Apesar dos esforços do governo para ampliar a oferta de crédito, há quase R$ 750 bilhões –valor recorde– recolhidos pelo Banco Central em operações diárias com o mercado, o "overnight", para equilibrar a quantidade de dinheiro circulando.
Apesar dos esforços do governo para ampliar a oferta de crédito, há quase R$ 750 bilhões –valor recorde– recolhidos pelo Banco Central em operações diárias com o mercado, o "overnight", para equilibrar a quantidade de dinheiro circulando.
Na comparação com o tamanho da economia, o valor corresponde a 14% do PIB, maior patamar desde a crise que paralisou a atividade econômica em 2009.
O valor se refere a recursos dos bancos que estavam retidos no BC na forma de depósitos compulsórios e que foram liberados nos últimos anos para estimular o crédito e o crescimento do país.
Grande parte do dinheiro liberado, no entanto, foi parar de volta nas mãos do governo. Desta vez, por meio da aplicação em títulos públicos, que é a forma como o BC controla a quantidade de dinheiro no mercado.
Esse tem sido o resultado de uma série de pacotes econômicos anunciados desde a crise de 2008. O governo tenta liberar o dinheiro, mas, como não há demanda por crédito nem disposição de emprestar, os recursos são reaplicados pelos bancos.
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Isso ocorreu, por exemplo, no biênio 2008-2009 e a partir de 2012, épocas em que foram feitas grandes liberações de depósito compulsório em momentos de recuo na atividade econômica. Em 2010, último ano em que a economia apresentou crescimento expressivo, por outro lado, essas operações representavam praticamente metade do que se verifica hoje (7,7% do PIB).
Para o economista Miguel Daoud, diretor-sócio da Global Financial Advisor, essa tendência se repete neste ano, como mostram os dados do BC. "Essas medidas têm efeito muito mais midiático e político do que econômico", afirmou Daoud. "Porque hoje não há disposição do empresariado, do investidor e do consumidor em investir."
Para o ex-diretor do BC Carlos Eduardo Freitas, essa situação deve se manter até que haja uma definição sobre a disputa eleitoral e uma indicação de qual será a política econômica a partir de 2015.
"Eu já esperava por isso. A economia está parada. Tanto pessoas físicas como empresas estão jogando na defesa. E os bancos não estão querendo emprestar", disse.
O saldo de empréstimos bancários desacelerou em julho pelo sétimo mês seguido e apresentou a menor taxa de expansão do governo Dilma Rousseff –11,4% ante o mesmo mês de 2013. Há três anos, o crédito crescia a uma taxa anual de quase 33%.
DÍVIDA
O aumento nas operações do BC com títulos (chamadas de compromissadas) é o principal fator responsável pelo aumento da dívida do setor público este ano. Os títulos negociados pelo BC que estão hoje no mercado respondem por quase um quarto (24%) da dívida bruta. No fim do ano passado, correspondiam a menos de 20%.