O aumento da demanda por viagens aéreas domésticas em março, de 1,27%, na comparação anual, acendeu um alerta no setor aéreo. Foi o pior desempenho mensal desde maio de 2009, quando houve recuo de 5,4% nesse indicador. Foi também a performance mais fraca para o mês de março desde 2004, quando o fluxo de passageiros transportados ficou estável, com alta de 0,2%. Seguindo a tendência mundial de desaceleração do crescimento das viagens aéreas, frente a um cenário de crescimento econômico global incerto, o desempenho das companhias aéreas brasileiras mostra que a aviação comercial está se acomodando a um novo patamar de expansão. Isso fica ainda mais evidente levando-se em conta que por um período de quase dois anos, a partir de agosto de 2010, as taxas mensais de crescimento variaram acima de dois dígitos. Em alguns casos, a expansão chegou a quase 43%, como em fevereiro de 2010. De 2009 a 2011, a alta anual da demanda doméstica também foi consistente, com taxas de 17,65%, 23,47% e 15,72%, respectivamente. Diante desse cenário de menor crescimento em 2012, as duas maiores empresas aéreas do país, TAM e Gol, comunicaram ao mercado que o crescimento da demanda doméstica por viagens aéreas neste ano, na projeção mais otimista, será de até 10%. Essa é a previsão da Gol. Para a TAM, a estimativa inicial chegava a 11%, mas em abril ela reviu a taxa para até 9%. Enquanto o crescimento da demanda perde o ritmo, a tendência para o preço do querosene de aviação (QAV), responsável por cerca de 35% dos custos de uma companhia, é de alta (ver reportagem abaixo). Em 2011, o preço do QAV no país subiu 33,5%. Em 2012, acumula alta de 9,19% até ontem. A maior parte da expansão de demanda esperada para 2012 deverá vir das companhias de médio porte. Isso porque TAM e Gol anunciaram que a oferta delas - ou seja, a capacidade de transporte - deverá ter "crescimento zero" neste ano, pois o foco das duas é a rentabilidade. Em 2011, as duas apresentaram prejuízo combinado de R$ 1 bilhão. Tanto TAM quanto Gol divulgaram que o planejamento de frota, para 2012, será bem mais comedido por causa do atual cenário de oferta acima da demanda. Outro resultado de março que chama a atenção é a queda de demanda da Gol, de 10,07%, e da TAM, de 7,73%. As companhias aéreas de médio porte, na rota inversa, registraram crescimentos robustos de demanda em março, em relação ao mesmo mês de 2011. A maior taxa foi a da Avianca, de 131%, seguida pelos 68,07% da Trip. Logo em seguida veio a Azul (31,79%) e a Webjet 25,17%. Esta última foi comprada pela Gol, em julho de 2011, mas sua operação permanece independente até o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) avaliar a negociação. Não é por acaso, portanto, que o duopólio TAM/Gol vem perdendo força. Em março, a participação de mercado conjunta das duas maiores empresas aéreas brasileiras foi de 72,69%, sendo 38,25% da TAM e 34,44% da Gol. Em 2011, a fatia combinada era de 80,78%, perda de 8,09 pontos percentuais. As aéreas de médio porte, por sua vez, responderam, juntas, por 25,43% da demanda doméstica em março. Em igual período do ano passado, elas tinham fatia combinada de 18,04%, aumento de 7,39 pontos percentuais.
Nova chance com o Leão
Os contribuintes que ainda não prestaramcontas com o Leão têm nova oportunidade a partir de hoje. Às 8h, a Receita Federal volta a disponibilizar em seu site o programa gerador da declaração, que foi retirado do ar às 23h59m59s de segunda-feira, instante em que o prazo normal para a entrega do documento foi encerrado. O órgão recebeu 25.244.122 declarações,umpouco menos que as 25,4 milhões esperadas.Mas o número superou o do ano passado, quando 24,3 milhões de contribuintes enviaram seus dados. Quem ainda não baixou o programa deve acessar o site www.receita.fazenda.gov.br. A multa pelo atraso é de R$ 165,74 ou 20% do imposto devido, prevalecendo o maior valor. Ao contrário do ano passado, quem já tiver feito o download não precisará instalar o aplicativo novamente no computador. O programa já está atualizado para o cálculo da multa para quem entregar com atraso. A declaração também poderá ser entregue em mídia removível (pen drive, disquete ou disco rígido externo) nas unidades de atendimento da Receita Federal. Mas, diferentemente do que ocorreu até o prazo normal, não serão aceitos disquetes. Por meio do extrato disponível no Centro Virtual de Atendimento ao Contribuinte da Receita (e-CAC), no endereço https://cav.receita.fazenda.gov.br, é possível verificar erros ou irregularidades na prestação de contas. O próprio sistema apontará as divergências, que deverão ser corrigidas por meio de uma declaração retificadora. Até o próximo dia 10, a Receita pretende concluir o processamento das declarações.
