenciária para o INSS sem afetar muito seu orçamento. Isso inibiu parte dos acertos entre empregados e patrões que combinavam salário maior, sem registro em carteira, e atraiu uma parcela dos autônomos. "A contribuição dos contribuintes individuais é alta, de 20%. É pesado", afirma. Para o secretário de Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência, Leonardo Rolim, o ingresso de contribuintes individuais é resultado tanto do aumento da renda quanto da preocupação com o futuro. "É um misto das duas condições. O autônomo começa a perceber que INSS não oferece só aposentadoria, mas também os chamados benefícios de risco, e que o custo da contribuição compensa ter esse seguro social", avalia. Rolim aponta a fiscalização intensa do governo como fator importante no aumento dos segurados empregados formalizados, além da maior percepção do empregado de que não vale receber um pouco mais de salário, por meio de acordos informais com o patrão, e ficar desprotegido. Reforço no caixa Além da melhora da renda dos trabalhadores, que eleva a base sobre a qual incidem as contribuições do INSS do empregado e do patrão, o acesso de mais profissionais ao sistema previdenciário tem garantido arrecadação mais gorda para o governo e aliviado o fechamento das contas. Em 2012, as receitas previdenciárias somaram R$ 310,6 bilhões, 5,6% acima das de 2011. Com isso, a Receita Federal faturou R$ 1,029 trilhão em tributos, num cenário em que houve queda no recolhimento dos principais impostos e contribuições pagos pelas empresas, principalmente as do setor industrial, cuja produção encolheu 2,7%. Quando incluídos os recursos previdenciários, os cofres públicos foram engordados em 0,7% acima da inflação em 2012. Sem a parcela do INSS, a queda foi de quase 2%. Para 2013, o governo conta novamente com a ajuda da Previdência para aumentar os recursos em caixa. E é o que deve acontecer, pois a base de contribuintes com renda sobre a qual incidem o recolhimentos ao INSS deve continuar crescendo. "A tendência é de manter o avanço, tanto com a geração de postos de trabalho quanto com a formalização dos que atuam na informalidade", acredita João Saboia, lembrando que 2014 é ano eleitoral, em que o governo abre as comportas dos gastos públicos para incentivar a atividade econômica. Ainda minoria Apesar do aumento do total de contribuintes individuais, de 7milhões para 11 milhões entre 2003 e 2011, o número ainda é baixo. Somente 30% das empregadas domésticas estão protegidas pela Previdência Social. Elas recolhem para o INSS como seguradas individuais. Há ainda aquelas com carteira assinada, mas com salário registrado abaixo do de fato recebido. Esse mecanismo favorece o empregador, que recolhe contribuição menor, mas prejudica a empregada, pois, se ela precisar se afastar do trabalho por doença ou acidente ou engravidar, receberá um benefício inferior ao salário, além de ter uma aposentadoria futura mais baixa. O autônomo começa a perceber que INSS não oferece só aposentadoria, mas também os chamados benefícios de risco, e que o custo da contribuição compensa ter esse seguro social" Leonardo Rolim, secretário de Políticas de Previdência Social do Ministério da Previdência
Regime de metas de inflação é alvo de críticas
A política monetária no mundo passa por grandes mudanças e questionamentos, num cenário em que há restrições para a política fiscal estimular a economia e o crescimento dos países desenvolvidos não decola. Adotado hoje pelo Brasil e por outros 26 países, o regime de metas de inflação, tido antes da crise por muitos analistas como o melhor sistema para a condução da política monetária, tem sido alvo de críticas. O sistema chega a ser apontado como um dos culpados pela eclosão da crise global em 2007 e 2008, por induzir a um foco exclusivo no comportamento dos preços ao consumidor, o que teria permitido a formação de bolhas de ativos, como dos preços de imóveis. Nesse