O Ibovespa já avançou 35% desde a mínima deste ano, em 14 de março, e diversas ações de peso no índice bateram máximas históricas. Ainda assim, analistas dizem que há espaço para mais altas neste e no próximo ano. Segundo especialistas consultados pelo Valor, a entrada de Marina Silva (PSB) na disputa presidencial deu fôlego extra às compras de ações locais.
O Ibovespa já avançou 35% desde a mínima deste ano, em 14 de março, e diversas ações de peso no índice bateram máximas históricas. Ainda assim, analistas dizem que há espaço para mais altas neste e no próximo ano. Segundo especialistas consultados pelo Valor, a entrada de Marina Silva (PSB) na disputa presidencial deu fôlego extra às compras de ações locais.
Levantamento feito pelo Valor Data mostra que, das 69 ações do Ibovespa, 17 bateram máxima histórica em agosto e setembro. Na lista, o setor financeiro se destaca com Itaú Unibanco, Itaúsa, Banco do Brasil, Bradesco, BM&FBovespa e BB Seguridade.
"Os recursos externos de fundos não dedicados nem começaram a entrar ainda", diz Will Landers, principal gestor de fundos para a América Latina da BlackRock. Segundo o executivo, a equipe econômica que assessora a candidata do PSB ao Planalto inspira confiança ao mercado. "Se o investidor acredita em uma nova tendência macroeconômica e espera que o país cresça, vai colocar essa expectativa nos preços das ações."
Recentemente, dois bancos elevaram suas perspectivas para a Bovespa. O Itaú BBA disse, em relatório de 22 de agosto, que é tempo de se tornar taticamente otimista em relação às ações brasileiras.
Os analistas Pedro Maia e Carlos Constantini afirmam no trabalho que estão trocando uma visão defensiva, com hedge (proteção) em moeda por meio de ações de empresas exportadoras, para uma maior exposição no mercado com precaução, sobretudo via Ultrapar e BB Seguridade. Já o J.P. Morgan elevou a recomendação para o Brasil de "neutra" para "overweight" (acima da média do mercado) em seu portfólio de emergentes, citando as perspectivas políticas.
Para o analista Ricardo Kim, da XP Investimentos, a Bovespa está cara em termos de fundamentos, sendo negociada a 14 vezes a relação preço/lucro (P/E). A média histórica, segundo analistas, é de 10,5 vezes.
"Devido à expectativa de alternância de poder e mudança na condução da política monetária, os investidores institucionais, locais e estrangeiros, resolveram se antecipar", diz Kim, lembrando que as últimas pesquisas apontam maiores chances de vitória da oposição em outubro. "Se concretizadas as mudanças, a expectativa é que o Ibovespa possa subir mais neste ano, para uma faixa entre 65 mil e 70 mil pontos", avalia. Na sexta, o Ibovespa fechou a 60.681 pontos.
Outras casas veem um fôlego menor até o final do ano, mas ainda esperam ganhos. Álvaro Bandeira, economista-chefe da Órama Investimentos, lembra que o mercado brasileiro ainda tem defasagem na comparação com índices globais.
Na semana passada, por exemplo, o S&P 500, dos Estados Unidos, atingiu os 2 mil pontos pela primeira vez. Já o Ibovespa ainda precisa subir 19,5% para chegar à máxima histórica, de 73.517 pontos, atingida em 20 de maio de 2008. Para ele, a bolsa tem espaço para subir até 64.500 pontos, nível no qual os investidores devem parar para reavaliar cotações.
Os analistas técnicos da Clear Corretora, Bo Williams e Raphael Figueredo, dizem acreditar que o Ibovespa não deve passar dos 65 mil pontos neste ano. E a explicação está na relação risco/retorno do mercado neste momento, diante de um rali de quase seis meses, iniciado em meados de março, quando o Ibovespa marcava 44.966 pontos, na mínima do ano.
"Com uma alta acumulada de quase 40%, fica mais arriscado abrir uma operação de curto prazo agora", explica Figueredo. "O mercado pode começar um processo de correção até os 58 mil pontos, o que não compromete em absolutamente nada a boa configuração técnica do Ibovespa no curto e médio prazos." Se o fôlego de alta neste ano já está acabando, para 2015 os analistas da Clear se mostram bastante otimistas. Eles acreditam que a bolsa brasileira tem plenas condições de romper sua máxima histórica de 2008.
O Credit Suisse, por sua vez, reiterou no último dia 29 sua visão "market weight" (peso em linha com o mercado) para Brasil. A casa pondera que o rali da bolsa foi acompanhado de erosão nas expectativas de lucros das empresas no curto prazo. Considerando o cenário desafiador para os ganhos nos próximos trimestres, a visão da casa é de que uma performance acima do mercado teria de vir via maior expansão de múltiplos. Para isso ocorrer, teria que haver melhores expectativas no médio e longo prazo de crescimento da produção industrial.
Para os analistas, ações do setor financeiro ainda devem ter boa performance, apesar de já estarem no topo histórico. "Os bancos estão preparados para lidar com qualquer cenário", diz Landers, da Blackrock. Estatais também estão entre os papéis com boas perspectivas, diz Paulo Gala, estrategista da Fator Corretora, que também vê o novo quadro eleitoral mudando para melhor as perspectivas para a bolsa.
Dentre esses papéis, o destaque é Petrobras. Apesar de ter sido o carro-chefe da recuperação do Ibovespa, a ação da estatal ainda está longe de sua máxima histórica, registrada em maio de 2008. O papel PN, por exemplo, ainda precisa subir 68% para atingir a máxima de R$ 40,29. Kim, da XP, explica que os papéis do setor financeiro e Petrobras ganham com a tendência de menor interferência sobre essas empresas no próximo governo, caso a oposição vença as eleições em outubro.
Fonte: Valor econômico