A alta volatilidade apresentada no mercado de previdência complementar no ano passado, que afugentou boa parte dos investidores, ainda não foi totalmente equalizada. O ritmo de arrecadação da indústria neste ano diminuiu no primeiro semestre e bateu os R$ 37,5 bilhões, 2,88% menos se comparado a igual período de 2013.
A alta volatilidade apresentada no mercado de previdência complementar no ano passado, que afugentou boa parte dos investidores, ainda não foi totalmente equalizada. O ritmo de arrecadação da indústria neste ano diminuiu no primeiro semestre e bateu os R$ 37,5 bilhões, 2,88% menos se comparado a igual período de 2013.
Somando tudo o que entrou nos planos de aposentadoria e subtraindo o que saiu, o tombo foi maior. A captação líquida do período foi de R$ 17,1 bilhões, volume 12,93% menor ante os primeiros seis meses do ano passado. Vale lembrar que julho de 2013 registrou desempenho negativo de R$ 396 milhões, o primeiro da série histórica, desde 1995. "O ano passado foi ruim e causou trauma ao investidor. Em 2014, Copa, disputa eleitoral e cenário econômico mais complicado, não ajudam", afirma Lúcio Flávio Condurú, presidente da Bradesco Vida e Previdência, que detém a maior carteira do mercado, com R$ 131 bilhões e 30,5% de participação.
Apesar do ritmo mais lento, Condurú acredita na força dos três últimos meses do ano para fechar 2014 com alta entre 8% e 10%. A arrecadação nos planos de previdência até setembro foi de R$ 15 bilhões, 3% mais do no mesmo período de 2013. Nada mal se não tivesse saído mais gente do que entrou. No período, o saldo é negativo em R$ 1,53 bilhão, segundo levantamento das consultoras NetQuant e Towers Watson com 904 fundos de previdência nas modalidades VGBL e PGBL e que desconsidera os antigos fundos de planos tradicionais.
Nos últimos dez anos, a carteira de investimentos da previdência complementar aberta quintuplicou saindo de R$ 81,4 bilhões em 2005 para R$ 405,1 bilhões em julho deste ano. A rentabilidade real dos planos de renda fixa, que sofreu em 2013 por conta da inversão da curva de juros no meio do alongamento das carteiras, está bem melhor este ano, em média 6,9% até setembro.
"A inflação alta, imprevisibilidade de regras e desaceleração econômica também impactam, pois criam um ambiente adverso para formação de poupança de longo prazo", considera Osvaldo Nascimento, presidente da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi). Mesmo assim, ele mantém a previsão de fechar o ano com avanço de 10% na captação líquida.
Pelo menos uma lição foi tirada desse cenário. É preciso criar uma relação mais próxima entre seguradora e investidor. Traçar o perfil exato de cada pessoa, antes de sugerir o plano mais adequado. Entender o objetivo real daquele investimento e como o seu patrimônio está alocado. É o que no jargão do setor é chamado de 'suitability". Em meio ao susto que tomou, o setor tenta explicar ao investidor que a renda fixa e os planos de aposentadoria são investimentos de risco.
Outro avanço vem ocorrendo na diversificação de ativos e portfólios, o que abre mais possibilidades de escolha ao consumidor. "Anos difíceis sempre exigem esforços adicionais e quem ganha é o investidor. Nós investimos na certificação dos corretores junto com os gerentes. Vamos terminar 2014 com 35% dos 6 mil corretores com CPA 10 e 9% com CPA 20", diz Condurú, que acionou um pacote de outras medidas. Entre elas está o lançamento de um novo portal até o fim deste ano, criando um canal de comunicação mais dinâmico com o cliente usando todas as mídias disponíveis, inclusive o WhatsUp.
A Brasilprev, que detém 24,61% da carteira total de investimentos do setor, fez a lição de casa. A instituição defende que, por ter foco exclusivo em previdência, o entendimento do cliente foi mais rápido. A arrecadação do ano cresceu 29% até agosto e bateu a cifra de R$ 18,7 bilhões, com saldo líquido de R$ 12,71 bilhões. O total de ativos sob gestão estava em R$ 102,1 bilhões em agosto. "A instabilidade do ano passado mexeu não só com a indústria, mas também com o consumidor. Hoje ele quer saber mais sob o que está contratando e nós temos que nos desdobrar para que ele entenda detalhes do seu investimento", defende Miguel Terra Lima, presidente da Brasilprev.
Para que isso fosse possível, a seguradora lançou vídeos explicativos no YouTube, fez seminários sobre o cenário econômico e as mudanças nas regras da previdência, realizou 1.090 palestras com 48 mil investidores e lançou novas famílias de produtos.
Apostando na recomendação integrada, no lançamento de games educativos e simuladores interativos na internet e mídias sociais, o Itaú Unibanco também vê melhoras significativas no processo de "suitability", que vão além das exigências da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Temos que admitir que todos os processos melhoraram. Hoje partimos para a abordagem integrada, onde o investidor deve separar o que é recurso para emergência, da reserva para aposentadoria e para constituição de patrimônio", defende Cláudio Sanches, diretor de investimentos e previdência do Itaú Unibanco.
O executivo, que também sentiu a desaceleração do início do ano, diz já ter recuperado o ritmo de vendas e que os resultados já superam os de 2013, porém, 20% inferiores aos de 2012. Enquanto no ano passado todo a captação líquida foi de R$ 4,8 bilhões, este ano o mesmo patamar foi atingido até setembro, com R$ 4,4 bilhões, segundo ranking da NetQuant. A expectativa é que este final de ano represente de 20% a 30% mais do que o Natal de 2013.
Já a Icatu Seguros resolveu aportar 45% da sua verba de marketing de 2013 e 2014 em ações de engajamento financeiro, como realização de eventos, palestras, cursos e criação de jogos. E em investimentos em ferramentas de vendas, como simuladores, vídeos e aplicativos digitais. "Desde maio do ano passado, todas as energias da Icatu foram para ser proativa com consultores e clientes", diz Luciano Snel, presidente da seguradora, que acumula até agosto deste ano R$ 600 milhões em captações líquidas, R$ 172 milhões a menos do que igual período de 2013. A arrecadação total estava em R$ 1,1 bilhão, segundo a seguradora. Já a pesquisa NetQuant mostra resultado líquido da Icatu Seguros até setembro de R$ 445,9 milhões.
Após fechar o ano de 2013 no terreno negativo, com captação líquida de menos R$ 206,91 milhões, o HSBC Vida e Previdência, sexta maior seguradora do país, colocou uma pesquisa em campo. Queria saber o que as pessoas pretendiam em relação à educação financeira delas e dos filhos. O resultado foi a criação de facilitadores de aplicação pela internet, dando maior autonomia ao cliente para que se sintam mais livres e confiantes no banco. Para os que querem consultoria personalizada, é só solicitar por chat, telefone ou na própria agência.