quadro, começa a ganhar algum destaque a ideia de se adotar metas para o Produto Interno Bruto (PIB) nominal, mas a discussão está longe de um consenso. Para alguns analistas, mirar o PIB nominal (o valor em moeda corrente de tudo o que se produz) seria apenas uma opção de emergência, quando a economia está em situação crítica. Esses debates têm como pano de fundo um cenário em que ocorrem mudanças importantes na forma de atuação dos bancos centrais dos países desenvolvidos, diz o ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga. "O Fed [Federal Reserve, banco central americano] tem sido um líder nesse processo, com uma atuação agressiva e criativa", afirma Arminio, sócio da Gávea Investimentos. Em dezembro, o Fed anunciou que as taxas ficarão em níveis excepcionalmente baixos enquanto o desemprego não cair abaixo de 6,5%, e a inflação projetada para o médio prazo não superar 2,5%, explicitando parâmetros que vão condicionar sua atuação. Além disso, as injeções de dinheiro no mercado pelo BC americano somam US$ 85 bilhões por mês, entre compras de papéis lastreados em hipotecas e títulos de longo prazo. No Japão, o sisudo banco central do país cedeu às pressões do novo primeiro-ministro do país, Shinzo Abe, e elevou a meta de inflação de longo prazo de 1% para 2%, além de ter prorrogado o programa de títulos de curto prazo por tempo indefinido. Para Arminio, essas são "respostas à grande crise que ainda vivemos". É uma situação de emergência, em que os juros nos países desenvolvidos já estão no chão e há amarras para usar novos estímulos fiscais. Seria precipitado, com isso, apostar em mudanças definitivas na maneira como se conduz a política monetária no mundo, diz Arminio, para quem o desmonte das medidas mais ousadas adotadas hoje pelos BCs poderá ser mais complexo do que se imagina. Professor da Universidade de Harvard (EUA) e ex-membro do Conselho de Assessores Econômicos do então presidente Bill Clinton, Jeffrey Frankel escreveu no ano passado um bem humorado "obituário" do regime de metas de inflação, e tem defendido a adoção de metas para o PIB nominal. Em entrevista ao Valor, Frankel disse que o sistema de metas de inflação foi útil por um período, principalmente para alguns mercados emergentes como o Brasil, ao estabilizar as expectativas de inflação, mesmo depois das crises do fim dos anos 90, que forçaram vários países a abandonar as suas âncoras cambiais, como fez o Brasil em janeiro de 1999. "Talvez o regime não tenha produzido nenhum grande dano até 2008, quando uma alta dos preços de petróleo levou alguns bancos centrais que adotavam metas de inflação a elevar os juros, num momento em que a recessão global se aproximava", afirma ele. "Mesmo antes disso, pode ser atribuída alguma responsabilidade ao sistema pela bolha anterior, por encorajar as autoridades monetárias a não prestar atenção à forte alta dos preços de ativos." Arminio combate a ideia de que o regime de metas foi um dos culpados pela mais recente crise global. Para ele, alguns bancos centrais "comeram mosca" na questão da supervisão, mas o problema não se deveu às características do regime de metas. É perfeitamente possível, segundo Arminio, conciliar o sistema com uma supervisão mais rigorosa, em que haja preocupações prudenciais adequadas. Para ele, o regime vai continuar a existir nos próximos anos. Tem a simplicidade como um trunfo importante, baseando-se numa meta transparente, para a qual os BC tentam fazer a inflação convergir. No entanto, num quadro de estagnação econômica e desemprego elevado, a definição de metas para o PIB nominal tem ganhado apoios. O presidente do BC do Canadá, Mark Carney, escolhido para comandar o BC do Reino Unido a partir de julho, disse em dezembro que, em certas circunstâncias, em que mais estímulos à economia sejam necessários, as autoridades poderiam passar a mirar o PIB nominal. O Reino Unido segue o regime de metas de inflação. Ao