A elite do mercado financeiro traçou um quadro preocupante para a inflação. Seja qual for o eleito pelas urnas no domingo, o próximo presidente assumirá um país às voltas com uma carestia fora de controle. Nas estimativas das cinco instituições que mais acertam as projeções no boletim Focus, do Banco Central (BC), o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará o ano em 6,51%, acima do teto da meta de inflação (6,50%) pela primeira vez desde 2003.
“Será o teste de fogo para a próxima administração, seja ela de continuidade, seja de mudança”, observou o professor da Columbia University, em Nova York, Marcos Troyjo. Nos primeiros dias de janeiro, o novo chefe do Executivo terá de convencer empresários e consumidores de que o país retomará o rumo do crescimento sem, contudo, descuidar da inflação. Não será uma tarefa fácil.
Após a pausa de só uma semana, o mercado financeiro voltou a cortar a estimativa para a atividade econômica. Agora, as apostas são de que o Produto Interno Bruto (PIB) avance só 0,27% em 2014 — a mais baixa projeção para o crescimento neste ano. O cenário é ainda mais temerário se considerar que o PIB do país continuará em marcha lenta. Os analistas mantiveram a estimativa de expansão da economia no ano que vem em 1%.
A tarefa do BC de controlar os preços não será menor, pois, mesmo com um PIB enfraquecido e esperados cortes de gasto do governo, a inflação continuará em alta. A avaliação é que o IPCA avançará 6,3%, mais próximo da margem de tolerância do que do centro, de 4,5%.
Não por outro motivo, os analistas preveem nova temporada de alta dos juros básicos (Selic). Como as estimativas estão desencontradas, a mediana das apostas aponta para que a taxa saltará dos atuais 11% para 11,88%, até dezembro de 2015. O número indica falta de consenso a respeito da intensidade do ajuste, mas aposta generalizada de Selic alta em praticamente todo o ano.
Indefinição
É possível, no entanto, que haja nova correção desses números a partir das próximas semanas, após a definição do cenário eleitoral. “Tem muita gente esperando”, disse o chefe de análise da Alpes/Win corretora, Bruno Gonçalves, acrescentando que, até que haja um desfecho das urnas, será quase impossível prever qual a postura do governo com a inflação, em 2015.
Essa incerteza afeta também os negócios na bolsa de valores. “Assumir qualquer posição agora, tanto de compra ou de venda de ações, é arriscado”, disparou. Bruno calcula que o volume negociado deverá cair dos atuais R$ 10 bilhões para R$ 6 bilhões, mais perto da média histórica em vigor desde 2007.
A mesma cautela deverá interferir na cotação do dólar, oscilando sem direção aparente nos próximos dias, reagindo às tensões externas e à indefinição no quadro eleitoral. “Voltamos a ratificar a avaliação de que os movimentos da política monetária nos Estados Unidos continuarão ditando a trajetória do câmbio”, escreveu o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, em análise a clientes.
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