Depois de 17 meses consecutivos de saída de recursos dos fundos renda fixa índices, período em que o patrimônio encolheu em R$ 15 bilhões, as entradas superaram os resgates em junho. Ao contrário do que reza a cartilha, a rentabilidade passada explica esse comportamento. Essas carteiras, recheadas de títulos que pagam uma taxa prefixada mais a variação da inflação, foram as mais rentáveis na primeira metade do ano, com ganho de 7,55%. O risco de um segundo semestre mais fraco, entretanto, é elevado, segundo gestores e alocadores. Os investidores podem estar atrasados, como tem sido comum no histórico dessas carteiras.
Depois de 17 meses consecutivos de saída de recursos dos fundos renda fixa índices, período em que o patrimônio encolheu em R$ 15 bilhões, as entradas superaram os resgates em junho. Ao contrário do que reza a cartilha, a rentabilidade passada explica esse comportamento. Essas carteiras, recheadas de títulos que pagam uma taxa prefixada mais a variação da inflação, foram as mais rentáveis na primeira metade do ano, com ganho de 7,55%. O risco de um segundo semestre mais fraco, entretanto, é elevado, segundo gestores e alocadores. Os investidores podem estar atrasados, como tem sido comum no histórico dessas carteiras.
A relação dos investidores com os fundos renda fixa índices tem sido de gato e rato. Quando os aplicadores chegam em massa animados com o retorno passado, a fartura acaba. Quando o grupo se assusta e resgata, o ganho vem. Esse movimento ficou claro quando, depois de ganhar 21,71% em 2012, esses fundos tiveram um pico de captação líquida, de R$ 7 bilhões em janeiro de 2013. Ao longo do ano, contudo, esses investidores amargaram prejuízo de 3,43%.
No primeiro semestre, R$ 4 bilhões deixaram os renda fixa índices, mas em junho, estimulada pelos ganhos, a captação voltou a ficar positiva em R$ 433 milhões.
Na contramão do fluxo para fundos, o Credit Suisse acaba de reduzir a alocação em títulos indexados à inflação, as NTN-Bs, para seus clientes de alto patrimônio. O padrão neutro da casa é destinar 10% dos recursos do investidor a esse tipo de papel, agora diminuídos para 7%. "Começamos a reduzir desde o fim de maio e hoje estamos levemente subalocados", diz Sylvio Castro, corresponsável pela gestão dos fundos exclusivos da Credit Suisse Hedging-Griffo (CSHG).
As NTN-Bs ganharam valor no primeiro semestre por conta de um ajuste para baixo na expectativa dos juros. O cenário foi muito diferente do que o desenhado no começo do ano. No campo externo, a atividade econômica americana decepcionou, a política monetária manteve-se frouxa e os títulos públicos do país perderam prêmio ao invés de ganhar. Dentro de casa, o banco central brasileiro pôs fim ao ciclo de alta dos juros e a sensação de risco institucional perdeu força.
As taxas cederam. No Tesouro Direto, sistema de venda de títulos pela internet, o juro prefixado da NTN-B principal com vencimento em 2019 caiu de 6,2% para 5,69% no semestre. No papel mais longo, para 2050, a taxa foi de 6,52% para 6,13%.
"Tendo a acreditar que esse prêmio que se acumulou no primeiro semestre vai ser parcialmente consumido no segundo", diz Castro. Contra um ganho de capital nos papéis mais curtos, pesa o cenário interno. "Com a inflação desancorada e o fiscal frouxo, como o governo vai baixar juro?", questiona. Os vencimentos mais distantes oscilam ao sabor do cenário externo. Nesse caso, o gestor aponta que os dados de atividade da economia americana têm se mostrado mais robustos.
Para Castro, o juro das Treasuries com vencimento em dez anos, hoje por volta de 2,6%, pode chegar a 3,2% no segundo semestre. Se isso acontecer, diz, as taxas também devem abrir por aqui. Essa possibilidade aponta contra um segundo semestre tão farto quanto o primeiro, mas não necessariamente vai levar os renda fixa índices a ter desempenho negativo, afirma, porque ainda que não haja ganho de capital a taxa dos papéis que essas carteiras carregam é elevada.