Após semana no vermelho, bolsa tenta novo rumo
O mercado doméstico de ações vem atravessando um período de indefinição nas últimas duas semanas e, nesta segunda-feira, enforcada pelo feriado do Dia do Trabalho, não será diferente. Indicadores importantes de atividade econômica dos Estados Unidos e da China serão conhecidos hoje, mas qualquer movimento no mercado local não deve ser considerado como tendência devido ao volume reduzido de negócios. "Podemos esperar alguma coisa somente a partir de quarta-feira", afirma o analista técnico da Mycap, homebroker da Icap Corretora, Raphael Figueredo. Ele lembra que há alguns pregões o Ibovespa está "devendo o rompimento" da resistência gráfica dos 63.370 pontos ou do suporte de 61.290 pontos para definir uma tendência, respectivamente, de alta ou baixa. "Por enquanto, nada mudou. A indefinição prossegue", diz o especialista. Na sexta-feira, a Bovespa seguiu descolada das bolsas americanas e fechou em baixa. Apesar de algumas notícias ruins lá fora, como o rebaixamento da nota de risco de crédito (rating) da Espanha e o crescimento do PIB americano abaixo do esperado no primeiro trimestre, o que deu o tom negativo no mercado local foi o clima de aversão ao risco justamente devido ao feriado. Embora a bolsa abra hoje, a liquidez será menor e muitos investidores preferiram "não pagar para ver" e se desfizeram de várias posições. Petrobras PN (-1,45%, para R$ 20,93), Vale PNA (-0,67%, para R$ 41,50) e OGX ON (-3,36%, para R$ 13,51), os três principais papéis do mercado, mantiveram o mercado em baixa, mas a queda se acelerou na última hora do pregão por causa do setor de construção, que aprofundou as perdas. O Ibovespa fechou em baixa de 0,81%, 61.691 pontos, próximo da mínima do dia, de 61.666 pontos. Na semana, o índice caiu 1,28%, e no mês acumula perda de 4,37%. No ano, ainda sobe 8,70%. O volume somou R$ 5,776 bilhões. Entre as maiores altas, Lojas Renner ON subiu 3,43%, para R$ 60,20. A empresa divulgou na quinta à noite uma queda de 25% no lucro do primeiro trimestre, para R$ 35,7 milhões. No entanto, os papéis reagiram em alta em função da projeção de crescimento para o segundo trimestre dada pela empresa em teleconferência com analistas, afirma o gestor de renda variável da Mercatto, José Luiz Garcia. "O mercado continua vendo o setor de consumo como uma opção defensiva. Essa teleconferência reforçou o otimismo com o setor." Hering ON ganhou 2,99%, para R$ 46,81 e Pão de Açúcar PN avançou 3,19%, para R$ 88,29. Depois do BTG Pactual, que recuou 0,63% e voltou ao preço da oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), de R$ 31,25, a Bovespa teve mais uma estreia na sexta-feira. A Unicasa iniciou negócios em forte alta de 9,71%, a R$ 15,36. A produtora de móveis sob demanda captou R$ 425,6 milhões em sua oferta, ao preço de R$ 14,00 por ação. E após vários rumores, a Gol (-2,68%, a R$ 10,15) informou na sexta à noite que vai criar uma empresa com o Smiles, seu programa de milhagem, mas não disse se pretende fazer IPO.
