Brasília terá a maior sala vip da AL

A nova concessionária do aeroporto de Brasília prepara um pacote de ações de "curto prazo", com investimento inicial de pelo menos R$ 10 milhões, como sua primeira intervenção ao assumir as operações. O plano envolve um conjunto de medidas imediatas: revitalização dos banheiros, reforma da cobertura para acabar de vez com as goteiras, reparo de todas as escadas rolantes quebradas, implantação de um elevador adicional próximo à área de embarque, troca dos carrinhos de bagagem e uma nova identidade visual (o que abrange mudanças de painéis e letreiros). Esse "banho de loja" começa daqui a aproximadamente 30 dias e é apenas para dizer que o grupo vencedor do leilão de concessão em fevereiro, formado pela brasileira Infravix e pela argentina Corporación América, chegou de vez ao aeroporto. Simultaneamente, começa um "fast-track agressivo" para iniciar obras de ampliação até dezembro e chegar à Copa do Mundo de 2014 com capacidade para atender a 22 milhões de passageiros por ano, segundo José Antunes Sobrinho, presidente do conselho de administração da Inframérica, a nova concessionária. Os investimentos na primeira fase de obras devem alcançar R$ 650 milhões e implantar a "maior sala vip da América Latina" no segundo andar do terminal, com um conceito inédito no Brasil, permitindo o acesso a essa área nobre não só por convite das empresas aéreas - viajando, por exemplo, de classe executiva -, mas também por meio de uma taxa cobrada de qualquer cliente interessado em usufruir do serviço. A área prevista para os "vips" supera dois mil m2, mas o tamanho exato depende de aprovação do projeto pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Privilegiando o uso de vidro para aproveitar a iluminação natural e pé-direito mais alto para permitir uma "convivência harmônica" dentro do terminal, além de ousadia na jardinagem, o projeto básico da expansão do aeroporto está em fase adiantada. Ele prevê a construção de dois píeres - um em cada ponta do terminal existente -, aumentando de 13 para 28 o número de pontes de acesso aos aviões. Os corredores desses píeres terão mezaninos com lojas e lanchonetes, além de esteiras mecânicas para facilitar o trânsito de passageiros. No embarque, o check-in será compartilhado, sem guichês fixos por empresa. Na hora do desembarque, a bagagem poderá ser retirada em esteiras "americanas", que são inclinadas e permitem o recolhimento das malas com mais comodidade. Do lado de fora, o estacionamento mais do que dobrará de tamanho, atingindo 3 mil vagas. A chegada ao terminal ganhará uma faixa adicional - no piso superior (embarque) e no inferior (desembarque) - para a circulação de veículos e o sobe-e-desce de passageiros. As duas pistas do aeroporto, separadas por uma distância de 1.300 metros, já funcionam de maneira independente. Hoje, no entanto, cada uma só tem uma função durante a maior parte do tempo: pousos ou decolagens. Com a construção de saídas rápidas, o uso será otimizado, com aviões subindo e descendo em ambas as pistas e uma diminuição dos intervalos nas operações. Até 2016, englobando já a segunda fase de obras, os investimentos chegam a R$ 1,1 bilhão e elevam a capacidade do aeroporto para 24 milhões de passageiros por ano. Hoje, o limite é para 14 milhões de passageiros. "É um fast-track agressivo. Temos um projeto básico bastante adiantado. O BNDES conhece muito bem o grupo Engevix e buscamos a liberação do financiamento (às obras do aeroporto) ainda neste ano", disse Antunes ao Valor, em uma sala apertada que faz as vezes de escritório provisório da Inframérica, enquanto a Infraero não passa totalmente o bastão à nova concessionária. Ao lado dele, durante a entrevista, estava o vice-presidente da Infravix, que tem tocado o dia-a-dia do projeto: Antonio Droghetti Neto. "Migrar toda a parte de tecnologia da informação, de recursos humanos e de contratos representa um trabalho hercúleo. Mas o que pudermos fazer para acelerar, estamos fazendo", completou Antunes. Nos primeiros três meses de operação, o comando do aeroporto fica com a Infraero e a concessionária acompanha a administração. Nos três meses seguintes, os papéis se invertem: a Inframérica é quem gere o aeroporto, com acompanhamento da estatal. Só depois disso a operação passa a ser inteiramente privada. Os contratos de aluguel de áreas comerciais com varejistas no aeroporto serão honrados até o final do período. Depois, a renovação será discutida caso a caso, obedecendo ao novo "mix" de lojas que a Inframérica pretende implantar em Brasília. Para saber o que desejam os passageiros, a concessionária concluiu uma pesquisa com dez mil entrevistas.