propor a adoção pelo Fed de metas para o PIB nominal num artigo publicado no fim de 2011, a economista Christina Romer explicou o sistema de modo didático. Ex-chefe do Conselho de Assessores Econômicos do presidente Barack Obama e professora da Universidade da Califórnia, em Berkeley, Christina diz que "o PIB nominal é apenas o termo técnico para o valor em dólares de tudo o que produzimos. É o produto total (o PIB real) multiplicado pelos preços correntes". Para os EUA, uma meta razoável seria algo como 4,5%, considerando 2,5% como um crescimento "normal" para a economia americana e 2% para a inflação, o nível que o Fed considera apropriado para o longo prazo. Segundo a proposta de Christina, o Fed tomaria como base um ano em que a economia teve desempenho normal, como 2007, e diria que o PIB nominal deveria ter crescido 4,5% ao ano desde então, ritmo que continuaria a ser perseguido nos anos seguintes. "Por causa da recessão e da inflação muito baixa de 2009 e 2010, o PIB nominal está hoje [no fim de 2011, data do artigo] 10% abaixo daquela trajetória. Ao adotar meta para o PIB nominal, o Fed se compromete a eliminar esse intervalo." Essa mudança ajudaria a melhorar a confiança e as expectativas de consumidores e empresários, levando-os a gastar mais no presente. Frankel diz que as metas para o PIB nominal são mais adequadas para enfrentar choques de oferta ou nos termos de troca (a relação entre preços de exportação e de importação). Se tivesse um alvo para o PIB nominal, o Banco Central Europeu (BCE) poderia ter evitado o erro cometido em julho de 2008, quando elevou os juros para combater o efeito da alta do petróleo sobre os preços ao consumidor, embora a economia caminhasse para a recessão, diz Frankel, em artigo publicado em dezembro. Para ele, o sistema poderia ter ajudado a impedir que o Fed mantivesse uma política monetária excessivamente frouxa entre 2004 e 2006, quando o PIB nominal cresceu mais de 6%, ainda que a inflação estivesse comportada. Arminio não mostra simpatia pelo regime. "Não é sustentável no longo prazo." Um risco existente é o de que, num momento em que o PIB nominal crescer com força, a uma taxa superior à meta definida para esse indicador, o BC pode ser levado a que apertar a política monetária, mesmo se houver uma combinação saudável de crescimento forte e inflação baixa. Para Carlos Viana de Carvalho, professor da PUC-Rio e sócio da Kyros Investimentos, essa ideia só faz sentido como resposta a situações muito difíceis, como em 2009, quando havia risco de depressão em virtude da deterioração da crise provocada pela quebra do Lehman Brothers, no ano anterior. Carvalho, ex-economista-sênior do Fed de Nova York, nota ainda que podem surgir problemas por causa da dificuldade em definir o crescimento potencial da economia (que não provoca pressões inflacionárias). Se o PIB potencial for superestimado, o BC pode passar a tolerar uma inflação mais alta do que seria desejável para chegar ao alvo para o PIB nominal. No caso do Brasil, Arminio e Carvalho consideram que o regime de metas de inflação continua a ser o mais adequado. O país, por exemplo, não enfrenta uma situação delicada, como as economias desenvolvidas. Ao analisar a política monetária brasileira recente, Arminio diz que o BC brasileiro acertou ao começar a reduzir os juros em agosto de 2011, quando antecipou o agravamento da crise europeia. Para ele, contudo, as ações do BC passaram a fazer menos sentido quando ficou claro que a economia se aproximava do pleno emprego com inflação ainda alta. Arminio diz que o incomoda o fato de as projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), tanto dos analistas quanto as embutidas em títulos públicos corrigidos pelo indicador, apontarem inflação bem acima do centro da meta, de 4,5%, "meta que já era um pouco alta". Isso tudo é ruim num país com um histórico de inflação elevada e indexação, afirma o ex-presidente do BC.
