A valorização do dólar no segundo bimestre do ano já está se refletindo nas ações negociadas na Bovespa. Em tese, um real mais barato torna a bolsa brasileira mais atrativa e beneficia os papéis de exportadoras com custos em moeda local. Na contramão, empresas com dívidas e gastos na moeda americana tendem a sofrer com a mudança no câmbio, que não foi suave. O dólar comercial bateu na mínima do ano (R$ 1,699) em 28 de fevereiro e, desde então, já subiu 11,07% (até o dia 27). Os especialistas ouvidos pelo Valor citam pelo menos 17 ações que, pela própria natureza do negócios, estão mais propensas a sentir os efeitos - positivos e negativos - da valorização da moeda americana. Desse grupo de 17, 10 companhias já foram afetadas pela mudança de patamar do dólar nos últimos dois meses. O melhor exemplo de companhia que sente realmente os efeitos do câmbio é Embraer, exportadora de aeronaves. A empresa disparou nos últimos dois meses, marcando alta de 29,60% entre 28 de fevereiro e 27 de abril, enquanto o Ibovespa recuou 6,47%. A Embraer exporta [receita em dólares], mas tem custos em reais", afirma o estrategista de ações da corretora do Credit Suisse, Andrew Campbell, ressaltando que a empresa ainda se beneficiou de vendas maiores de jatos. A SLC Agrícola, também citada por Campbell, é outro exemplo de companhia beneficiada pela alta do dólar. O papel da companhia - produtora de commodities agrícolas (com foco em algodão, soja e milho) - subiu 20% no período. Na contramão, estão Gol, cujos papéis acumulam queda de 33,18% de 28 de fevereiro a 27 de abril, e Suzano, com desvalorização de 13,50%. O estrategista da Santander Corretora, Leonardo Milane, explica que as aéreas, caso da Gol, têm os custos elevados para comprar querosene de aviação, um produto dolarizado, mas não conseguem repassar esses gastos às tarifas. Já a Suzano tem 41% da receita proveniente de exportações, mas 53% da dívida é dolarizada. Ou seja, no fim das contas, a alta da moeda americana é negativa para a empresa. Do lado positivo, além da desvalorização do câmbio, algumas companhias exportadoras estão se beneficiando também de fatores internos. É o que ajuda a explicar outras altas fortes no período, como das ações da produtora de pastilhas e lonas para veículos Fras-le (+17,93%), a empresa de "call center" Contax (+20,15%) e a fabricante de ônibus Marcopolo (+19,64%). O sócio da gestora de recursos Mauá Sekular Guilherme de Morais Vicente diz as companhias exportadoras de manufaturados têm chances de ganhar mais neste momento. Em primeiro lugar, porque não vendem commodities, cujos preços oscilam de forma mais aguda. Em segundo, porque, além do câmbio, estão se beneficiando de dois programas do governo federal de incentivo a indústria exportadora: o Reintegra e a desoneração da folha de pagamento. O Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra) prevê a desoneração de resíduos de tributos indiretos (Cide, IOF, PIS, Cofins) sobre os produtos industrializados brasileiros exportados. "O pacote entrou em vigor em dezembro, mas a maioria das empresas ainda não contabilizou seus efeitos no balanço", observa Vicente. A desoneração, diz Vicente, beneficia diretamente as exportadoras com mão de obra intensiva, caso da Contax, que presta serviços no exterior. O governo anunciou no começo de abril que vai desonerar a folha de pagamento de 15 setores, em uma renúncia fiscal que deve chegar a R$ 7,2 bilhões por ano. Está prevista a eliminação da contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha e a cobrança será substituída por taxa de 1% a 2,5% sobre faturamento. A medida só valerá a partir de junho. Além dos efeitos sobre empresas específicas, uma alta do dólar também costuma provocar mudanças de rumo do Índice Bovespa, o principal termômetro do mercado acionário doméstico. O dólar mais caro deixa a bolsa brasileira "mais barata" e abre espaço, portanto, para o estrangeiro vir ao mercado local. Embora esse movimento comprador tenha sido visto em alguns dias, segundo operadores, no geral não houve muito entusiamo do estrangeiro com a bolsa. Uma explicação para a defasagem da Bovespa, segundo os especialistas, é a estagnação no preço das commodities, produtos que respondem por boa parte da balança comercial do país e têm forte peso no Ibovespa. "Uma alta de 11% do dólar em dois meses tem efeito positivo sobre o Ibovespa, sim, mas que é mitigado pela queda nos preços das commodities", acrescenta Milane, da Santander. "Para comprar empresas que são beneficiadas pela alta do dólar, como as exportadoras de produtos básicos, o investidor precisa ter muita visibilidade no campo da demanda, o que não acontece agora, com China e Estados Unidos dando sinais confusos de recuperação econômica", diz. Quem quer aproveitar mudança no câmbio para investir em exportadoras não ligadas a commodities deve lembrar também que as perspectivas são de queda do dólar. Segundo o boletim Focus do Banco Central, as instituições financeiras projetam taxa de câmbio a R$ 1,80 em dezembro. Ou seja, abaixo do nível atual. "É prematuro falar em novo patamar", diz o economista da Banif Corretora, Mauro Schneider. Homero Guizzo, economista sênior da LCA Consultores, acredita em um dólar a R$ 1,75 em dezembro. "Com o governo deixando de atuar, retornam os fundamentos do mercado que têm contribuído para elevar o real nos últimos anos", diz.
