A necessidade de ajustes na economia brasileira já tem levado bancos estrangeiros a esperar um 2015 tão difícil quanto este ano para empréstimos sindicalizados e outras modalidades de crédito em moeda estrangeira.
A necessidade de ajustes na economia brasileira já tem levado bancos estrangeiros a esperar um 2015 tão difícil quanto este ano para empréstimos sindicalizados e outras modalidades de crédito em moeda estrangeira.
Há uma enxurrada de dinheiro barato disponível nas instituições financeiras, mas a demanda das grandes empresas encolheu nos últimos meses e, ao menos por enquanto, não se espera uma retomada significativa.
A leitura dos bancos é que, seja quem for o vencedor das eleições no domingo, 2015 será um ano de baixo crescimento porque o próximo governo precisará arrumar as contas públicas e domar a inflação. O boletim Focus, que reúne estimativas de cerca de cem instituições financeiras e é divulgado pelo Banco Central (BC), estima em 1% a expansão do PIB no próximo ano.
Por isso, a expectativa é que as empresas não precisem de muitos recursos para investir na expansão de seus negócios.
A atividade econômica fraca já reduziu o apetite das companhias neste ano, especialmente da Copa do Mundo em diante. Na maior parte dos casos, quem tem buscado empréstimos em moeda estrangeira tem o objetivo de gerenciar passivos ou financiar exportações. "Agora, a variável é quando as empresas vão repensar suas estratégias de investimento", afirma Rogério Monori, diretor vice-presidente e chefe da área corporativa do Bank of Tokyo Mitsubishi.
Um banqueiro que pediu para não ser identificado prevê que 2015 será mais difícil que este ano para o crédito corporativo, independentemente do resultado das urnas. De acordo com ele, mesmo que as perspectivas econômicas melhorem, a tendência é que as empresas não voltem a investir imediatamente porque as decisões de investimentos não são rápidas.
"Se o otimismo voltar, o mais provável é que haja primeiro uma retomada no mercado de capitais. A recuperação do crédito tende a ser mais lenta, começando a partir do segundo semestre", diz essa fonte.
A demanda por empréstimos em moeda estrangeira começou este ano em alta, mas depois arrefeceu. Desde janeiro, empresas brasileiras tomaram US$ 17,5 bilhões em empréstimos não bilaterais em moeda estrangeira, num total de 77 operações. Além dos sindicalizados, entram na conta "club deals" (feitos por um grupo de bancos, mas sem constituir um sindicato que subscreve a transação) e uma modalidade que envolve bancos e agências de fomento. Os dados são da Dealogic, empresa que compila dados de mercado.
Como não há muitas operações no radar dos bancos até dezembro, o fechamento do ano deve ficar abaixo do desempenho de 2013, quando os empréstimos em moeda estrangeira somaram US$ 24,3 bilhões.
Dentre as poucas transações em andamento, estão um empréstimo sindicalizado de US$ 750 milhões pleiteado pela Braskem e uma linha de pré-pagamento de exportação da fabricante de celulose Eldorado, de US$ 500 milhões. A expectativa é que sejam concluídas neste ano. Pré-pagamento de exportações tem sido uma das modalidades mais usadas em 2014 e os bancos trabalham com a hipótese de continuar assim no próximo ano, principalmente se o real se desvalorizar ante o dólar.
Para Rodrigo Cabernite, chefe da área de renda fixa do Standard Chartered na América Latina, o mercado de empréstimos em moeda estrangeira em 2015 será parecido com este ano em termos de volume. "Pode ser levemente maior se o clima econômico melhorar", diz o executivo, acrescentando que já há algumas operações sindicalizadas previstas para o primeiro trimestre.
Apesar dos prognósticos de um ano morno, o que pode dar algum alento aos empréstimos em moeda estrangeira em 2015 são as operações de gerenciamento de passivos das empresas, diz Samuel Canineu, do ING.
Segundo ele, companhias com bônus vencendo podem optar por tomar empréstimos em vez de recorrer ao mercado de capitais, porque as taxas estão mais competitivas. "O mercado de bônus não está tão aberto quanto já esteve, mas os sindicalizados estão baratos. São uma alternativa para refinanciamentos", diz Canineu.
As baixas taxas de juros nos EUA, na Europa e no Japão e a recuperação dos bancos europeus inundou o mercado de sindicalizados depois de alguns anos de recursos minguados. Com isso, os spreads diminuíram. "Só não caíram ainda mais por causa das incertezas do ano", diz Monori, do Bank of Tokyo. "Em operações de prazos mais curtos, o custo está menor que o de um bônus."
A questão é por quanto tempo esse cenário vai perdurar. A partir de meados do ano que vem, a expectativa é de alta nas taxas de juros dos EUA, o que tende a reduzir os recursos disponíveis para os empréstimos. Porém, não será um efeito instantâneo, afirma Monori. "[A alta dos juros] tira um pouco a liquidez, mas ela ainda deve permanecer por algum tempo. Não é um mercado tão volátil quanto o de investimentos em portfólio."
Fonte: Valor econômico