Em 4G, modelo de leilão e preço de aparelho são desafio
A proximidade dos grandes eventos esportivos programados para o Brasil a partir da Copa das Confederações, em 2013, está colaborando para o clima de expectativa otimista que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) tem demonstrado em relação ao leilão de quarta geração de telefonia móvel (4G), agendado para 12 de junho. O sucesso dependerá dos participantes da licitação e, principalmente, do valor arrecadado, estimado por analistas em R$ 6 bilhões. Como boa vendedora, a agência tem anunciado repetidamente que há muitos interessados nas faixas de frequência, inclusive companhias estrangeiras que ainda não atuam no mercado local. O leilão de terceira geração, realizado em 2007, arrecadou R$ 5,338 bilhões, com um ágio de 86,67%, muito acima dos tímidos 25% previstos inicialmente pela agência reguladora. Em dezembro de 2010, a venda da banda H e sobras de frequência renderam ao governo R$ 2,7 bilhões (ágio de 30,59%). Antes disso, em 2004, a privatização das empresas do Sistema Telebras levou US$ 22 bilhões [o equivalente hoje a R$ 41,47 bilhões] para os cofres públicos. Na ocasião, a acirrada disputa pelas antigas teles entre consórcios de operadoras internacionais e investidores, movimentou o setor de telefonia no país, ávido por investimentos, aumento da infraestrutura instalada, ampla oferta de linhas telefônicas e menor preço. O consumidor médio não acompanhava com detalhes o fatiamento do país em territórios pelos grandes grupos econômicos de telefonia, majoritariamente internacionais. Mas sabia o que queria: parar de financiar a expansão do serviço e não precisar esperar de um a dois anos para conseguir uma linha - onde a rede chegava. No caso do celular, muitos consumidores que não conseguiam uma carta de crédito que, depois de algum tempo, seria trocada por uma linha, recorriam ao mercado paralelo, onde pagavam um ágio para ter um telefone móvel. Os recursos privados impulsionaram os investimentos e o cenário foi mudando rapidamente. Novas tecnologias surgiram, criando outras necessidades. Hoje, é difícil imaginar o mundo sem celular e internet. E é justamente para adequar as necessidades a esse ambiente evolutivo que a Anatel vai leiloar as frequências de 4G. A imensa quantidade de dados, imagens e vídeos já não é bem suportada pela infraestrutura de 3G. Com os eventos esportivos e a chegada de turistas portando seus aparelhos de nova geração, o tráfego se multiplicará. Ainda é preciso ver como as operadoras reagirão às ofertas combinadas de 2,5 gigahertz, ideal para grandes áreas, com a de 450 megahertz, própria para zonas rurais. O preço dos aparelhos 4G também será um desafio, já que essa frequência não é escolha unânime entre os países que fazem parte da União Internacional das Telecomunicações (ITU, em inglês).
O dólar e a bolsa
A valorização do dólar no segundo bimestre do ano já está se refletindo nas ações negociadas na Bovespa. Em tese, um real mais barato torna a bolsa brasileira mais atrativa e beneficia os papéis de exportadoras com custos em moeda local. Na contramão, empresas com dívidas e gastos na moeda americana tendem a sofrer com a mudança no câmbio, que não foi suave. O dólar comercial bateu na mínima do ano (R$ 1,699) em 28 de fevereiro e, desde então, já subiu 11,07% (até o dia 27). Os especialistas ouvidos pelo Valor citam pelo menos 17 ações que, pela própria natureza do negócios, estão mais propensas a sentir os efeitos - positivos e negativos - da valorização da moeda americana. Desse grupo de 17, 10 companhias já foram afetadas pela mudança de patamar do dólar nos últimos dois meses. O melhor exemplo de companhia que sente realmente os efeitos do câmbio é Embraer, exportadora de aeronaves. A empresa disparou nos últimos dois meses, marcando alta de 29,60% entre 28 de fevereiro e 27 de abril, enquanto o Ibovespa recuou 6,47%. A Embraer exporta [receita em dólares], mas tem custos em reais", afirma o estrategista de ações da corretora do Credit Suisse, Andrew Campbell, ressaltando que a empresa ainda se beneficiou de vendas maiores de jatos. A SLC Agrícola, também citada por Campbell, é outro exemplo de companhia beneficiada pela alta do dólar. O papel da companhia - produtora de commodities agrícolas (com foco em algodão, soja e milho) - subiu 20% no período. Na contramão, estão Gol, cujos papéis acumulam queda de 33,18% de 28 de fevereiro a 27 de abril, e Suzano, com desvalorização de 13,50%. O estrategista da Santander Corretora, Leonardo Milane, explica que as aéreas, caso da Gol, têm os custos elevados para comprar querosene de aviação, um produto dolarizado, mas não conseguem repassar esses gastos às tarifas. Já a Suzano tem 41% da receita proveniente de exportações, mas 53% da dívida é dolarizada. Ou seja, no fim das contas, a alta da moeda americana é negativa para a empresa. Do lado positivo, além da desvalorização do câmbio, algumas companhias exportadoras estão se beneficiando também de fatores internos. É o que ajuda a explicar outras altas fortes no período, como das ações