Mercado ainda não está pronto para fim de intervenções do BC

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O câmbio pode experimentar o ajuste necessário para equilibrar a conta corrente no próximo ano, passada a incerteza com o cenário eleitoral e com a expectativa de que a economia americana dê sinais mais contundentes de recuperação. Por ora, contudo, a taxa cambial anda está "desajustada" e tem sido mantida assim principalmente pela preocupação do lado inflacionário, diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do Modal Asset Management.

O câmbio pode experimentar o ajuste necessário para equilibrar a conta corrente no próximo ano, passada a incerteza com o cenário eleitoral e com a expectativa de que a economia americana dê sinais mais contundentes de recuperação. Por ora, contudo, a taxa cambial anda está "desajustada" e tem sido mantida assim principalmente pela preocupação do lado inflacionário, diz Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor do Modal Asset Management.

Segundo o gestor, o receio de que a inflação feche o ano acima da meta de 6,5% ajuda a explicar a decisão do BC de renovar o programa de swaps cambiais, a despeito da acomodação nos mercados externos, que abriu espaço para que outros BCs emergentes reduzissem ou mesmo interrompessem ações para defender suas moedas. Alguns emergentes, como Índia e Indonésia, conseguiram reduzir seus déficits em conta corrente, ajudados pela desvalorização em suas taxas de câmbio e também por reformas de políticas econômicas.

Para Portella, mantidas as atuais condições, apenas um dólar em torno de R$ 2,50 ou R$ 2,60 permitiria o esperado alívio no déficit em transações correntes, que foi recorde em maio e de novo não inteiramente financiado pelos investimentos estrangeiros diretos.

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Valor: O que pode tirar o dólar da casa dos R$ 2,20 em que a moeda tem operado desde março?

Luiz Eduardo Portella: O principal elemento que pode tirar o dólar dessa estabilidade que estamos vendo é o comportamento da moeda no mundo, que vai depender muito dos números da economia americana, que precisam mostrar sinais mais fortes de recuperação antes que o dólar comece a subir. Eu vejo duas economias americanas. Uma em que o emprego está bom, mas outra em que o componente da economia real está decepcionando. Entramos o ano com uma expectativa de que os EUA crescessem 3%, agora caminhamos para 2%. Esse crescimento menor acaba influenciando na postergação de alta de juros, mantendo a liquidez elevada para os emergentes.

Valor: Com essa leitura, a liquidez deve continuar elevada no curto e médio prazo. Então por que o Banco Central decidiu renovar o programa de leilões de câmbio?

Portella: De fato, o BC do Brasil ainda é um dos poucos entre os emergentes que continua intervindo no mercado de câmbio. Acredito que isso ocorre por causa da inflação. O BC até chegou a comprar mais dólares [via swaps] num mês do que vender, aumentando a dúvida se ele ia reduzir as vendas de swaps ou até interrompê-las. Só que rapidamente o dólar saiu de R$ 2,20 para quase R$ 2,30. A velocidade desse movimento pode ter acendido a luz amarela no BC, porque mostrou que o mercado ainda não está preparado para a saída dele. A essa altura, um câmbio ainda mais desvalorizado pioraria ainda mais as expectativas de inflação. Acho que talvez o principal motivo para a renovação do programa seja segurar uma alta do dólar e evitar que isso contamine as expectativas inflacionárias. Tem ainda o lado do investimento também. Se você reduz a volatilidade da moeda, torna o ambiente para investimento mais previsível.

Valor: O senhor disse que o BC é um dos poucos entre os emergentes que continua atuando no mercado. Neste ano, o real é a moeda emergente que mais sobe diante o dólar. Isso pode atrasar a ajuste visto como necessário nas transações correntes e colocar o Brasil numa posição mais frágil em relação a seus pares, que têm permitido que suas moedas flutuem mais livremente?

Portella: O que dá para dizer é que o câmbio, juntamente com os preços administrados, é uma variável que claramente está fora do lugar. Outros emergentes deixaram as moedas flutuarem mais e já veem um ajuste em sua conta corrente. Acho que após as eleições e com uma retomada mais firme da economia americana poderemos começar a ver esse ajuste. Do contrário, corremos o risco de ver uma reversão na trajetória da dívida líquida, que passaria a subir. Nos nossos cálculos, com o câmbio no atual nível, mesmo que o superávit primário saia de 1,3% do PIB neste ano para 1,7% em 2015 e 2,1% em 2016, a dívida líquida subiria de 34% para 40%. Não é que essa dívida seja explosiva, mas essa alta marcaria uma reversão do movimento dos últimos anos.

Valor: Que nível de câmbio permitiria o ajuste nas transações correntes e impediria um crescimento da dívida líquida?

Portella: Mantidas as demais variáveis estáveis, um câmbio em torno de R$ 2,50, R$ 2,60 é o recomendável.

Valor: O que esperar da política monetária brasileira nos próximos meses e em 2015?

Portella: A atividade tem se mostrado mais fraca que o esperado, e sem dúvida isso tem mudado as expectativas do mercado para a política monetária. Nós esperávamos que o BC voltasse a subir o juro no fim deste ano, mas agora vemos a retomada do ciclo de aperto monetário apenas para 2015.

Valor: O que explica essa previsão de alta de juros em 2015?

Portella: Existe uma inflação contratada para 2015 que vai exigir mais alta de juro, em parte pelos ajustes pós-eleição. O impacto de choques agrícolas deve ainda ser visto por alguns meses, vai haver uma correção na defasagem dos preços administrados e esperamos que o câmbio se desvalorize. Se o câmbio for a R$ 2,50, R$ 2,60 e os preços dos administrados forem elevados em 13,5% como prevemos, o IPCA pode ir bem acima de 6,5%, talvez 8%. Para manter o juro real, o BC precisaria subir a Selic na mesma magnitude. Ou seja, a Selic pode ir a 12,5% no ano que vem.

 

 Fonte: Valor econômico

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