A possibilidade de chance de vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) já no primeiro turno das eleições, no próximo domingo, provocou forte ajuste no mercado financeiro ontem.
A possibilidade de chance de vitória da presidente Dilma Rousseff (PT) já no primeiro turno das eleições, no próximo domingo, provocou forte ajuste no mercado financeiro ontem.
A bolsa brasileira devolveu boa parte do "rali eleitoral" observado desde meados de março. O Ibovespa levou seu maior tombo em três anos e retornou ao nível de pontos de meados de julho, quando o país ainda tentava entender a vexatória derrota da seleção para a Alemanha na Copa do Mundo.
A pressão que se instalou logo na abertura dos negócios empurrou o dólar ao maior patamar em quase seis anos, para perto de R$ 2,48. O real foi, novamente, a moeda que mais perdeu valor frente ao dólar, de uma lista de 34 divisas.
O Ibovespa caiu 4,52%, aos 54.625 pontos, com forte volume de R$ 8,324 bilhões. Foi o maior tombo do índice desde 22 de setembro de 2011 - pico da crise financeira da Grécia -, quando a bolsa recuou 4,82%. A ações do "kit eleição" - formado por bancos e estatais, sensíveis à corrida presidencial - lideraram as perdas. Petrobras PN (-11,17%, a R$ 18,60) foi a maior baixa do dia e teve seu maior recuo desde 12 de novembro de 2008 (-13,74%). Em seguida apareceram Petrobras ON (-10,44%, a R$ 17,75), Banco do Brasil ON (-8,54%, a R$ 27,28), Itaú PN (-7,00%, a R$ 35,06), Bradesco PN (-7,03%, a R$ 35,69) e Eletrobras ON (-6,13%, a R$ 6,88). Na BM&F, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DI) dispararam, com investidores revertendo as posições montadas quando a aposta era de vitória da oposição na corrida presidencial e, consequentemente, de mudança na política econômica. A expectativa era de que, numa eventual vitória, a oposição tomasse medidas mais ortodoxas, com maior rigor fiscal e monetário, abrindo espaço para juros menores no futuro. Esse otimismo havia feito a taxa do DI com vencimento em janeiro com 2021 - o mais longo e o segundo em termos de liquidez na BM&F - cair até 10,82% no dia 2 de setembro. Na mesma data, o Ibovespa registrava sua pontuação máxima neste ano, de 61.895 pontos, acumulando ganhos de 37,6% desde o início do rali eleitoral, em março. A possibilidade de uma guinada na economia começou a ser abalada nas últimas semanas, à medida que se esfarelava o favoritismo de Marina Silva (PSB). E ruiu de vez no último fim de semana, após a pesquisa Datafolha apontar chances reais de vitória de Dilma em primeiro turno. O contrato de DI para janeiro de 2021 subiu de 11,77% para 12,38%. Foi a primeira vez que o contrato fechou acima de 12% desde 5 de junho. O dólar fechou com valorização de 1,71%, a R$ 2,455, no nível mais elevado desde 9 de dezembro de 200, auge da crise financeira global. "O mercado está precificando a vitória de Dilma no primeiro turno. A campanha dela é forte, tem uma boa comunicação. E ela está no poder. É muito difícil não se reeleger. É quase um plebiscito", comenta o estrategista da CM Capital Markets, Marco Aurélio Barbosa. Para ele, a bolsa deve continuar devolvendo o rali eleitoral dos últimos meses ao longo desta semana, conforme as próximas pesquisas confirmarem as chances de vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. "Se na segunda-feira (6) acordarmos com segundo turno, aí poderemos ter uma recuperação. Será outra eleição. Dilma e Marina terão tempos iguais na televisão. Será uma disputa mais equilibrada." A possibilidade de vitória de Dilma em primeiro turno começou a ser desenhada na sexta-feira à noite com a pesquisa Datafolha. O levantamento mostrou uma recuperação consistente nas últimas semanas da candidata à reeleição, bem como uma queda também consistente nas preferências de voto de Marina Silva (PSB). Bastaria Dilma conquistar cinco pontos percentuais - ou seus principais oponentes perderem o mesmo tanto - nesta semana para a disputa ser encerrada no domingo. Nas duas últimas semanas, a presidente evoluiu cerca de três pontos por semana, em média, segundo o Datafolha. Pesquisa do instituto MDA divulgada ontem à tarde trouxe vantagem ainda maior para Dilma (47,7%) em um eventual segundo turno contra Marina (38,7%). No primeiro turno, Dilma aparece com 40,4%, Marina com 25,2% e Aécio Neves (PSDB) com 19,8%. Além do Datafolha, havia expectativa de que a revista "Veja" trouxesse no fim de semana reportagem "bombástica" sobre esquemas de propina e lavagem de dinheiro na Petrobras, que pudessem interferir na corrida presidencial. No entanto, a matéria não teve esse poder e representou uma grande "frustração" para os investidores, destacou a Guide Investimentos em nota. Apenas sete ações resistiram em alta, com destaque para Cielo ON (2,15%), BB Seguridade ON (1,92%) e exportadoras.