O presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, foi escolhido pela presidente Dilma Rousseff para substituir Graça Foster na presidência da Petrobras. Ele terá liberdade para formar equipe.
Bendine esteve à frente do BB desde 8 de abril de 2009, em substituição ao então chefe do banco Antonio Francisco de Lima Neto. Ele foi escolhido para o cargo na gestão do ex-presidente Lula para reduzir os juros do banco e aumentar o volume de crédito.
Na ocasião o mercado não gostou da mudança, e as ações do BB caíram 8,15% num dia em que a Bovespa subiu 0,82%. Investidores viram a troca como uma interferência do governo, que estaria insatisfeito com a demora do BB em reduzir suas taxas para estimular a economia e amenizar a crise de então.
Nesta sexta-feira (6), a indicação de Bendine também não agradou; as ações da Petrobras desabaram mais de 6% após a indicação de Bendine, que é funcionário de carreira do BB.
FINANÇAS
Ivan Monteiro, atual vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil, será onovo diretor financeiro da Petrobras, apurou a Folha. O cargo é chave para enfrentar a atual crise pela qual a petroleira passa.
Na quarta (4), Graça Foster e outros cinco conselheiros pediram demissão do cargo. O Conselho de Administração da companhia está reunido na manhã desta sexta-feira (6) para escolher os novos nomes da diretoria.
O conselho é composto por dez pessoas e é presidido por Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda. Ele está no conselho por indicação do acionista controlador, ou seja, o Tesouro Nacional –portanto, o governo. Os demais membros são conselheiros.
Graça Foster também participa. Confira os membros e quem elegeu cada um para ocupar o cargo:
- Guido Mantega, eleito pelo acionista controlador
- Maria das Graças Silva Foster, eleita pelo acionista controlador
- Luciano Galvão Coutinho, presidente do BNDES, eleito pelo acionista controlador
- Francisco Roberto de Albuquerque, eleito pelo acionista controlador
- Márcio Pereira Zimmermann, secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, eleito pelo acionista controlador
- Sérgio Franklin Quintella, eleito pelo acionista controlador
- Miriam Aparecida Belchior, ex-ministra do Planejamento, eleita pelo acionista controlador
- José Guimarães Monforte, eleito pelos acionistas preferencialistas
- Mauro Gentile Rodrigues da Cunha, eleito pelos acionistas minoritários
- Sílvio Sinedino Pinheiro, eleito pelos empregados
Dentre todos os problemas da Petrobras, o mais urgente nó a ser desfeito pela nova diretoria da Petrobras é a publicação do balanço auditado com o lançamento das perdas decorrentes da corrupção.
É crucial para a Petrobras ter o balanço auditado por dois motivos: sem o aval da auditora independente PwC (PricewaterhouseCoopers), a estatal fica em risco iminente de perder o grau de investimento para a sua nota de crédito e pode ter parte de sua dívida cobrada imediatamente, antes do vencimento.
No dia 3 deste mês, a agência de risco Moody's deu 30 dias para a estatal publicar os dados, sob o risco de perder a nota de investimento.
A Fitch também rebaixou a classificação de risco da Petrobras para o último passo antes de risco especulativo -muitos fundos não aplicam seus recursos em ações e títulos de empresas com essa avaliação.
RENÚNCIA
A renúncia coletiva ocorreu após os diretores não aceitarem o cronograma definido por Dilma Rousseff para a mudança na direção da empresa. Dilma queria que eles ficassem até o fim do mês.
Restou a Graça informar Dilma de que já não tinha condições de controlar os demais colegas de diretoria e que a mudança teria que ser antecipada para esta sexta.
Ao contrário das negativas anteriores, desta vez Dilma concordou com a saída da auxiliar, de quem é amiga. A posição de Dilma só mudou depois que o Conselho de Administração da empresa divulgou, na semana passada, umabaixa em seus ativos da ordem de R$ 88 bilhões, fruto de desvios e ineficiência na execução de projetos.
O número acabou fora do balanço não auditado referente ao terceiro trimestre de 2014, mas enfureceu Dilma, que considerou a conta descabida e superestimada. Para ela, conforme definiram assessores, a sua mera divulgação foi um "tiro no pé."
Na opinião de ministros, a chefe da empresa jamais poderia ter deixado que os consultores contratados para fazer o cálculo chegassem a um número tão alto sem contestação da metodologia.
O episódio acabou deteriorando ainda mais a situação financeira da Petrobras, que perdeu quase 3/4 de seu valor de mercado nos últimos anos devido à política de investimentos considerada inflada e à corrupção.
NOMES
A troca na presidência da estatal só não havia ocorrido ainda por falta de um sucessor imediato a Graça Foster. Alguns dos cotados mostraram resistência em assumir o cargo antes da atual diretoria resolver os problemas do balanço financeiro da empresa.
O Palácio do Planalto procurava um nome de fora da companhia, de preferência do mercado, que dê um choque de credibilidade à empresa, mas tem enfrentado dificuldades para encontrar um executivo que se disponha a assumir o controle da estatal em meio ao maior escândalo de corrupção de sua história.
Graça Foster defendia um nome que já esteja no Conselho de Administração da estatal, como o de Luciano Coutinho (BNDES).
Fonte: Folha de São Paulo