Depois de meses comprando ações brasileiras, os estrangeiros fizeram uma pausa na semana passada. Ainda é cedo para dizer que isso se configura uma tendência, mas o movimento sugere mudança de atitude do principal investidor da Bovespa, que, se confirmada, poderia resultar na queda da bolsa nos próximos meses.
Depois de meses comprando ações brasileiras, os estrangeiros fizeram uma pausa na semana passada. Ainda é cedo para dizer que isso se configura uma tendência, mas o movimento sugere mudança de atitude do principal investidor da Bovespa, que, se confirmada, poderia resultar na queda da bolsa nos próximos meses.
No pregão de 6 de agosto houve a primeira retirada significativa de recursos (R$ 758,7 milhões) no mercado à vista desde 10 de fevereiro, quando o estrangeiro sacou R$ 1,153 bilhão da BM&FBovespa em um único dia. No acumulado do ano, o fluxo de capital externo ainda registra entrada líquida de R$ 15 bilhões, volume superior ao aplicado pelo estrangeiro em todo 2013 (R$ 11,7 bilhões).
Além disso, no mercado futuro, os estrangeiros estão reduzindo suas posições compradas - aposta de alta do mercado - desde o fim de julho. O volume líquido de contratos de compra de Ibovespa futuro dos estrangeiros, que chegou a 108 mil em 14 de julho, estava em 76 mil na quinta-feira. (7).
"Sem dúvida é um ponto de inflexão. Ainda não dá para dizer que seja uma reversão na tendência. Mas é importante acompanhar quais serão os próximos passos deles", afirma o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer.
"Será que o investidor estrangeiro está preparando o caminho de volta para casa? É uma possibilidade", avalia o gestor da Guide Investimentos, Luis Gustavo Pereira, lembrando que a Bovespa tem uma "boa gordura para queimar".
Desde a pontuação mínima (44.966) registrada em 14 de março, o Ibovespa acumulou alta de 23,5% até sexta-feira (8), quando encerrou aos 55.572 pontos. Apenas as ações PN da Petrobras, uma das preferidas dos estrangeiros, subiram nada menos que 53% no mesmo período, para R$ 19,31, mesmo após o tombo de 4,16% registrado na sexta.
Pereira lembra que a alta recente da bolsa coincidiu com a divulgação de pesquisas eleitorais que mostravam perda de votos da presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) para Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Porém, como as últimas pesquisas mostraram estabilidade do quadro e incerteza se haverá segundo turno, o catalisador de alta do mercado está se dissipando.
Spyer acrescenta que o cenário externo também pode colaborar para a virada de mão dos estrangeiros. "Até o fim do ano começará a acontecer um 'fly to quality', com os estrangeiros deixando mercados emergentes em direção aos títulos americanos."
A justificativa para essa migração, lembra o diretor da Mirae, é o fim da política de estímulos do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), conhecida como "quantitative easing" ou "QE". "Ninguém espera um novo QE a essa altura. E a tendência é de alta dos juros americanos, fazendo com que o capital migre para lá." O dado forte do PIB dos EUA no segundo trimestre reforçou a expectativa de que o aumento nas taxas possa ocorrer antes do esperado.
O diretor da consultoria Future Analysis, Marcos Masagão, especializado em indicadores que apontam o posicionamento de grandes investidores, notou que, nos últimos seis pregões, o mercado testou por duas vezes um importante nível, cujo rompimento poderia configurar mudança de tendência. "Hoje, os grandes investidores estão concentrados na linha de 55.300 pontos do Ibovespa futuro. Se o índice cair abaixo disso, poderemos ter uma reversão."
Na quarta-feira haverá o vencimento de índice futuro e opções sobre índice na Bovespa. E, na segunda-feira que vem o vencimento de opções sobre ações. Até lá, lembra Masagão, a bolsa tende a ficar volátil. Após os vencimentos será possível ter uma visão mais clara da posição dos estrangeiros no mercado.