O desequilíbrio financeiro da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil (Cassi) acendeu a luz amarela na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). No mês passado, a ANS encaminhou à Cassi ofício para solicitar esclarecimentos e cobrar providências urgentes, a fim de solucionar o déficit milionário acumulado pela Caixa de Assistência nos últimos anos.
Na resposta que prepara à ANS, a Cassi afirma ter adotado ações para resolver as dificuldades financeiras. “A Diretoria Executiva esta empenhada na busca de soluções e vem se articulando, tanto internamente quanto com órgãos representativos de seus Associados e também junto ao seu patrocinador”, diz a Caixa de Assistência.
Comunicado emitido pela diretoria de Gestão de Pessoas (Dipes) do BB, no último dia 15, destaca que, a partir do ofício da ANS, será exigida a “adoção de medidas no curtíssimo prazo, além das ações estruturantes que o corpo de associados precisa escolher para garantir a sua sustentabilidade”.
No texto, a Dipes reconhece que as contribuições extraordinárias feitas pelo BB e pelos associados não têm sido suficientes para promover o equilíbrio financeiro do Plano de Associados. Esta informação havia sido adiantada na edição de dezembro do informativo “Em Dia”, publicado pela AFABB-DF, a partir de estudo realizado pelo diretor de Relações Institucionais da Associação, Mário Simões Tavares.
No comunicado emitido este mês, a Dipes aponta que o déficit operacional do Plano de Associados, em 2016, alcançou R$ 200 milhões. No ano passado, a situação deficitária se repetiu, com déficit operacional, até outubro, que soma R$ 161 milhões
A diretoria do BB atribui a dificuldade de superar o desequilíbrio financeiro ao aumento das despesas assistências (hospitais, exames, internações, terapias etc.), que cresceram 17,5% entre janeiro e novembro do ano passado, se comparadas ao mesmo período em 2016.
A Dipes aponta ainda que está em fase de finalização um diagnóstico elaborado pela Consultoria Accenture, empresa contratada para analisar o comportamento da Caixa de Assistência. No documento, foca sua avaliação em três pilares relevantes: a Cassi e os planos de mercado; o desequilíbrio financeiro; e a melhoria da eficiência e da qualidade dos serviços.
Na avaliação do presidente da AFABB-DF, Arnaldo Fernandes de Menezes, a comparação entre a operadora Cassi (autogestão, sem fins lucrativos) com planos de mercado que priorizam o lucro não parece isenta nem coerente. “São entidades com objetivos díspares”, diz.
“A AFABB-DF tem apontado que o desequilíbrio financeiro e a melhoria da eficiência e qualidade de serviços estão afetos à sistemática do custeio – ou seja, receitas atreladas a percentuais de proventos e benefícios de aposentadorias e pensões, e despesas ajustadas por índices inflacionários específicos de serviços médicos – e à gestão e governança”, acrescenta Fernandes.
O presidente da AFABB-DF sublinha que, em sua estrutura de governança, a Cassi conta com um presidente, três diretores, 16 conselheiros deliberativos e oito conselheiros fiscais. Metade é indicada pelo banco e os outros 50%, eleitos pelos associados.
“Essa respeitável estrutura não conseguiu estancar os desequilíbrios financeiros da entidade desde 1997, endêmicos desde 2012. Nem alertou com transparência o Corpo Social, como tinha a obrigação de fazê-lo”, questiona Fernandes.
“Também não evitou a dilapidação das reservas técnicas livres. E somente agora o patrocinador reconhece que a comunidade Cassi ‘encontra-se diante do desafio de alcançar o equilíbrio financeiro do Plano de Associados’. Fica a impressão de que se quer transferir praticamente toda a responsabilidade pela situação ao corpo de associados”, pontua o presidente da AFABB-DF.
Fernandes lembra que, diante desse cenário, as entidades representativas do pessoal em atividade, aposentados e pensionistas (Contraf-CUT, Contec, FAABB, AAFBB e ANABB) solicitaram reunião extraordinária com o patrocinador e a Cassi, inicialmente agendada para o próximo dia 6 de fevereiro, para avaliação de informações e dados.
“Esse contexto e seus desdobramentos está a exigir o atento acompanhamento de todos os associados. O que se espera é uma solução que respeite os direitos do Corpo Social, resgate a sustentabilidade da Cassi e preserve a qualidade do atendimento à nossa saúde e à dos nossos familiares”, defende Fernandes.
Leia abaixo o inteiro teor do comunicado do banco.
ASCOM AFABB-DF
Boletim Pessoal
O valor da Cassi
Colega
O Boletim Pessoal prossegue com os informes sobre a Cassi e, nesta edição, aborda temas do diagnóstico apresentado pela Consultoria Accenture, empresa que figura entre as maiores do mundo em consultoria a planos de saúde, com atuação em mais de 120 países. O diagnóstico ainda está em fase de finalização, mas é oportuno refletirmos sobre três aspectos relevantes: a Cassi e os planos de mercado; o desequilíbrio financeiro e; a melhoria da eficiência e da qualidade dos serviços.
