A liberação de compulsórios sobre depósitos a prazo feita pelo Banco Central entre julho e agosto teve até agora efeitos desprezíveis para aumentar o volume de crédito na economia. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, os recolhimentos compulsórios em dinheiro sobre depósitos a prazo feitos pelo conjunto de bancos caíram R$ 24 bilhões em agosto, ante julho.
A liberação de compulsórios sobre depósitos a prazo feita pelo Banco Central entre julho e agosto teve até agora efeitos desprezíveis para aumentar o volume de crédito na economia. Segundo dados divulgados pelo Banco Central, os recolhimentos compulsórios em dinheiro sobre depósitos a prazo feitos pelo conjunto de bancos caíram R$ 24 bilhões em agosto, ante julho.
No mesmo período, o total de operações de crédito na economia cresceu R$ 28 bilhões. É menos do que o aumento nominal, de R$ 32 bilhões, ocorrido em agosto de 2013. O crédito livre, que deveria ser mais afetado pela liberação de compulsórios, registrou um aumento de apenas R$ 12 bilhões no mês passado.
Em julho, o BC liberou R$ 30 bilhões em depósitos compulsórios dos bancos para serem aplicados na compra de carteiras de bancos pequenos e médios e em financiamento para a aquisição de veículos, principalmente. Na época, o BC disse que a injeção de dinheiro em bancos pequenos e médios iria estimular a oferta de crédito a empresas de menor porte.
O volume total de empréstimos para capital de giro, uma das linhas de empréstimo mais demandadas pelas empresas de menor porte, cresceu menos de R$ 1 bilhão em agosto. Já o volume de financiamentos para a aquisição de veículos teve uma queda de R$ 642 milhões no mês.
Ao explicar os dados na sexta-feira, o chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel, disse que os resultados da liberação de compulsório só vão aparecer no médio prazo - provavelmente nos próximos seis meses. O fato, porém, é que os bancos já sacaram R$ 24 bilhões em compulsórios e estão aplicando os recursos em uma outra coisa que não é o crédito, como esperava o governo.
Muitos veem no aumento do volume de operações compromissada em agosto, de R$ 38 bilhões, um sinal de que os bancos estariam na verdade investindo os recursos em títulos públicos. É bem provável que isso de fato esteja ocorrendo. Mas é bom lembrar que o volume de operações compromissadas tende a crescer sempre que são liberados compulsórios, mesmo quando os recursos são dirigidos a operações de crédito. O BC sempre atua no mercado aberto pra enxugar o excesso de liquidez e manter a Selic na meta, por isso o compulsório liberado de um lado tende a retornar ao BC sobre a forma de operações compromissadas, caso já não tenham sido esterilizados de outra forma, como com compulsórios.
Em fins de agosto, o BC decidiu liberar mais R$ 10 bilhões em compulsórios basicamente para as mesmas finalidades, mas fez ajustes nas regras para permitir o abatimento de compulsório apenas se os bancos de fato aumentarem o volume de concessões de financiamento de veículos. Os ajustes nas regras são um sinal de que, da forma como os recursos foram liberados em julho, havia brechas para os bancos liberarem compulsórios sem necessariamente produzir uma expansão do crédito.
Essa segunda etapa liberou, até agora, outros R$ 6 bilhões das exigências de compulsórios sobre depósitos a prazo, segundo estatísticas relativas ao dia 5 de setembro. Só será possível saber se essa segunda leva de compulsórios teve efeito no crédito no mês que vem, quando forem divulgadas as estatísticas sobre o volume de empréstimos e financiamentos na economia de setembro.
De qualquer forma, os dados da nota de crédito de agosto reforçam a percepção de que os financiamentos para aquisição de veículos não vinham crescendo não por falta de oferta de recursos, mas porque consumidores anteciparam a compra de automóveis em anos passados, quando o governo cortou impostos para estimular a venda de veículos. O mercado de crédito estaria pagando agora a conta do excesso de estímulos artificiais no passado, que apenas deslocaram a demanda no tempo.
No caso do crédito a pequenas e médias empresas, é possível que a retração no crescimento da economia e a queda dos níveis de confiança do empresariado tenham afetado a demanda por empréstimos e financiamentos.