BB: Sindicato obtém liminar que prorroga até 6/3 o prazo para adesão às novas funções de confiança
O Sindicato dos Bancários de Brasília obteve na Justiça nesta sexta-feira (1º) antecipação de tutela, em caráter liminar, prorrogando até 6 de março o prazo para adesão às novas funções de confiança do novo plano de cargos do Banco do Brasil, implantado unilateralmente pela instituição financeira na segunda-feira (28). A decisão da juíza substituta da 4ª Vara do Trabalho de Brasília Naiana Carapeba Nery de Oliveira prorrogou o prazo por 30 dias, a contar de 4 de fevereiro. A antecipação da tutela foi concedida na manhã desta sexta-feira, e o BB já foi intimado. Em caso de descumprimento da decisão, o BB pagará multa diária no valor de R$ 20 mil. Em sua sentença, a juíza afirma que "não é razoável o prazo de mero 06 (seis) dias para os empregados analisarem todo teor do novo plano de cargos e salários e realizar a escolha da jornada a ser cumprida, eis que se faz necessária a comparação entre as novas regras adotadas". Para a juíza, "a opção para exercer atribuição em jornadas diferenciadas exige uma análise acurada dos empregados, de modo que tenho que a prorrogação do prazo em mais 30 (trinta) dias, para a tomada da decisão, é fundamental para assegurar a tranquilidade do empregado na escolha a ser realizada". Diante disso, o Sindicato orienta que os funcionários analisem com calma a decisão pessoal a ser tomada, acumulando o máximo de informações e cenários antes da escolha. O Sindicato, que realizará reuniões em todos os locais de trabalho, reforça que os funcionários devem aguardar essas visitas antes de tomar qualquer decisão. Ditec Em virtude do novo prazo conquistado através da medida judicial, o Sindicato também solicitou ao BB a prorrogação dos prazos referentes às ondas de migração na Diretoria de Tecnologia (Ditec). Audiência A audiência inicial do processo foi marcada para o próximo dia 28 de fevereiro.
Especialistas alertam sobre uso de analgésicos para aliviar dor nas costas
Usar relaxantes musculares ou analgésicos para aliviar aquela dorzinha que de vez em quando aparece nas costas é uma estratégia desaconselhável e pode resultar em dano maior à coluna vertebral. Para informar as pessoas sobre as principais medidas de prevenção e os riscos que algumas atividades podem trazer à coluna, diversos fisioterapeutas, especialistas em tratamentos para a coluna, lançaram hoje (2), de forma simultânea, em 30 cidades, a Campanha Nacional Alerta para Prevenção de Dores nas Costas. Em Brasília, diversos fisioterapeutas foram ao Parque da Cidade para alertar os frequentadores do local. "Nosso foco é a prevenção desses problemas e chamar a atenção para a necessidade de um diagnóstico precoce, além de contribuir para que as pessoas tomem a decisão de melhorar a postura para proteger a coluna", disse à Agência Brasil a diretora do Instituto de Tratamento da Coluna Vertebral (ITC), Ângela Lepesqueur. Segundo a fisioterapeuta, as pessoas precisam ficar atentas a quaisquer dores irradiadas (aquelas que percorrem um caminho ao longo do corpo, em geral associadas aos nervos comprometidos), formigamentos e dormência em membros, falta de força, dores espontâneas que surgem sem motivo aparente, além de contraturas musculares nas regiões lombar e cervical e dores locais ou decorrentes de posturas mantidas. "O maior problema é quando a pessoa resolve o incômodo tomando analgésicos, porque deixa de investigar a causa e, com isso, o problema fica maior", ressalta Ângela. Foi o que aconteceu com o lanterneiro Revanildo Rodrigues, 38, morador da Estrutural. "Eles me alertaram que é importante eu estar sempre atento à minha postura e que tenho de reeducar meu corpo", disse. O trabalho de Revanildo requer muito esforço físico, e a dor o acompanha há mais de oito anos. "Minha região lombar dói a toda hora, todo dia e a todo minuto, mas nunca fiz nenhum tipo de tratamento. Soube que ia ter essa campanha aqui no parque e resolvi vir. Eu não associava essas dores à minha postura. Tomava então relaxantes musculares e achava que estava pronto para o dia seguinte", disse o lanterneiro. O problema de saúde então começou a se transformar em problema financeiro. "Era comum eu ficar dois ou três dias sem trabalhar. Como sou autônomo, ganho pelo serviço. As repetições [das crises de dor] acabaram comprometendo entre 30% e 40% dos meus ganhos mensais". A conversa com os fisioterapeutas ajudou Revanildo a se convencer de que precisa consultar especialistas no problema. "Na segunda-feira vou ao fisioterapeuta ver qual é o exercício ideal para ajudar a reeducar minha postura. Do jeito que está, não tem como. E a tendência é piorar", concluiu. Outras pessoas precisam de tratamento para lidar com problemas congênitos. "Nasci com uma vértebra a mais do que o normal", explica a farmacêutica Débora Souza, 46, moradora do bairro Sudoeste. "Isso resulta em uma compressão da vértebra sobre as outras, o que me causa dores desde os 30 anos", acrescentou. Por causa do