Ação da Petrobras exige sangue-frio

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O acionista da Petrobras tem se sentido mais um praticante de esporte radical, do tipo "bungee jumping", do que propriamente um investidor nos últimos meses. Apesar das fortes e intensas emoções, analistas afirmam que, para quem ainda possui os papéis, o melhor a fazer agora é "ter sangue frio" e manter o ativo em carteira até que haja melhora do cenário.

O acionista da Petrobras tem se sentido mais um praticante de esporte radical, do tipo "bungee jumping", do que propriamente um investidor nos últimos meses. Apesar das fortes e intensas emoções, analistas afirmam que, para quem ainda possui os papéis, o melhor a fazer agora é "ter sangue frio" e manter o ativo em carteira até que haja melhora do cenário.

A avaliação é que as chances de recuperação da ação hoje são maiores do que a possibilidade de nova baixa, já que o preço está próximo da mínima em nove anos.

Para quem está fora do papel, embora o preço pareça atraente para um investimento a longo prazo, os especialistas recomendam paciência e distância do ativo, até que se tenha uma maior previsibilidade sobre o futuro da estatal.

Especulação eleitoral, definição da equipe econômica, reajuste dos combustíveis, volatilidade cambial, risco de perda do grau de investimento, denúncias de corrupção, polêmica em torno da auditoria do balanço e até uma investigação por parte da SEC - a comissão de valores mobiliários dos EUA - estiveram entre as variáveis que passaram a ditar o rumo dos papéis neste ano.

"Uma verdadeira série de eventos incontroláveis. O fundamento da empresa ficou em segundo plano", resume o estrategista da XP Investimentos, Celson Plácido. As ações PN da estatal saíram de um preço de R$ 16,05 no fim de 2013 e mergulharam até a mínima de R$ 11,81 em 17 de março - na menor cotação do papel desde 2005. Depois disso, puxadas pelo "elástico" da especulação eleitoral, as ações saltaram até a máxima de R$ 24,56 em 2 de setembro.

Ou seja, em um período de pouco menos de seis meses, o ativo dobrou de preço, embalado pela expectativa dos investidores de que houvesse troca de governo, com base nas pesquisas eleitorais divulgadas à época.

Na reta final da corrida presidencial, o quadro voltou a se alterar, com aumento das chances de reeleição de Dilma Rousseff, o que se confirmou em 26 de outubro. A ação voltou a cair com força e devolveu em dois meses a maior parte da alta gerada pela especulação eleitoral. Na sexta-feira, o papel fechou a R$ 14,27, acumulando perdas de 11,1% no ano e de 41,9% desde o pico de setembro.

"A eleição acabou, mas a Petrobras ainda continua dependente do cenário político", observa Plácido. Ele lembra que, antes do resultado do segundo turno, o papel subia com pesquisas eleitorais apontando chance de vitória da oposição, e recuava quando aumentava a preferência dos eleitores pela reeleição de Dilma Rousseff. "O foco agora não é mais o resultado da eleição, mas qual será a composição do segundo governo de Dilma", diz o estrategista da XP.

Para Tatiane Pereira, gestora da Coinvalores, a definição da nova equipe econômica de Dilma será crucial para toda a bolsa, não apenas para a Petrobras. "A nomeação de um ministro da Fazenda que não faça uma política fiscal mais ortodoxa pode provocar a queda de todos os ativos", diz.

Tatiane destaca que outra questão política é a provável troca do presidente da estatal. "Já há uma expectativa de troca de comando, com a indicação de um nome político, em vez de um técnico, como é [a atual presidente] Graça Foster. O mercado pode não ver com bons olhos essa troca. Pode considerar como um aumento da intervenção do governo na gestão."

O reajuste dos combustíveis, que finalmente foi anunciado na quinta-feira à noite, era visto pelos analistas como o principal catalisador para a recuperação das ações da Petrobras. No entanto, os índices anunciados, de 3% para a gasolina e de 5% para o diesel, ficaram abaixo da expectativa do mercado.

O analista da Planner Corretora, Luiz Caetano, ressalta que, devido ao recente recuo do preço do barril de petróleo no exterior, o preço da gasolina praticado no Brasil está alinhado com o internacional neste momento. "Apesar desse alinhamento, esperávamos o reajuste para corrigir as perdas passadas da Petrobras, quando a empresa subsidiou os preços dos combustíveis", diz.

"Melhor do que o reajuste seria a criação de uma metodologia de correção do preço dos combustíveis", afirma Plácido, da XP. "Seria muito positivo, não só para a Petrobras, mas para toda a bolsa, pois representaria uma redução significativa da interferência do governo. No entanto, a probabilidade disso acontecer é muito baixa, devido à preocupação do impacto da gasolina sobre a inflação", afirme o especialista.

Em entrevista concedida ao Valor e a mais três jornais na quinta-feira, a presidente Dilma Rousseff disse ser contra atrelar os preços dos combustíveis no Brasil aos preços internacionais. Ela deixou claro que a política de correção dos combustíveis não será alterada.

Tatiane, da Coinvalores, defende que o investidor que já possui ações da Petrobras precisa ter paciência neste momento e esperar por outras sinalizações positivas. "Não vale a pena vender a ação a R$ 14. Praticamente tudo de ruim para a empresa já está no preço", diz. Plácido acredita que o papel teria potencial de alcançar os R$ 27 no curto prazo se houvesse uma redução drástica da interferência do governo na empresa.

Já o BTG Pactual alerta que as novas condições do mercado diminuíram as chances de a Petrobras apresentar melhora no seu balanço. O banco aumentou de 70% para 80% a possibilidade da companhia precisar fazer um aumento de capital em 24 meses. Porém, o BTG acredita que o governo poderá anunciar novos aumentos no ano que vem. "Os comentários do governo nos levam a acreditar que poderia haver mais aumentos e nós adicionamos 4% de alta para as projeções de 2015", escrevem os analistas Gustavo Gattass e Andres Cardona.

 Fonte: Valor econômico

 

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