QUEDA FORTE DE JUROS TRAZ MAIS RISCOS À RENDA FIXA

Um ano de queda dos juros trouxe volatilidade ao universo até então bem comportado dos fundos de renda fixa, cujos rendimentos passaram a oscilar tanto quanto os arriscados fundos multimercados. Desde que o Banco Central surpreendeu os mercados em agosto de 2011 com um corte na taxa básica de 0,5 ponto percentual, um novo padrão passou a reger a renda fixa. Fundos dessa categoria que acompanham índices passaram a se mover como a renda variável - e ofereceram retornos acumulados bem acima da média. No ano, eles alcançam 13,72%, muito acima do CDI, de 5,71%, e só perdem para os fundos de dividendos, com ganhos de 15,1%. A performance, porém, mudou no meio do caminho e já em junho fecharam com perda de 0,08% O clima de relativa tranquilidade nos mercados neste mês de agosto em nada lembra o que se viu exatamente um ano atrás. Aquele agitado agosto de 2011, que já havia começado com as bolsas despencando após a histórica perda do triplo A da dívida soberana dos Estados Unidos, contou com emoções igualmente fortes no mercado de renda fixa brasileiro, com marcas que permanecem até hoje e, acreditam alguns, vieram para ficar. Um ano após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) surpreender a todos os analistas com um corte na taxa básica de juros, a Selic, da magnitude de 0,5 ponto percentual, o que se observa é que a renda fixa passou a seguir um novo padrão, muito mais volátil. Os gráficos ao lado mostram como oscilou o principal referencial para fundos de renda fixa compostos por papéis que pagam um taxa pré mais correção pela inflação, o Índice de Mercado Anbima B (IMA-B), que mede a variação de uma carteira composta por NTN-Bs. Pela figura, é possível ver com clareza o aumento do vaivém diário. Levantamento do economista Marcelo d"Agosto, autor do blog "O Consultor Financeiro" do site do Valor, com base em dados da Economatica, mostra que o pico de volatilidade do IMA-B no período de 12 meses anteriores a agosto de 2011 (quando deu-se início o ciclo de corte de juro) - que foi de 4,5% ao ano - praticamente virou piso nos 12 meses seguintes. Desde agosto do ano passado, a menor volatilidade registrada foi de 3,4% e a maior, de 12,54% ao ano. O mesmo vale para o Índice de Renda Fixa de Mercado (IRF-M), composto por títulos prefixados, só que em magnitude menor. Isso se refletiu nos fundos disponíveis para os investidores, sobretudo os da categoria renda fixa índices, que passaram a oscilar nos moldes da renda variável, mas - detalhe importante - oferecendo retornos acumulados muito acima da média da indústria. No ano, a categoria renda fixa índices alcança rendimentos de 13,72%, muito acima do CDI, de 5,71%, perdendo apenas para os fundos de dividendos, que registram ganho de 15,1%. No meio do caminho, no entanto, os renda fixa índices tiveram variação negativa e chegaram a fechar o mês de junho no vermelho, com perda de 0,08%. Em outro estudo, d"Agosto mostra que a volatilidade média dos fundos de renda fixa como um todo, que era de 0,5% ao ano em junho de 2011, triplicou para 1,54% atualmente. Porém, se considerados os chamados renda fixa "ativos", entre os quais se inclui a categoria índices, o aumento é ainda maior: a volatilidade saiu de 1,2% para 4,1% em um ano. Para se ter uma ideia do que isso significa, o especialista mostra que, no mesmo período, os fundos multimercados saíram de uma volatilidade média anual de 3,39% para os atuais 3,51%. Para Eduardo Castro, superintendente-executivo de fundos da Santander Asset, há hoje um movimento claro de diferenciação em termos de risco entre a