Em queda acentuada do começo de setembro até sexta-feira, as ações dos quatro maiores bancos brasileiros listados na bolsa mostram uma história que nada tem a ver com o desempenho que as instituições vão mostrar na safra de balanços do terceiro trimestre.
Em queda acentuada do começo de setembro até sexta-feira, as ações dos quatro maiores bancos brasileiros listados na bolsa mostram uma história que nada tem a ver com o desempenho que as instituições vão mostrar na safra de balanços do terceiro trimestre.
Levantamento feito pelo Valor com base nas projeções de sete casas de análise mostra que o lucro líquido do grupo formado por Banco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander crescerá 19,24% na comparação com igual trimestre do ano passado. O quarteto deve lucrar R$ 13 bilhões, ou R$ 2,1 bilhões a mais que no mesmo período de 2013, de acordo com as estimativas dos analistas, que levam em consideração apenas itens recorrentes aos balanços dos bancos.
"É tudo sobre política agora para as ações brasileiras. Para os bancos, concordamos que o preço das ações provavelmente serão dirigidas mais pelas mudanças de percepção de risco do Brasil do que por avaliações sobre lucratividade", aponta o J.P. Morgan em relatório.
Se o futuro se mostra incerto para as ações, o que os números devem mostrar a partir de quinta-feira - quando o Bradesco inaugura a temporada de balanço - é que até agora os bancos vão muito bem.
Por enquanto, as instituições driblam o módico crescimento do crédito no país com contenção de gastos, prestação de serviço e mais um considerável empurrão de reajuste de taxas dos empréstimos.
No trimestre, os bancos privados devem ter uma expansão no crédito que vai de um mínimo de 1% a um teto de 4%. Com isso, o resultado do saldo de empréstimos acumulado no ano ainda deve se manter abaixo das projeções feitas por Bradesco e Itaú Unibanco para 2014, que vai de 10% a 14% e de 10% a 13%, respectivamente. Em comunicado a investidores, o Itaú já informou que a carteira deve ter um crescimento de aproximadamente 8%, seguindo o ritmo mais lento da atividade econômica.
Mesmo com o crédito mais lento, Itaú e Bradesco devem mostrar os maiores ganhos entre os grandes bancos com ações em bolsa.
No caso do Itaú, segundo a média de projeções de seis casas de análise, o lucro líquido deve crescer 25,4% e atingir R$ 5,04 bilhões. A cifra será sustentada por spreads em alta e despesas com provisão para crédito estáveis.
Pelos cálculos do Deutsche, a margem financeira do maior banco privado do país somará R$ 13,5 bilhões, com alta de 14% em relação a igual intervalo de 2013.
Calotes sob controle ajudam no resultado. "A qualidade dos ativos também deve permanecer estável ou até mesmo melhorar ligeiramente", avaliam os analistas do Deutsche Bank.
No caso do Bradesco, a expansão da margem financeira dará a sua contribuição na comparação anual. Segundo a média das projeções, o banco deve reportar um lucro líquido de R$ 3,81 bilhões, 23,5% maior na comparação anual, mesmo com uma perda não recorrente de R$ 350 milhões com as ações do Banco Espírito Santo.
Em relatórios, porém, analistas começam a dar sinais de preocupação com a qualidade do crédito. "Achamos que o risco das despesas de provisão pode aumentar moderadamente de novo", diz o J.P. Morgan. O efeito, matemático, viria do crescimento mais lento do crédito.
Apesar de ser o banco com o menor crescimento do crédito, com uma projeção média de 5%, o Santander também deve lucrar mais. A combinação de receitas de serviços e controle dos gastos deve garantir à instituição um resultado de R$ 1,34 bilhão, com alta de 10,3% ante igual trimestre de 2013.
No caso do BB, dois itens do balanços devem mostrar um desempenho diferente dos concorrentes privados. O crédito deve mostrar expansão anual de 14,2%, puxado pelas carteiras de imobiliário, consignado e agrícola. As despesas administrativas também avançarão acima da média.
Na última linha do balanço, o BB exibirá um lucro de R$ 2,85 bilhões, valor 9% superior ao registrado de julho a setembro de 2013, graças à recente correção dos spreads das operações de crédito.
A questão que se levanta agora entre os analistas é por quanto tempo o lucro crescente dos bancos será sustentado num cenário de baixo crescimento econômico.
Na comparação com o segundo trimestre, o lucro dos bancos ficará praticamente estável, em R$ 13 bilhões. As casas de análise também projetam que os ganhos com a elevação de spreads já dão sinais de esgotamento. Além disso, um eventual aumento do desemprego pode rebater na inadimplência.
Fonte: Valor econômico