O perfil dos fundos de dividendos mudou consideravelmente desde setembro de 2012, quando foi anunciada a Medida Provisória (MP) 579, pacote para redução do preço da energia elétrica. O setor, até então visto como bastante seguro e previsível, perdeu espaço nos portfólios. A análise em geral é feita papel a papel, mas a resultante tem sido forte presença do segmento financeiro, ainda que não tenha tomado totalmente o reinado das elétricas. Hoje as carteiras estão mais distribuídas por setores.
O perfil dos fundos de dividendos mudou consideravelmente desde setembro de 2012, quando foi anunciada a Medida Provisória (MP) 579, pacote para redução do preço da energia elétrica. O setor, até então visto como bastante seguro e previsível, perdeu espaço nos portfólios. A análise em geral é feita papel a papel, mas a resultante tem sido forte presença do segmento financeiro, ainda que não tenha tomado totalmente o reinado das elétricas. Hoje as carteiras estão mais distribuídas por setores.
O fundo de dividendo da Vinci Partners é um exemplo marcante dessa transição. Serviços públicos, com grande peso em energia elétrica, que respondiam por cerca de 60% da carteira do fundo na época da medida, hoje são 25%. "Em 2012 começamos a ver mudanças significativas em termos de risco para o setor elétrico", diz Gustavo Kataguiri, gestor da estratégia de dividendos da casa.
Em um primeiro momento, em 2013, o sentimento negativo exagerado em relação às empresas de energia até gerou algumas pechinchas, afirma. Em seguida, entretanto, o setor perdeu espaço principalmente para empresas do segmento financeiro.
Cetip, BB Seguridade e Cielo estão entre as empresas no portfólio da Vinci. A maior presença do setor na carteira, segundo Kataguiri, resultou de uma combinação de dois fatores: as ações tinham caído bastante e estavam com preços atraentes e as companhias do segmento tinham assumido uma dinâmica interessante, com perspectiva de valorização.
Na carteira de dividendos da Venture Investimentos, a fatia do setor elétrico passou de 40% para pouco mais de 20%, em poucas companhias tidas como menos afetadas pelo pacote. A gestora busca para o portfólio empresas maduras e lucrativas, em mercados estáveis, em que tenham uma posição de monopólio ou oligopólio. "Nesse sentido, as elétricas perderam muita importância", diz João Paulo Reis, sócio da casa.
O evento com as elétricas mostrou que a estratégia de apenas priorizar dividendos, sem considerar riscos setoriais e perspectivas para as companhias, é falha e levou os gestores a reforçar o discurso de que a seleção dos papéis também considera os fundamentos da empresa, como em fundos de ações livres.
"Quando você monta a carteira tentando maximizar o retorno com dividendos, acaba correndo o risco de concentrar em um único setor", diz Rodrigo Furtado, sócio da equipe de gestão de renda variável da XP. O fato é que hoje a análise empresa a empresa, considerando não só a distribuição de dividendos mas também o potencial de valorização, leva a casa a encontrar várias oportunidades no setor de serviços financeiros. Furtado cita BM&FBovespa, Cetip, Cielo, BB Seguridade e Itaú Unibanco.
À seleção das maiores pagadoras de dividendos, a gestora do BTG Pactual adiciona filtros como a avaliação do setor em que a companhia está inserida, de sua gestão e sua posição no cenário macro, segundo Marcelo Flora, responsável pela distribuição de fundos de investimento da casa.
As maiores participações da carteira de dividendos do BTG hoje, como resultado dessa estratégia, são serviços financeiros, com 20% do patrimônio, bancos com 13% e transporte e logística com 10%. Apenas cerca de 5% dos recursos investidos no fundo são destinados aos segmentos de energia elétrica e telecomunicações.
O fundo de dividendos do Santander tem hoje 30% do patrimônio investido no segmento financeiro. "O setor se enquadra bem pela previsibilidade do fluxo de caixa", diz Roberto Reis, superintendente de gestão de fundos.
"O dividendo é parte da estratégia, não o objetivo principal", diz Antenor Fernandes, sócio e gestor da STK Capital. Hoje as maiores posições do fundo da casa são Itaúsa, Kroton, Equatorial, BM&FBovespa, Cosan e BB Seguridade. Kroton é apontada por Fernandes como um exemplo de companhia que historicamente paga poucos dividendos, mas que é vista como com grande potencial de valorização.
Richard Ziliotto, sócio da gestora de patrimônio Taler, diz que a exposição às distribuidoras de energia na carteira de dividendos oferecida pela casa se reduziu bastante desde 2012. "O caminho foi buscar empresas de outros setores para montar uma carteira mais diversificada", diz. Ele ressalva, entretanto, que esses fundos acabam suscetíveis a movimentos de setor.
Fonte: Valor econômico