Cinto de segurança: negligência que pode custar uma vida

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médica Gelma Lúcia Nunes, de 42 anos, se considera uma felizarda. Nunca sofreu acidente de trânsito grave e jamais foi multada, segundo ela, por falta de uso de cinto de segurança. “Acho um acessório importante e salva vidas. Saio até da garagem de casa com ele”, conta. Ela chefia uma equipe de resgate e acredita que a experiência com as vítimas a tenha tornado mais prudente. “Criei o hábito”, pontua.

médica Gelma Lúcia Nunes, de 42 anos, se considera uma felizarda. Nunca sofreu acidente de trânsito grave e jamais foi multada, segundo ela, por falta de uso de cinto de segurança. “Acho um acessório importante e salva vidas. Saio até da garagem de casa com ele”, conta. Ela chefia uma equipe de resgate e acredita que a experiência com as vítimas a tenha tornado mais prudente. “Criei o hábito”, pontua.

Mas a prática simples, ensinada desde a infância, tem sido  desrespeitada. De acordo com o Departamento de Trânsito (Detran-DF), o número de ocorrências desse tipo de infração mais que duplicou em um ano, chegando a 105 mil em 2013. Apenas até maio de 2014, já houve o mesmo número de registros que em todo 2012, cerca de 40 mil. Andando por Brasília, a equipe do JBr. não teve dificuldades de fazer flagrantes de desrespeito à lei.

Fatores

Apesar da estatística, especialistas e o próprio Detran-DF acreditam que não necessariamente os condutores estejam mais imprudentes. O órgão esclareceu que o aumento do número de  autuações “varia por diversos motivos e não quer dizer que as infrações foram mais ou menos cometidas, mas sim mais ou menos flagradas”.

É a mesma avaliação do professor de Engenharia de Tráfego da Universidade de Brasília (UnB), Paulo César Marques. Ele aponta, também, a dificuldade de autuar esse tipo de delito. “A infração não é flagrada por fiscalização eletrônica. Existe a necessidade da presença do efetivo na rua”, diz.  

O promotor de vendas Felipe Duque,   28, não se preocupava tanto com o uso   do cinto até 2011. Ele sofreu um acidente quando viajava pela DF-170, via que passa por Brazlândia e Sobradinho.  Felipe estava com  esposa e filho de sete anos, e só não aconteceu algo mais grave, acredita, pois todos estavam seguros. “Uma moto perdeu controle perto do quebra-molas e bateu no carro.  Foi uma freada brusca. Mesmo com   cinto, ficamos duas semanas com o peito dolorido”, conta.

Ao rol de experiências transformadoras para Felipe, ainda teve um primo que foi vítima. “Ele foi arremessado para fora do carro, pois estava solto no banco”, relembra.

Todos pagam pela imprudência

“É possível que experiências tornem as pessoas mais conscientes”, corrobora o especialista em trânsito Artur Morais. “Mas, muitas vezes, pode ser tarde demais. A pessoa pode já ter sofrido lesão permanente ou até mesmo uma fatalidade”, alerta. Para ele, é importante o investimento em campanhas de conscientização. “O processo de educação é contínuo. O que você gasta em uma campanha com certeza é mais barato que uma vida”.

De acordo com o Mapa da Violência, em 2012, a cada cem mil habitantes do DF, 14,6 foram internados pelo SUS devido a acidentes. A Secretaria de Saúde, no entanto, não dispõe de dados referentes a gastos com esses atendimentos. Já no universo nacional, o mapa aponta, citando o Ministério da Saúde, um custo   de R$ 210 milhões para as quase 160 mil internações.

Os valores reais podem ser ainda maiores. Segundo o estudo, “há um grande leque de atendimentos antes, durante e depois da internação – como atendimento no local do acidente, no traslado das vítimas, na recuperação posterior, nos gastos familiares com a internação - que não são computados”.

Campanhas

O valor levantado  é aproximadamente três vezes maior em relação às despesas com campanhas preventivas, segundo o Ministério das Cidades. Teriam sido quase R$ 78 milhões em 2013 para “publicidade de utilidade pública”, dentro do programa do Mobilidade Urbana e Trânsito, do Governo Federal.

