O Brasil está fora da preferência de grandes bancos quando o assunto é investimento em ações, ao menos até o fim do ano. Em suas previsões para os próximos meses, algumas casas chegam a estar com posição acima da média ("overweight") para os mercados emergentes, mas as escolhas estão fora da América Latina. E, na região, o Brasil é um dos menos favorecidos.
O Brasil está fora da preferência de grandes bancos quando o assunto é investimento em ações, ao menos até o fim do ano. Em suas previsões para os próximos meses, algumas casas chegam a estar com posição acima da média ("overweight") para os mercados emergentes, mas as escolhas estão fora da América Latina. E, na região, o Brasil é um dos menos favorecidos.
Números decepcionantes da economia e a iminência das eleições presidenciais deixam os gestores na retranca. Citibank e BTG Pactual recomendam posição abaixo da média do mercado para Brasil ("underweight") em relatórios recentes. O banco americano tem a mesma posição ao menos desde o começo de 2013. No caso do BTG, a posição é a mesma pelo menos desde abril.
UBS e Credit Suisse estão com visão "neutra". O UBS cortou a recomendação, que era "overweight", em maio do ano passado. O rebaixamento do Credit Suisse é recente: aconteceu em 10 de junho último. O Citibank ainda está otimista com os mercados emergentes e aposta em China, Turquia, Rússia e Taiwan. Mas o banco está "underweight" em América Latina, com a mesma visão para Brasil e Chile. No caso do México, a recomendação "neutra".
Para o Brasil, os estrategistas do Citi cortaram a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,3% em 2014 para 0,9%. Em contraste, esperam que o PIB do México cresça 3% no ano. Para os especialistas, o Ibovespa deve estar em torno de 55 mil pontos ao final de 2014 - abaixo do nível atual, de 57 mil pontos - e 60 mil pontos na metade de 2015.
O BTG Pactual também diz que o cenário macroeconômico do Brasil continua se deteriorando e o político ainda está incerto. Colômbia e México são "overweight" (acima da média); Chile e Peru têm recomendação "neutra".
UBS e Credit Suisse têm visões melhores para o Brasil. O diretor de investimentos para mercados emergentes do UBS, Jorge Mariscal, disse ao Valor, de Nova York, que está neutro tanto para emergentes quanto para o Brasil. "A recomendação é para seis meses, um horizonte de tempo relativamente de curto prazo." Para os emergentes em geral, Mariscal afirma que a possibilidade de alta dos juros nos EUA é um dos principais pontos que o deixa conservador.
Segundo o diretor do UBS, uma recuperação da economia americana não é uma notícia ruim para todos os emergentes, porque crescimento econômico é bom para muitos deles. Mas alguns são mais suscetíveis a elevação de juros, e o Brasil pode ser um deles. "É verdade que desde maio do ano passado, quando Ben Bernanke [ex-presidente do Federal Reserve, o banco central dos EUA] falou sobre o 'tapering' e os emergentes sofreram bastante, muitas mudanças aconteceram e os 'cinco frágeis' estão menos vulneráveis", diz. Isso quer dizer que o grupo, que além do Brasil inclui Turquia, Índia, Indonésia e África do Sul, está com moedas desvalorizadas, acumulou mais reservas externas e alguns melhoraram as contas fiscais.
Já no âmbito doméstico, as dinâmicas diferem. Na Índia, os investidores estão animados com um novo governo federal que promete passar reformas econômicas no parlamento. Quanto à Rússia, Mariscal afirma que a economia segue muito fraca e que o país ainda não resolveu os problemas com a Ucrânia.
Para ele, o Brasil tem uma economia relativamente fraca. "Para onde quer que se olhe há indicadores mais fracos da economia, abaixo do esperado nos últimos dois meses." Sobre eleições, o diretor do UBS diz que as projeções dependem muito do que o próximo governo fará. "Se Dilma Rousseff for reeleita, haverá apenas mudanças marginais na política econômica", diz. Entre as medidas pode estar um reajuste de preços de energia.
Nesse caso, o potencial de alta para as ações brasileiras é limitado. Mas a vitória da oposição também traz dúvidas. "Pode significar mudança, Eduardo Campos e Aécio Neves têm postura menos intervencionista, o que pode atrair investimentos externos e elevar o investimento interno, que é um dos menores dos emergentes", afirma. Ele ressalva no entanto que, sem saber de mais detalhes de programas dos candidatos, é difícil definir quão realistas são as propostas. "Por isso não quero ter grandes apostas sobre as eleições e sigo neutro."
No Credit Suisse, os analistas Alexander Redman e Arun Sai estão "neutros" tanto em emergentes quanto em Brasil. Os preferidos são Coreia do Sul, Índia e Polônia. Eles dizem em relatório poucas evidências de que o Brasil levará a cabo reformas em setores estruturais, como as realizadas no México.