renda fixa e os fundos DI (mais conservadores) que veio para ficar. E o IMA-B representaria o extremo em termos de volatilidade. "De um ano para cá me arrisco a dizer que, na média, a volatilidade da indústria de renda fixa, ou seja, daqueles fundos que o investidor pode comprar nas agências deve ter dobrado", diz. "Mas dobrou tendo como base um ambiente anterior de volatilidade mais baixa, em que havia pouca diferenciação da renda fixa com relação aos fundos DI". Entre os especialistas, a avaliação é que essa volatilidade - e os retornos excepcionais na renda fixa que vieram junto com ela - é resultado de uma conjunção de fatores bastante específicos, que teve início quando o BC surpreendeu o mercado, em agosto do ano passado. "Isso gerou toda sorte de especulação, deixou o mercado perdido", diz o economista-chefe da JGP, Fernando Rocha. O próprio Banco Central, segundo ele, foi mudando o discurso após o início do ciclo de queda, por conta dos sinais de que a economia estava muito mais fraca do que ele e o mercado projetavam. "Todas essas idas e vindas se refletiram no aumento da volatilidade nos fundos de renda fixa". Mas isso, associado ao movimento forte de queda de juros, acabou gerando oportunidades e ganhos polpudos também. Conforme destaca o gerente de renda fixa da BB DTVM, André Abreu, nos últimos 12 meses, o mercado só experimentou a "volatilidade boa". Daqui para frente, não há dúvidas entre os especialistas que o país vai conviver com juros menores. E isso, claro, vai ter impacto na vida dos investidores. "Nossa visão é que para a realidade de juros a 12%, 15% ao ano não voltamos mais. Talvez nem 10%, ainda que tenhamos novas altas", diz Guilherme Abbud, responsável pela área de renda fixa da Western Asset. João Scandiuzzi, estrategista-chefe da a asset do BTG Pactual, avalia que o amadurecimento do ciclo de crédito brasileiro e a queda expressiva do desemprego são argumentos importantes a favor da queda estrutural dos juros. Ele não descarta a possibilidade de novas altas, especialmente em razão da recuperação econômica esperada para o próximo ano, mas devem ser moderadas. Na mesma linha, o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt, diz que a queda do juro veio para ficar. A administração de [Alexandre] Tombini à frente do Banco Central apenas acelerou o processo de queda da taxa em função da crise externa, mas as condições já eram compatíveis com esse novo padrão." Embora a percepção seja de juros estruturalmente mais baixos, o consenso é de que o que se viu na renda fixa nos últimos 12 meses - volatilidade elevadíssima e retornos turbinados - não deve se repetir. Rocha, da JGP, acredita que a volatilidade observada nos últimos meses tende a diminuir porque o período de extremo ajuste ao novo patamar de juro passou. Ainda segundo ele, mesmo que a Selic volte a subir, por conta de uma inflação e atividade mais pressionadas, a alta esperada é relativamente pequena. Para o economista e chefe de estratégia de renda fixa para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, parte da volatilidade está associada ao ciclo de queda do juro, mas o cenário externo tem um peso relevante. "Vivendo em um mundo mais incerto, é natural que a volatilidade seja maior. E o Brasil está inserido no contexto global", diz. Quanto aos ganhos, Abbud, da Western, lembra que o investidor deve ter consciência de que parte importante do movimento já aconteceu. "Na nossa visão, são os títulos mais longos que ainda mostram espaço para ganhos de capital", diz. "Nos fundos com exposição a taxas muito curtas, talvez o bonde já tenha passado", complementa. Para