O Ministério da Previdência Social (MPS) também divulgou  que o número de pessoas com invalidez permanente em decorrência de acidentes de trânsito   aumentou mais de 12 vezes. De pouco mais de 30 mil, em 2002, saltou para 352 mil, em 2012. Foram um milhão de benefícios pagos, ao custo de R$ 12 bilhões para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de acordo com a Seguradora Líder, responsável pelo DPVAT.

Risco de morte é muito maior sem cinto

O especialista Artur Morais explica que o cinto, ao reduzir os efeitos de uma parada brusca, ajuda a conter possíveis lesões mais graves e, com isso, diminui também os gastos  com tratamentos médicos. 

“Se você está em movimento e é interrompido bruscamente, a tendência do corpo é seguir o movimento. Então, se você está no carro e ele para, você é jogado pelo para-brisa ou contra o banco dianteiro, caso esteja sentado atrás”, resume Morais.

“Existe também o problema do efeito chicote. Quando você bate, seu corpo é jogado para frente e volta, o que pode prejudicar sua coluna. O cinto de segurança pode prevenir isso”, atenta. “Que o cinto é importante, há muito tempo já se sabe, mas só na década de 1990 que começaram a cobrar isso com mais frequência em Brasília.  As pessoas foram informadas antes, mas se esqueceram”, avalia.

Respeito

Paulo César Marques vai além e acredita que a maneira como as campanhas são veiculadas deve ser pensada com mais afinco. “Eu arriscaria dizer que o foco precisa ir além do condutor. Não dá para pensar que o trânsito mais seguro é apenas em que os condutores têm mais consciência. É fruto de uma sociedade  respeitosa”, defende. 

O acadêmico acredita que falta escopo nos passageiros, que sofrem tanto quanto os motoristas no momento do impacto. “Todo mundo precisa estar ciente das normas de segurança, tanto para utilizar quanto para cobrar dos outros”, sentencia.

A médica Gelma Lúcia Nunes garante que incentiva o marido e todos os familiares  a sempre fazer uso do cinto. Da mesma forma, o promotor de vendas Felipe Duque reforça a importância do acessório.  “Não recomendo a ninguém deixar de usar. É uma coisa simples que pode ser muito útil”, aconselha ele.

Pense nisso

O motorista pode até notar a falta de campanhas educativas relacionadas ao trânsito, mas não pode atribuir essa questão à negligência quanto ao uso do cinto de segurança. Principalmente nas grandes cidades, onde existe mais fiscalização, os cidadãos são instruídos sobre a obrigatoriedade do cinto desde a infância. Ao crescerem, são lembrados desta questão ao tirar a Carteira de Habilitação. Constantemente, são surpreendidos com notícias a respeito de acidentes fatais onde o cinto de segurança foi esquecido. Não existe desculpa. Seja o infrator o passageiro ou o condutor,  este último é o responsável pela multa, independentemente de quem esteja sem cinto, e pela segurança no trânsito.

Números

40,5 mil multas foram emitidas em 2012 por não usar cinto

127,69 reais por passageiro é o valor da multa pela infração

Cinco é a quantidade de pontos na Carteira de Habilitação

Saiba mais

Segundo a transparência do Detran-DF, foram gastos, em 2013, R$ 11,9 milhões em “Policiamento e Fiscalização de Trânsito”, e R$ 49,4 milhões em “Gerenciamento Eletrônico de Trânsito”.

Já para “Campanhas Educativas de Trânsito”, foram desembolsados R$ 4,7 milhões e outros R$ 610 mil para “Publicidade e Propaganda Institucional”.

Em dezembro do ano passado, o Jornal de Brasília mostrou que, até então, haviam sido  recolhidos em 2013 R$ 113 milhões em multas de trânsito. Na contramão disso  estava o investimento na construção de um trânsito mais seguro. Apenas 1,5% dos valores recebidos haviam sido destinados a campanhas.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

 

 

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