problema, Débora teve de abandonar diversas atividades físicas que tinha como hobby. "Eu gostava de tracking [caminhada em trilhas], bicicleta, vôlei. Tive de abandonar tudo por causa da dor. Para piorar, fiquei traumatizada com o ortopedista que me orientou a fazer musculação e pilates. Como a orientação da academia não era específica para o meu problema, acabei forçando [de forma inadequada] a minha coluna. O resultado foi que as dores aumentaram ainda mais", disse a farmacêutica. "Um médico chegou ao cúmulo de recomendar que eu fosse a um psiquiatra por achar que a origem do problema era de fundo psicológico", acrescentou. A solução foi apresentada por um fisioterapeuta: duas sessões semanais de fisioterapia e pilates leve e direcionado ao problema. Com o tempo, a musculatura fortaleceu e hoje a farmacêutica já pode fazer exercícios de maior intensidade. Depois de descobrir que tinha três hérnias de disco na coluna lombar e de sentir muita dor, a engenheira mecânica Juliana Mol, 35, moradora do Sudoeste, ouviu de seu médico a recomendação de que fizesse hidroterapia. Infelizmente, as dores continuaram. O médico sugeriu, então, que ela fizesse uma cirurgia. Leia mais notícias em Ciência e Saúde "O problema é que ele não garantiu que a cirurgia aliviaria minha dor. Em meio a essa incerteza, optei por um tratamento conservador. Foram cinco meses de fisioterapia para introduzir os exercícios ideais. Sentia que a dor ia e voltava, e, gradativamente, a dor virou desconforto para, depois, desaparecer", disse a engenheira, que faz fisioterapia há dois anos. Professor de educação física, Andrett adverte: exercícios sem orientação profissional podem resultar em danos à saúde. Nesse sentido, o acesso a equipamentos públicos de musculação representa um risco maior aos praticantes. "A gente sabe que muitos não têm acesso a profissionais para orientar as atividades físicas. O que indicamos para esses casos é que eles pratiquem a atividade de forma mais moderada e com maior amplitude [maior número de repetições do exercício, mas com uma carga mais leve], sempre lembrando que a dor é o limite de qualquer movimento".
Governo acelera leilão que deverá expandir internet 4G
O governo começará nas próximas semanas o processo que resultará na maior licitação do setor de telecomunicações brasileiro, a da frequência de 700 MHz. Estimada em R$ 40 bilhões, a licitação tem como objetivo acelerar a implantação da internet móvel de quarta geração, ou 4G -cuja velocidade é 30 vezes a da 3G, tecnologia atual. Hoje, as teles podem usar outra frequência de 4G, a de 2,5 GHz, licitada em junho de 2012 por R$ 2,9 bilhões. A frequência de 700 MHz é cobiçada pelo setor de telefonia por possuir um alcance maior e, com isso, exigir um número menor de antenas. Para o usuário final, a licitação também possibilitará o uso de diversos equipamentos nos quais o 4G só funciona na frequência de 700 MHz. A portaria que permitirá à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) iniciar o processo para destinar para as teles essa faixa, hoje utilizada pelos canais de televisão UHF, já está pronta e, segundo apurou a Folha, será publicada neste mês pelo Ministério das Comunicações. A decisão deve ser informada ao setor de radiodifusão (TV e rádio) numa reunião hoje na Anatel. A previsão anterior era de começar o processo no segundo semestre. Mas o governo decidiu acelerar os trâmites para que haja tempo de a licitação ser concluída antes do início do período eleitoral do ano que vem, quando a presidente Dilma Rousseff deve tentar a reeleição. Após a publicação da portaria, a Anatel abrirá uma consulta pública sobre o tema. Encerrado esse trâmite, poderá elaborar o edital. O modelo da licitação ainda não foi discutido. Não há uma data certa para que a frequência, após ser licitada, possa ser colocada em uso. QUEDA DE BRAÇO A decisão de começar a licitação põe fim a uma queda de braço antiga entre as teles e o setor de rádio e TV. Na portaria, o governo vai justificar a medida devido ao crescimento da demanda por 4G por setores como o de petróleo e de infraestrutura, além do atendimento a grandes eventos internacionais. Para liberar a faixa às teles, o governo terá de antecipar a mudança dos canais de TV que hoje utilizam a faixa de 700 MHz (os de 51 a 69 UHF). O calendário inicial era que essa alteração terminasse até 2016. Segundo estimativas da Anatel, a mudança dos canais irá atingir cerca de 1.200 municípios, incluindo capitais como São Paulo e Rio. Para viabilizar a licitação, o governo estuda uma compensação às empresas de radiodifusão, na qual as teles vencedoras do leilão assumiriam o custo da digitalização dos canais de TV realocados. Para contentar as emissoras, o governo estuda até mesmo a indicação de um representante do setor para um dos cargos no conselho da Anatel, vago desde o final de 2012, com a saída de Emília Ribeiro. Na mesa, está o nome de Maximiliano Martinhão, atual secretário de Telecomunicações. Ligado ao PT ele é responsável por temas de radiofrequência.