Rocha, da JGP, as oportunidades, que ficaram mais escassas, estarão em operações de giro de carteira e táticas (ligadas a movimentos de curto prazo). Do lado do investidor, diz Castro, da Santander Asset, a percepção é que ele está aprendendo a aceitar essa maior volatilidade desde que acompanhada de um rendimento maior também. Abreu, da BB DTVM, concorda. Ele ressalta que, com a queda do juro, os investidores passaram a admitir aplicações que antes eram consideradas muito arriscadas, como títulos pré, atrelados à inflação e de crédito privado, aceitando assim mais oscilação. Nesse novo cenário, complementa Abreu, é possível esperar um pequeno aumento da volatilidade nos fundos, inclusive nos mais conservadores, como os DIs, com a alocação em crédito privado, e o aumento da oferta de produtos, com alternativas mais agressivas. "Hoje, uma cota negativa já não causa mais tanta comoção", diz. Para Marcelo d"Agosto, ao investidor cabe entender que o que tínhamos antes é que estava fora da realidade da maioria dos países e que, de agora em diante, sem riscos não existirão ganhos. "E se você sabe que pode manter o papel até o vencimento, a volatilidade não te afeta. No caso dos fundos, os ganhos com uma gestão mais ativa podem valer o risco". (Colaboraram Catherine Vieira e Luciana Seabra)

Dólar sobe no Brasil e ignora cena externa

O câmbio foi um dos mercados que mostraram reação mais firme às discussões sobre adoção de novas medidas de estímulo pelo Federal Reserve (Fed), banco central americano. O assunto voltou à pauta com o conhecimento do teor das discussões dos 12 membros do colegiado na reunião do dia 1º de agosto. O euro foi destaque ao sair da estabilidade para alta assim que saiu a ata do Fed. No fim do dia, a moeda comum apontava valorização de 0,36%, a US$ 1,251, maior preço desde o começo de julho. Já o Dollar Index, que mede o desempenho da divisa americana ante uma cesta de moedas, caiu 0,47%, a 81,53 pontos, menor leitura desde a virada de junho para julho. A mensagem que chega ao mercado é de que o Fed está, mais uma vez, prestes a ligar a impressora de dólares. E quando a oferta sobe, o preço cai. A palavra, agora, está com Ben Bernanke, presidente do Fed, que fala sobre política monetária na próxima semana. Sem surpresa, essa movimentação do euro e de outras moedas não chegou por aqui. O dólar operava com leve alta antes da divulgação do documento, às 15 horas, e assim permaneceu. No fim do pregão, o dólar comercial mostrava leve valorização de 0,05%, a R$ 2,019, depois de subir a R$ 2,024 (+0,30%). De acordo com gestor da Vetorial Asset, Sérgio Machado, se não fosse a preocupação com atuações do Banco Central (BC) o dólar teria caído com força. Para um tesoureiro, o BC afirmou o piso do dólar em R$ 2 com a oferta de swaps reversos (que equivalem à compra de dólar futuro) anunciada na terça-feira. Ontem, a autoridade monetária não veio a mercado. O BC ofertou 50 mil contratos de swap com vencimento em 3 de setembro, mas apenas 7 mil foram tomados, movimentando US$ 350 milhões. Ainda de acordo com o tesoureiro, se a ideia do governo é usar o dólar como forma de estimular o lado produtivo da economia, a estratégia estaria funcionando. Mais importante do que uma linha de preço é a previsibilidade da taxa de câmbio para quem precisa calcular custos e planejar investimentos. Por outro lado, um mercado de moeda com atuações e restrições ao capital externo perde volume de negócios e volatilidade. Sem essas duas variáveis, cai o apelo para se operar nesse mercado. O ponto negativo é que um mercado de baixa liquidez tem pobre formação de preço.

