Jornalista aborda abandono de idosos em coluna no Correio Braziliense

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O jornalista Ari Cunha tratou, em sua coluna “Visto, Lido e Ouvido”, publicada no Correio Braziliense, este domingo (18/10), de um tema preocupante e atual: o abandono de idosos. O colunista introduz o tema por meio de um relato sobre o filme “A Balada de Narayama”, de Keisuke Kinoshita, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1983.

 

            Ele conta a história de uma pequena aldeia, pobre, no interior do Japão feudal. Nela, a escassez de alimentos, aliada à tradição local, obriga que membros mais velhos de cada família sejam abandonados longe do povoado, a fim de que o deus da montanha se encarregue de consumir seus últimos dias.

            “Vale como pano de fundo para analisarmos o caso da velhice na nossa sociedade atual”, escreve o colunista. “Os asilos, chamados de Lar da Terceira Idade, representariam hoje o Monte Narayama, onde são deixados todos aqueles para quem não temos mais tempo”.

O presidente da AFABB-DF, Arnaldo Fernandes de Menezes, ressalta que o tema provoca reflexão.

            “É impensável admitir, sob qualquer argumento, que os valores humanos se deteriorem de tal forma que a sociedade possa banalizar, com fria crueza, este tema ― considerar os mais velhos como estorvo, descartáveis. É preciso respeito por aqueles que construíram o presente e legaram experiências e lições edificantes”, pontua Arnaldo.

Leia abaixo a íntegra da coluna.

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Guarde a sua vez

No filme Balada de Narayama, de Keisuke Kinoshita, ganhador da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1983, é apresentada uma pequena aldeia muito pobre, no interior do Japão feudal, onde a escassez de alimentos, aliada à tradição local, obriga que os membros mais velhos de cada família sejam levados para longe do povoado e deixados aos pés do Narayama, para que ali o deus da montanha se encarregue de consumir seus últimos dias. A personagem Orin, 70 anos, quebra seus dentes, num gesto simbólico mostrando não haver mais necessidade de se alimentar e, com isto, justificar sua partida ao Monte.

Dentro da perspectiva da cultura japonesa, o filme trata do encontro inevitável de todos com a velhice e a morte, diante da escassez de alimentos, opondo os conceitos de obrigação com os outros à obrigação consigo próprio. Instinto animal de sobrevivência e valores morais são postos à prova, e importa, acima de tudo, a questão do futuro.

Extremamente atual, o filme induz a reflexão acerca dos paradigmas sociais de ontem e de sempre, em face da luta pela subsistência. Transportado para nosso tempo e espaço, vemos que os valores humanos, conforme vão sendo testados pela realidade da escassez e da deterioração progressiva dos valores morais, mais e mais nos aproximam daquilo que somos na essência: animais racionais, porém igualmente animais.

Vale como pano de fundo para analisarmos o caso da velhice na nossa sociedade atual. Entre nós, a terceira idade vem como um traje andrajoso, que nos é trazido pelo tempo e, mesmo sendo recusado por muitos, acaba nos cobrindo dos pés à cabeça, identificando e marcando cada um com o sinal dos indivíduos descartáveis. Não importa em absoluto quem foram, o que construíram ou mesmo que lições passaram. Nos asilos, chamados de Lar da Terceira Idade, representariam hoje o Monte Narayama, onde são deixados todos aqueles para quem não temos mais tempo. Ou, mesmo simbolicamente, aqueles de quem tiram tudo o que construíram. Sorriem e gargalham e, ao virar as costas, descartam sem remorsos. Para uma sociedade consumista, afeita a valores de imediatos prazeres, não há lugar para personagens como Orin. Esquece-se de que o tempo passa para todos.

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