As taxas dos títulos americanos até podem cair de novo, diz Reinaldo Le Grazie, diretor de renda fixa e multimercados da Bradesco Asset Management (Bram). "Os sinais são mistos, mas tenho impressão de que há uma assimetria, é mais fácil subir do que cair em função dos dados de atividade", afirma. A taxa de desemprego, indicador importante para que o governo americano decida dar início a uma elevação nos juros, assumiu em junho o menor patamar desde setembro de 2008, de 6,1%.
O nível baixo dos juros nos EUA foi a grande surpresa da primeira metade do ano, diz Le Grazie. "É possível que o cenário que se esperava para o começo do ano, que no primeiro semestre não aconteceu, venha no segundo semestre", diz.
Quem investe em fundo renda fixa índices deveria ter assim, diz o gestor da Bram, um horizonte de investimento mais longo do que um semestre, algo em torno de dois a três anos. Para o longo prazo, a expectativa é de um mundo com crescimento e juro mais baixo, concorda Bruno Horovitz, responsável pela distribuição da Icatu Vanguarda. E, nesse caso, títulos públicos que pagam taxa real por volta de 6% parecem atraentes.
Para o curto prazo, entretanto, Horovitz considera que ainda há riscos para uma elevação na taxa e, assim, perda de capital. "Toda essa melhora que teve no que tange a fatores internos no primeiro semestre foi muito na base da expectativa", diz Horovitz. Para ele, se a possibilidade de reeleição voltar a crescer nas pesquisas, a percepção de risco pode estressar as taxas. Questões fiscais também podem pesar. Na semana passada, a divulgação do resultado fiscal do setor público referente a maio, o pior da série histórica, pressionou as taxas.
Os fundos da Icatu mais ativos em renda fixa ganharam no primeiro semestre com a expectativa de que o ciclo de alta da Selic não seria tão alto quanto estava refletido nos preços. Agora os gestores da casa não veem mais gordura nos vencimentos próximos. Nas últimas semanas, a casa começou a montar posições na parte mais longa da curva de juros. São ainda pequenas, mais táticas do que apostar em grandes movimentos direcionais, principalmente considerando a correlação desses vencimentos com o risco Brasil.
A Western Asset tem uma visão mais positiva para os renda fixa índices - ainda que isso não signifique necessariamente um semestre tão rentável quanto o primeiro - também por uma aposta no fechamento das taxas de juro longas. Além de o banco central americano ter sinalizado que as taxas de juros vão continuar reduzidas por um longo período de tempo, há políticas monetárias acomodatícias espalhadas pelo mundo, como no Japão e na Europa.
O alto nível relativo dos juros brasileiros tende a atrair um fluxo estrangeiro para os vencimentos longos, considera Nicolas Saad, gestor de renda fixa da Western Asset, que aumentou o prazo médio das carteiras no segundo trimestre. Para completar o ambiente confortável e atraente ao investidor estrangeiro, diz, a continuidade da intervenção do Banco Central brasileiro no câmbio reduz a volatilidade da moeda.
Há fatores de risco internos que podem pressionar a taxa para cima, diz Saad, como a inflação ainda elevada e a política fiscal desafiadora, mas, para ele, a principal variável a ser monitorada é o ambiente internacional.
Para Sandra Petrovsky, diretora da Votorantim Asset Management (VAM), é provável que os renda fixa índices fechem o ano como uma das melhores opções de fundos em termos de rentabilidade, ainda que a magnitude dos ganhos possa ser diferente no segundo semestre.
Sandra também aposta nos prazos mais longos e não enxerga grande possibilidade de ganho nos títulos de vencimento próximo. "Vejo um prêmio pelo fato de os EUA não crescerem em ritmo tão forte e a liquidez mundial estar altíssima", diz. Ela considera que a aplicação nas NTN-Bs via fundos e não diretamente tem uma vantagem nesse momento, já que pode ser necessária uma gestão ativa rápida ao sabor dos movimentos do Fed, o banco central americano.