Inflação de agosto traz alta

Pressão dos transportes e dos alimentos eleva o IPCA-15, que antecipa o índice do mês, para 0,39%, depois de 0,33% em julho O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem a prévia da inflação de agosto, que ficou acima da expectativa dos analistas de mercado. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) fechou em 0,39%. Em julho, ficou em 0,33%. A aposta do mercado para agosto era de 0,36% em média. O IPCA-15 é levantado entre o dia 15 de um mês e o dia 15 do mês seguinte. Antecipa, portanto, o IPCA do mês cheio. No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA-15 registrou alta de 5,37%, também acima dos 5,24% registrados nos 12 meses até julho. Afasta-se do centro da meta de inflação do governo, de 4,5% pelo IPCA. Isso coloca dúvidas, segundo analistas, sobre a disposição do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de manter os cortes na taxa básica de juros, a Selic, nos próximos meses. Segundo o IBGE, os principais vilões dos preços neste mês foram os grupos Transportes e Alimentação e Bebidas. O primeiro havia registrado queda de 0,59% em julho e, em agosto, apresentou estabilidade. O movimento no período veio do valor dos automóveis novos (-2,47% para 0,04%) e passagens de ônibus interestaduais (1,49% para 3,40%). Analistas já esperavam que esse segmento parasse de ajudar no indicador de inflação pelo fim do efeito das recentes reduções feitas pelo governo nas alíquotas do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para o setor automotivo. O grupo Alimentação e Bebidas, embora tenha desacelerado de 0,88% em julho para 0,76% em agosto, ficou com a maior alta entre os componentes no IPCA-15 deste mês. Produtos agrícolas não processados tiveram os maiores reajustes. O economista Thiago Curado, da Consultoria Tendências, destaca que os preços dos alimentos devem continuar chamando a atenção nos próximos meses, principalmente diante da quebra das safras de soja e de milho nos Estados Unidos. "Isso deve ser repassado em setembro e outubro via preços de carnes", disse ele. O resultado do IPCA-15 confirma a aceleração nos preços nas últimas semanas, como já vinham sinalizando vários indicadores de inflação. Entre eles, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M), que registrou alta de 1,38% na segunda prévia de agosto, em comparação com 1,11% no mesmo período de julho. » Dúvidas sobre os juros A recente pressão sobre os preços está deixando parte dos agentes econômicos em alerta quando o assunto é mais cortes, a médio prazo, na taxa básica de juros. Para a próxima semana, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne novamente, as apostas continuam de que a Selic, hoje em 8% ao ano, será reduzida para 7,5%. Sobre os passos seguintes, porém, o mercado se mostra dividido. Há quem aposte em mais uma redução de 0,25 ponto percentual em outubro, o que levaria a taxa básica de juros a 7,25%, e outros que apostam em estabilidade.

Brasil relaxou no controle da Aids

Manifesto lançado ontem por 14 instituições e 54 pesquisadores e ativistas do movimento anti-Aids aponta sérios problemas no controle da epidemia da doença no país. Entre eles estão o aumento no número de casos e de mortes. Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de casos passou de 33.166, em 2005, para 37.219, em 2010 (aumento de 12%). No mesmo período, as mortes pularam de 11.100 para 12.073 (aumento de 8,8%). "Não é uma situação esperada. Com a melhoria do tratamento, deveríamos estar reduzindo o número de óbitos. Se tivéssemos uma política de prevenção efetiva, não teríamos tantos casos novos", afirma Alexandre Grangeiro, pesquisador da USP que assina o manifesto. O diagnóstico tardio, verificado em mais da metade dos pacientes, é apontado como a principal causa para o aumento de mortes. "Uma pessoa sem tratamento tem mais risco de morrer e de transmitir o vírus para outras. Em tratamento, ela reduz em 94% as chances de infectar outras pessoas." Segundo Grangeiro, o Brasil tem uma epidemia muito específica, com 90% dos casos concentrados em 400 municípios, e um crescente