A Accenture promoveu uma análise comparativa entre a Cassi (plano Associados) e os demais planos disponíveis no mercado. O diagnóstico aponta que a Cassi oferece uma cobertura de consultas, procedimentos médicos e exames acima da média do mercado, inclusive com coberturas adicionais ao rol de coberturas exigido pela ANS. Além disso, ao contrário da maioria dos planos, a Cassi disponibiliza a mesma cobertura e rede para todos os associados, sem qualquer distinção. Outro diferencial favorável à Cassi são os percentuais e os limites da coparticipação em consultas e exames. Embora os percentuais de coparticipação da Cassi sejam semelhantes aos do mercado, os critérios que limitam o valor de cobrança por associado diminuem muito a coparticipação efetiva, a valores inexpressivos na maioria das vezes. A coparticipação é uma estratégia importante adotada pelos planos de saúde, tanto para o uso mais equilibrado de exames e consultas, quanto como reforço à gestão do custeio.
O custo mensal médio pago por associado da Cassi é menor do que a média nos demais planos da amostra pesquisada: R$356,00 na Cassi contra R$509,00 nos planos. Entretanto, a forma de rateio utilizada pela Cassi leva à desproporção entre a contribuição média por titular/beneficiário e o seu custo assistencial por faixa etária e número de dependentes. De qualquer modo, podemos concluir que a Cassi oferece um conjunto de benefícios acima da média e custa menos aos associados.
Logo, a busca pela sustentabilidade da Cassi faz todo sentido e deve ser o propósito de todos. Mas é preciso reconhecer a necessidade imediata de reequilíbrio financeiro da Cassi. Os demonstrativos financeiros do plano Associados, de 2016, apontam receita operacional líquida de R$1,9 bi e custo assistencial e operacional de R$2,1 bi; perfazendo um resultado operacional deficitário da ordem de R$200 milhões. Em 2017, a situação deficitária se repete, com resultado operacional de R$161 milhões negativos (até outubro). As contribuições extraordinárias feitas pelo BB e associados (ressarcimento de R$23 milhões/mês pelo Banco e contribuição extraordinária temporária de 1% pelos associados) não têm sido suficientes para gerar equilíbrio financeiro do plano. As despesas assistenciais (custos com hospitais, exames, internações, terapias, programas, etc.) cresceram 17,5% no período de janeiro a novembro de 2017, comparadas ao mesmo período de 2016.
A propósito, a ANS encaminhou ofício à Cassi determinando a adoção de providências urgentes para solucionar desconformidades relativas à referida situação de desequilíbrio e comprometimento da solvência. Isso exigirá a adoção de medidas no curtíssimo prazo, além das ações estruturantes que o corpo de associados precisa escolher para garantir a sua sustentabilidade.
Toda a comunidade Cassi (associados, dirigentes, conselheiros e patrocinador) encontra-se diante de um enorme desafio: alcançar o reequilíbrio financeiro do plano Associados, mantendo a sua consistência como alternativa viável e duradoura para seus participantes, cuja faixa etária, neste ano, está acima dos 59 anos para mais de 30% deles. E esse comportamento populacional tende a se intensificar no futuro, com o aumento da expectativa de vida e o fato de que, em média, o associado da Cassi permanece no plano por 39 anos.
Como dissemos no boletim anterior, não há alternativa de solução que não vá exigir esforço, escolhas e renúncias, em todos os sentidos e por todos os intervenientes. Precisamos de soluções que elevem as receitas do plano, que reduzam as despesas, que melhorem a governança e a gestão e que aumentem a eficiência operacional e a qualidade dos serviços prestados. Há uma gama de possibilidades levantadas pela Consultoria que nos remetem a reflexões como: estabelecer a cobrança por dependentes? Elevar os percentuais de coparticipação? Mudar os parâmetros de custeio? Fazer a gestão do risco populacional? Melhorar as políticas de prevenção à saúde? Alterar o modelo de relacionamento negocial com os prestadores? Investir pesado em tecnologia da informação? Tornar mais efetivos os processos de gestão? Aprimorar o modelo de governança? Integrar melhor as CliniCassi com a rede credenciada? Diminuir despesas assistenciais e administrativas?
São questões que o corpo de associados necessitará responder, com o apoio dos estudos técnicos e a condução responsável de dirigentes, conselheiros e patrocinador, no propósito de exercitar a construção coletiva para o bem da comunidade Cassi, através de um diálogo aberto e propositivo entre a entidade e seus associados.
Até o próximo boletim.
Diretoria Gestão de Pessoas
José Caetano de Andrade Minchillo
Diretor
João Batista Gimenez Gomes
Gerente Executivo