da produtora de pastilhas e lonas para veículos Fras-le (+17,93%), a empresa de "call center" Contax (+20,15%) e a fabricante de ônibus Marcopolo (+19,64%). O sócio da gestora de recursos Mauá Sekular Guilherme de Morais Vicente diz as companhias exportadoras de manufaturados têm chances de ganhar mais neste momento. Em primeiro lugar, porque não vendem commodities, cujos preços oscilam de forma mais aguda. Em segundo, porque, além do câmbio, estão se beneficiando de dois programas do governo federal de incentivo a indústria exportadora: o Reintegra e a desoneração da folha de pagamento. O Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra) prevê a desoneração de resíduos de tributos indiretos (Cide, IOF, PIS, Cofins) sobre os produtos industrializados brasileiros exportados. "O pacote entrou em vigor em dezembro, mas a maioria das empresas ainda não contabilizou seus efeitos no balanço", observa Vicente. A desoneração, diz Vicente, beneficia diretamente as exportadoras com mão de obra intensiva, caso da Contax, que presta serviços no exterior. O governo anunciou no começo de abril que vai desonerar a folha de pagamento de 15 setores, em uma renúncia fiscal que deve chegar a R$ 7,2 bilhões por ano. Está prevista a eliminação da contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha e a cobrança será substituída por taxa de 1% a 2,5% sobre faturamento. A medida só valerá a partir de junho. Além dos efeitos sobre empresas específicas, uma alta do dólar também costuma provocar mudanças de rumo do Índice Bovespa, o principal termômetro do mercado acionário doméstico. O dólar mais caro deixa a bolsa brasileira "mais barata" e abre espaço, portanto, para o estrangeiro vir ao mercado local. Embora esse movimento comprador tenha sido visto em alguns dias, segundo operadores, no geral não houve muito entusiamo do estrangeiro com a bolsa. Uma explicação para a defasagem da Bovespa, segundo os especialistas, é a estagnação no preço das commodities, produtos que respondem por boa parte da balança comercial do país e têm forte peso no Ibovespa. "Uma alta de 11% do dólar em dois meses tem efeito positivo sobre o Ibovespa, sim, mas que é mitigado pela queda nos preços das commodities", acrescenta Milane, da Santander. "Para comprar empresas que são beneficiadas pela alta do dólar, como as exportadoras de produtos básicos, o investidor precisa ter muita visibilidade no campo da demanda, o que não acontece agora, com China e Estados Unidos dando sinais confusos de recuperação econômica", diz. Quem quer aproveitar mudança no câmbio para investir em exportadoras não ligadas a commodities deve lembrar também que as perspectivas são de queda do dólar. Segundo o boletim Focus do Banco Central, as instituições financeiras projetam taxa de câmbio a R$ 1,80 em dezembro. Ou seja, abaixo do nível atual. "É prematuro falar em novo patamar", diz o economista da Banif Corretora, Mauro Schneider. Homero Guizzo, economista sênior da LCA Consultores, acredita em um dólar a R$ 1,75 em dezembro. "Com o governo deixando de atuar, retornam os fundamentos do mercado que têm contribuído para elevar o real nos últimos anos", diz.
Bancos: abertura de agências não terá restrições
BRASÍLIA. O Conselho Monetário Nacional (CMN) mudou ontem as regras para a abertura de agências bancárias e postos de atendimento no país. A partir de hoje, os bancos poderão decidir onde e como atender seus clientes sem as restrições que vigoravam. Segundo o Banco Central (BC), a medida deve diminuir custos e aumentar a concorrência entre as instituições. - O banco é que conhece seus clientes. Que sabe onde deve se instalar - disse o chefe do Departamento de Normas do BC, Sérgio Odilon dos Anjos. A nova regra, mais enxuta, libera as instituições para decidir novas formas de relacionamento. Odilon deu como exemplo, a instalação de um posto de atendimento em uma estação de metrô, onde o grande fluxo de pessoas ocorre em horários diferentes aos do funcionamento da agência convencional. O banco poderá definir se o posto montado ali terá atendimento presencial ou não. A principal exigência agora é que a instituição coloque em lugar visível quais operações podem ser feitas no posto, indicando o lugar mais perto para o cliente obter serviços não prestados ali. Para o BC, a ideia é melhorar o atendimento aos clientes e diminuir custos para as instituições. Antes de reduzir os juros ao consumidor, os bancos privados fizeram uma série de exigências ao ministro da Fazenda, Guido Mantega. No entanto, a medida anunciada ontem não estava nessa lista dos banqueiros. O BC ainda editou uma circular que determina um exame de concentração no sistema financeiro. Quando houver fusão, as instituições deverão assinar um acordo com a autoridade monetária, obrigando-as a compartilhar os ganhos de eficiência. O CMN decidiu ainda autorizar a aplicação da taxa Libor, que corrige os contratos do Programa de Financiamento às Exportações (Proex), para operações de financiamento a países menos desenvolvidos na compra de bens ou serviços brasileiros. (Gabriela Valente)