aumento de casos entre a população jovem, que está iniciando a vida sexual. Para Vera Paiva, coordenadora do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids (USP), é preciso reverter a "banalização" da Aids. "Os pesquisadores estão mostrando que o povo acha que não precisa mais usar camisinha, que é coisa de gente velha. E o vírus parou de circular? De jeito nenhum." Paiva afirma que é preciso baixar a curva da doença, estabilizada em patamar mais alto do que deveria, em sua avaliação. E que essa é uma questão a ser resolvida por diferentes governos. "Não é um problema específico do governo federal, é nacional." CRÍTICAS Considerado uma referência mundial, o programa brasileiro de DST/Aids tem sido bastante criticado. No mês passado, durante uma conferência internacional em Washington, pesquisadores fizeram alertas sobre a falta de médicos, leitos e exames para os pacientes com HIV e de medicamentos para tratar doenças causadas pelos antirretrovirais. Durante o evento, o coordenador de HIV/Aids da Opas (Organização Panamericana da Saúde), Massimo Ghidinelli, disse que o aumento da pressão de grupos religiosos e a redução das campanhas de prevenção dedicadas às populações de maior risco são a principal ameaça ao programa brasileiro. "O programa precisa mudar e se adaptar rapidamente a esses novos desafios da epidemia e manter um grande enfoque nas populações vulneráveis", afirmou. Secretário diz que número de casos é estável O secretário de vigilância em saúde do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, questionou a leitura dos dados da Aids feita pelo manifesto. "O óbito aumentou entre aspas. A população aumentou, então a taxa de mortalidade está estabilizada." Ele faz o mesmo raciocínio para o número de casos da doença e diz que a taxa de incidência caiu nitidamente no Sudeste, onde a epidemia está consolidada. E isso, continua, mesmo com o maior número de testagens feitas para o HIV. Sobre o percentual de gestantes com o vírus em tratamento, Barbosa afirma que dados de 2011 mostram que também há estabilidade. Ele diz que é preciso fazer uma análise epidemiológica mais aprofundada dos números. E argumenta que os dados da doença no Brasil são bons frente a países com características semelhantes. Segundo o secretário, a política de Aids é aberta no país, discutida periodicamente com especialistas e a sociedade civil. "Algumas questões que eles colocam como inquietações são compartilhadas, estamos fazendo políticas para atendê-las." As preocupações, diz, são a aproximação com os grupos mais vulneráveis (como jovens gays) e testes precoces para a doença. (Fonte: Folha de S.Paulo)

Saúde não é linha de montagem de automóveis

Não parece razoável que um país onde se trabalha cinco meses do ano para pagar impostos as pessoas continuem a arcar diretamente com mais de 50% dos gastos totais com saúde. Isso ocorre no Brasil e em apenas outras 30 nações, a maioria pobre, apontou a Organização Mundial de Saúde (OMS), em levantamento divulgado no primeiro semestre deste ano. Infelizmente, as estatísticas comparativas revelam outras distorções. O Brasil é a sétima maior economia do mundo, mas as verbas públicas que destina ao setor de saúde equivalem a menos da metade da média anual. Ou seja, a despeito de impor aos seus contribuintes uma pesada carga tributária, de quase 30% do Produto Interno Bruto (digna das desenvolvidas nações escandinavas), o Estado brasileiro não faz os investimentos necessários no setor. Enquanto a média mundial de gastos públicos no setor é de 14,3%, no Brasil ela é de ínfimos 5,9% Enquanto a média mundial de gastos públicos com a saúde é de 14,3%, no Brasil ela é de ínfimos 5,9%, inferior mesmo até a média do continente africano, de 9,6%. Houve avanços, registre-se, pois em 2000 essa proporção de gastos na saúde equivalia a modestos 4,1% do orçamento público global. Mas a melhora é insignificante se considerados os desafios a enfrentar. O escasso investimento público é o que impõe à população um maior desembolso. Essa omissão também explica uma disparidade estatística: a baixa relação entre número de leitos