A valorização do dólar no segundo bimestre do ano já está se refletindo nas ações negociadas na Bovespa. Em tese, um real mais barato torna a bolsa brasileira mais atrativa e beneficia os papéis de exportadoras com custos em moeda local. Na contramão, empresas com dívidas e gastos na moeda americana tendem a sofrer com a mudança no câmbio, que não foi suave. O dólar comercial bateu na mínima do ano (R$ 1,699) em 28 de fevereiro e, desde então, já subiu 11,07% (até o dia 27).
Os especialistas ouvidos pelo Valor citam pelo menos 17 ações que, pela própria natureza do negócios, estão mais propensas a sentir os efeitos - positivos e negativos - da valorização da moeda americana. Desse grupo de 17, 10 companhias já foram afetadas pela mudança de patamar do dólar nos últimos dois meses.
O melhor exemplo de companhia que sente realmente os efeitos do câmbio é Embraer, exportadora de aeronaves. A empresa disparou nos últimos dois meses, marcando alta de 29,60% entre 28 de fevereiro e 27 de abril, enquanto o Ibovespa recuou 6,47%. A Embraer exporta [receita em dólares], mas tem custos em reais", afirma o estrategista de ações da corretora do Credit Suisse, Andrew Campbell, ressaltando que a empresa ainda se beneficiou de vendas maiores de jatos.
A SLC Agrícola, também citada por Campbell, é outro exemplo de companhia beneficiada pela alta do dólar. O papel da companhia - produtora de commodities agrícolas (com foco em algodão, soja e milho) - subiu 20% no período.
Na contramão, estão Gol, cujos papéis acumulam queda de 33,18% de 28 de fevereiro a 27 de abril, e Suzano, com desvalorização de 13,50%. O estrategista da Santander Corretora, Leonardo Milane, explica que as aéreas, caso da Gol, têm os custos elevados para comprar querosene de aviação, um produto dolarizado, mas não conseguem repassar esses gastos às tarifas. Já a Suzano tem 41% da receita proveniente de exportações, mas 53% da dívida é dolarizada. Ou seja, no fim das contas, a alta da moeda americana é negativa para a empresa.
Do lado positivo, além da desvalorização do câmbio, algumas companhias exportadoras estão se beneficiando também de fatores internos. É o que ajuda a explicar outras altas fortes no período, como das ações da produtora de pastilhas e lonas para veículos Fras-le (+17,93%), a empresa de "call center" Contax (+20,15%) e a fabricante de ônibus Marcopolo (+19,64%).
O sócio da gestora de recursos Mauá Sekular Guilherme de Morais Vicente diz as companhias exportadoras de manufaturados têm chances de ganhar mais neste momento. Em primeiro lugar, porque não vendem commodities, cujos preços oscilam de forma mais aguda. Em segundo, porque, além do câmbio, estão se beneficiando de dois programas do governo federal de incentivo a indústria exportadora: o Reintegra e a desoneração da folha de pagamento.
O Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra) prevê a desoneração de resíduos de tributos indiretos (Cide, IOF, PIS, Cofins) sobre os produtos industrializados brasileiros exportados. "O pacote entrou em vigor em dezembro, mas a maioria das empresas ainda não contabilizou seus efeitos no balanço", observa Vicente.
A desoneração, diz Vicente, beneficia diretamente as exportadoras com mão de obra intensiva, caso da Contax, que presta serviços no exterior. O governo anunciou no começo de abril que vai desonerar a folha de pagamento de 15 setores, em uma renúncia fiscal que deve chegar a R$ 7,2 bilhões por ano. Está prevista a eliminação da contribuição previdenciária patronal de 20% sobre a folha e a cobrança será substituída por taxa de 1% a 2,5% sobre faturamento. A medida só valerá a partir de junho.
Além dos efeitos sobre empresas específicas, uma alta do dólar também costuma provocar mudanças de rumo do Índice Bovespa, o principal termômetro do mercado acionário doméstico. O dólar mais caro deixa a bolsa brasileira "mais barata" e abre espaço, portanto, para o estrangeiro vir ao mercado local. Embora esse movimento comprador tenha sido visto em alguns dias, segundo operadores, no geral não houve muito entusiamo do estrangeiro com a bolsa. Uma explicação para a defasagem da Bovespa, segundo os especialistas, é a estagnação no preço das commodities, produtos que respondem por boa parte da balança comercial do país e têm forte peso no Ibovespa.
"Uma alta de 11% do dólar em dois meses tem efeito positivo sobre o Ibovespa, sim, mas que é mitigado pela queda nos preços das commodities", acrescenta Milane, da Santander. "Para comprar empresas que são beneficiadas pela alta do dólar, como as exportadoras de produtos básicos, o investidor precisa ter muita visibilidade no campo da demanda, o que não acontece agora, com China e Estados Unidos dando sinais confusos de recuperação econômica", diz.
Quem quer aproveitar mudança no câmbio para investir em exportadoras não ligadas a commodities deve lembrar também que as perspectivas são de queda do dólar. Segundo o boletim Focus do Banco Central, as instituições financeiras projetam taxa de câmbio a R$ 1,80 em dezembro. Ou seja, abaixo do nível atual. "É prematuro falar em novo patamar", diz o economista da Banif Corretora, Mauro Schneider.
Homero Guizzo, economista sênior da LCA Consultores, acredita em um dólar a R$ 1,75 em dezembro. "Com o governo deixando de atuar, retornam os fundamentos do mercado que têm contribuído para elevar o real nos últimos anos", diz.
FONTE: Valor Econômico