As medidas de afrouxamento de crédito anunciadas pelo Banco Central na semana passada têm como foco as linhas de capital de giro de médias empresas, especialmente aquelas operadas por bancos menores especializados no mercado corporativo.
As medidas de afrouxamento de crédito anunciadas pelo Banco Central na semana passada têm como foco as linhas de capital de giro de médias empresas, especialmente aquelas operadas por bancos menores especializados no mercado corporativo.
A avaliação feita no governo é que a falta dessas linhas pode gerar restrições na oferta agregada da economia. Sem acesso a crédito para suas operações rotineiras, essas empresas tendem a reduzir a produção de bens e serviços. "Nem todo crédito gera inflação e um mercado de crédito excessivamente amarrado não necessariamente resolve a inflação", afirma uma autoridade da área econômica.
Por esse raciocínio, uma elevação nas operações de capital de giro não estimularia, portanto, apenas o aumento da demanda, mas um ajuste importante na oferta em um período em que o Banco Central procura conter pressões inflacionárias.
Algumas das medidas anunciadas pelo BC para conter o crédito em 2010 não devem ser alteradas, mesmo com uma eventual retomada do crédito. A avaliação é que algumas decisões que naquele momento tiveram intenção prudencial, têm hoje caráter permanente. Um dos exemplos é o desestímulo a empréstimos com prazo acima de 60 meses, que não deve ser alterado. A avaliação é que a trava, que exige capital extra dos bancos, conteve o alongamento nos prazos de financiamento de veículos e também no crédito consignado, que vinham se dilatando além do que o governo considerava razoável.
Os dados de crédito do BC mostram que o capital de giro responde por metade das linhas de recursos livres para pessoa jurídica. No ano, essas operações crescem apenas 0,1%. Nas linhas com prazo inferior a um ano há queda de 4,4% acumulada em 2014. Não há detalhamento sobre o porte das empresas que tomam esses recursos.
O financiamento de veículos será apenas marginalmente beneficiado pelas medidas anunciadas pelo BC. O setor, segundo avaliações oficiais, sofre com falta de demanda, não especialmente com oferta de crédito apertada.
"As linhas de capital de giro [para pequenas e médias empresas] são as que apanham mais e em primeiro lugar num cenário de crédito apertado. As linhas para grandes corporações não param", disse uma autoridade federal.
Para estimular o crédito, o BC liberou cerca de R$ 30 bilhões em compulsórios e outros R$ 15 bilhões poderão entrar no sistema por meio de redução na exigência de capital dos bancos.
A liberação de recursos vinha sendo defendida publicamente pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, que chegou a discutir com o BC modelos alternativos de financiamento para veículos. Em mais de uma ocasião, disse que se as condições de crédito estivessem um pouco melhores, o crescimento da economia não estaria tão baixo. A decisão do BC, que já vinha manifestando preocupação com o ritmo desapontador da economia, vai de encontro ao que também defende a área mais política do governo.
De acordo com um outro integrante do governo, a decisão do BC de incluir na ata do Copom um recado explícito sobre a manutenção da Selic em 11% ao ano fez com que o Palácio do Planalto entendesse que a área econômica usaria outros instrumentos, que não os juros, para lidar com o aperto no crédito, um problema que já vinha sendo discutido internamente há pelo menos três meses.
Não se espera impacto significativo no mercado de crédito. Segundo a avaliação oficial, as medidas do BC "não vão fazer o crédito bombar". A intenção foi tirar travas para que a oferta de recursos pudesse voltar "à normalidade". Além disso, o governo não acredita que a atual cautela dos bancos na concessão de crédito vá mudar até que o quadro eleitoral seja definido e a política econômica do próximo governo anunciada.