hospitalares e número de habitantes, uma distorção que ganha contornos de crueldade se considerarmos a enorme demanda por serviços de saúde, sobretudo nos segmentos de menor renda e as classes médias ascendentes, que também usam a saúde suplementar, e a dificuldade de acesso da grande maioria da população. Existem no país 26 leitos para cada grupo de 10 mil pessoas, contra uma média mundial que é de 30/10 mil, sendo que, na Europa e nos Estados Unidos, a disponibilidade é mais de três vezes superior à brasileira. Nada menos do que 80 países apresentam indicadores dessa relação melhores do que o Brasil, o que não deixa de ser um dado ainda mais vergonhoso se lembrarmos que ocupamos a 7ª posição entre as economias mais ricas do planeta (medida pelo tamanho do PIB). Os gastos públicos com saúde por habitante no Brasil - assinala a OMS - são de US$ 320,00 anuais, enquanto a média anual é de US$ 549,00 (se consideramos os países de Primeiro Mundo, mais uma vez gastos são dez vezes maiores do que os brasileiros). Um dado em que o Brasil aparece bem, melhor ao menos do que a média global, é o número de médicos por habitante. Há 17,6 médicos para cada grupo de 10 mil pessoas no Brasil, contra 14 por 10 mil na média planetária. Mas também neste aspecto há uma distorção gritante, pois enquanto regiões mais desenvolvidas, como as principais capitais, essa relação é favorável, na maior parte dos municípios das Regiões Norte e Nordeste, ou mesmo nas periferias, onde se encontram os contingentes mais pobres da população, ela está muito aquém da média mundial. Tricia Shay Photography/Getty Images Mesmo a taxa de 17,6 profissionais para cada grupo de 10 mil habitantes, ainda que superior à média mundial, pode ser considerada ruim, se a comparação for feita com os países da Europa Ocidental, onde a relação médico/indivíduo é o dobro da verificada aqui. A constatação óbvia é que temos um PIB de primeira, com serviços de saúde que ainda deixam muito a desejar. Tudo isso considerado, devemos passar a ter cada vez mais cuidado com os recorrentes alertar quanto à necessidade de se melhorar a produtividade nos serviços de saúde, em especial aqueles serviços relacionados ao sistema suplementar (privado). Os ganhos em produtividade são, evidentemente, indispensáveis, e devem estar aliados a uma série de outras providências, ações e programas relacionados à gestão dos recursos (tantos os financeiros quanto os humanos). Portanto, tem sem dúvida razão quem reclama da falta de melhor gestão nos hospitais públicos. Estão igualmente no caminho correto os gestores do sistema suplementar (rede privada) quando estabelecem modernos procedimentos, normas e parâmetros visando a agilizar o atendimento, reduzir as filas e melhorar o desempenho da organização. Mas não podemos perder de vista que os serviços de saúde, por razões inerentes ao seu objeto, têm natureza singular. A fila de atendimento no Pronto Socorro de um hospital - seja público ou particular - não pode ser equiparada à linha de montagem de uma montadora de veículos - ainda que o objetivo dessa insólita analogia, tão divulgada na mídia recentemente por uma grande rede de hospitais privados - seja agilizar os processos. As estatísticas mostram que faltam investimentos públicos em saúde no Brasil. A pressão sobre a rede suplementar, com aumento de filas, é resultado dessa omissão. É legítimo que, neste contexto, hospitais particulares queiram aperfeiçoar seus procedimentos - desde que não percam de vista a qualidade dos serviços e a natureza dos mesmos, onde a vida humana é a exclusiva razão de ser. Mas é igualmente legítimo que, como profissionais do ser ou meros contribuintes, passemos a cobrar do Poder Público investimentos em saúde compatíveis com os desafios que enfrentamos e com a força de nossa economia. Sem que isso signifique ignorar o relevante e imprescindível papel que o segmento privado pode e deve continuar a desempenhar. Paulo Romano é médico e membro do Conselho Nacional de Saúde (CNS) e da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

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