Revisão de estudos aponta mitos da obesidade
Um artigo publicado no "New England Journal of Medicine" que elenca mitos e fatos sobre obesidade e emagrecimento está causando controvérsia nos EUA. David Allison, diretor do centro de pesquisas de nutrição e obesidade da Universidade do Alabama, e colegas apresentam uma lista com sete mitos, seis pressupostos não comprovados e nove fatos sobre a obesidade. Editoria de Arte/Folhapress Entre os mitos e conceitos não provados estão as ideias de que aulas de educação física têm efeito no emagrecimento de crianças obesas, de que amamentação evita o problema e que os obesos devem evitar dietas radicais. Entre os fatos está o poder de remédios emagrecedores, cirurgias bariátricas e de programas que oferecem refeições prontas ou substitutos na perda de peso. Os especialistas em obesidade aplaudiram esse esforço de desfazer confusões em torno da obesidade. Para eles, essa área vem se tornando um atoleiro. O pesquisador de obesidade Jeffrey Friedman, da Universidade Rockefeller, disse: "A meu ver, há mais desinformação fazendo-se passar por verdade neste campo que em qualquer outro". Mas pesquisadores independentes dizem que, apesar de apontarem informações válidas, os autores têm ligações financeiras com empresas de alimentos, bebidas e fabricantes de produtos para emagrecer. A lista de declaração de conflito de interesses ocupa quase meia página do artigo. "Isso levanta dúvidas sobre o propósito do artigo e se ele mira a promoção de medicamentos, produtos que substituem refeições e cirurgias bariátricas como a solução", afirmou Marion Nestle, professora da Universidade de Nova York. "A grande questão na perda de peso é como você muda o ambiente ligado à comida para que as pessoas façam escolhas saudáveis." MÉTODO David Allison queria saber o que já está comprovado em relação à obesidade. Uma ideia tida como verdadeira, por exemplo, é que as pessoas que tomam café da manhã são mais magras. Editoria de Arte/Folhapress Mas essa noção é baseada em estudos feitos com pessoas que já tomavam café da manhã. Dois estudos que separaram as pessoas em grupos e avaliaram o impacto de comer ou não de manhã não mostraram o efeito emagrecedor da primeira refeição. Portanto, indaga Allison, por que os pesquisadores continuam fazendo estudos que se limitam a relacionar magreza e café da manhã? "Todo esse tempo e esforço são desperdiçados." Outro problema com as pesquisas sobre obesidade é que elas tendem a assumir como verdadeira a opção que parece ser mais razoável. Um exemplo disso é a ideia de que as pessoas que seguem programas de emagrecimento se saem melhor quando definem metas conservadoras em vez de tentar perder um percentual grande do peso corporal. Mas, quando ele examinou os estudos sobre emagrecimento, não achou nenhum vínculo consistente entre o grau de ambição da meta e quanto peso foi perdido, nem por quanto tempo a perda de peso tinha sido mantida. Para Allison, cabe aos cientistas mudar seus hábitos. "Precisamos fazer estudos rigorosos", afirmou. "Eu nunca disse que temos que aguardar até termos o conhecimento perfeito", ele concluiu. Mas, nas palavras de John Lennon, "me dê alguma verdade".