Por Murilo Rodrigues Alves e Fernando Exman | De Brasília
Empossado ontem ministro dos Transportes, César Borges personifica o retorno do PR ao primeiro escalão do governo da presidente Dilma Rousseff. Mas ambos nem sempre foram aliados. Antes de filiar-se ao PR, Borges integrou o PFL e sua atuação como senador pela Bahia foi de oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva. Anos depois, no entanto, sua nomeação como vice-presidente de Governo do BANCO DO BRASIL foi vista no Palácio do Planalto como uma solução para a disputa entre as diferentes alas da instituição financeira e recompensar o PR pelas demissões feitas no Ministério dos Transportes. Agora, a atuação de César Borges nas negociações sobre a elevação dos limites de endividamento dos Estados é vista como uma das credenciais que levaram o ex-senador a assumir a Pasta.
Como vice-presidente de Governo do BANCO DO BRASIL, César Borges usou sua experiência de ex-governador da Bahia (1998-2002) para gerenciar as negociações com os Estados que tiveram os limites de endividamento elevados dentro da revisão do Programa de Reestruturação e Ajuste Fiscal (PAF) para o período 2012-2014. Assim que entrou no BB, ele presenciou a assinatura do contrato de R$ 3,645 bilhões para o financiamento de obras de infraestrutura entre o banco e o Estado do Rio de Janeiro, o qual já tinha sido concretizado na gestão anterior. Em pouco mais de dez meses no cargo, Borges conseguiu fechar com Minas Gerais um contrato no mesmo valor e avançou nas negociações com mais oito Estados. O Valor apurou que essas propostas estão em processo de finalização no BB e totalizam cerca de R$ 12 bilhões.
Atuando praticamente como relações públicas do banco entre governadores e secretários de Fazenda, Borges conseguiu que o BB administrasse as prioridades com esses clientes e assegurasse que as administrações estaduais apresentassem as condições exigidas pela instituição. Além da expertise política, o atual ministro dos Transportes também contribuiu com sua formação como engenheiro civil. A maior parte dos recursos negociados será aplicada em obras de infraestrutura urbana e mobilidade.
César Borges também chegou ao BB sem o respaldo total de seu partido. Dilma queria contemplar o PR, que estava insatisfeito com a perda de espaço no governo e a demissão do ex-ministro dos Transportes Alfredo Nascimento devido a denúncias de irregularidades. No entanto, a cúpula da sigla fez questão de ressaltar que a presidente estava cumprindo um compromisso assumido diretamente com Borges na campanha eleitoral de 2010.
No BB, Borges assumiu o lugar de Ricardo Oliveira, apontado no governo como um dos responsáveis por alimentar a guerra entre o presidente do banco,ALDEMIR BENDINE, e o presidente da PREVI, Ricardo Flores. Para o governo, foi Oliveira quem vazou informações à imprensa, em fevereiro do ano passado, sobre o ex-vice presidente do banco Allan Toledo, que foi investigado por movimentação financeira atípica. A troca foi a primeira medida do Executivo para encerrar essa disputa.
Há alguns anos, porém, a relação entre o então senador César Borges e o governo federal não era das mais amistosas. Aliado do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), Borges chegou a fazer críticas diretas a Dilma no período em que a presidente era ministra da Casa Civil. Em 2006, por exemplo, Dilma concedeu uma entrevista a um jornal da Bahia em que defendia as políticas do governo no Estado. Borges afirmou no plenário do Senado que a chefe da Casa Civil mentia e falava "parlapatices" com o objetivo de fazer campanha para o atual governador Jaques Wagner (PT). Segundo as notas taquigráficas, o ex-parlamentar também criticou o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), questionou a segurança energética do país e afirmou que o governo Lula não trabalhava para melhorar a infraestrutura baiana.