A indústria de fundos de investimentos fechou o primeiro semestre de 2014 praticamente no zero a zero no quesito captação de recursos. Com o cenário interno e externo indefinidos, o investidor tem ficado na retranca e privilegiado a liquidez. Entre as modalidades que mostram captação líquida positiva, as de fundos referenciados DI e de curto prazo foram destaques.
A indústria de fundos de investimentos fechou o primeiro semestre de 2014 praticamente no zero a zero no quesito captação de recursos. Com o cenário interno e externo indefinidos, o investidor tem ficado na retranca e privilegiado a liquidez. Entre as modalidades que mostram captação líquida positiva, as de fundos referenciados DI e de curto prazo foram destaques.
O mercado de fundos de investimentos teve captação líquida de apenas R$ 1,9 bilhão de janeiro a junho, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima). No mesmo período de 2013, a entrada de recursos tinha sido de R$ 103 bilhões. O desempenho do setor de gestão no primeiro semestre deste ano foi o pior desde 2002 para o período, quando o segmento viu saída de recursos de R$ 22,9 bilhões.
Como este ano, 2002 foi um ano eleitoral. Naquela época, houve forte aversão a risco no mercado financeiro por conta da possível vitória do então candidato da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva. O maior impacto para o segmento de fundos naquele ano, porém, foi o da marcação a mercado dos ativos dos fundos, destacou Carlos Massaru Takahashi, vice-presidente da Anbima. Na avaliação do executivo, não é possível comparar o cenário eleitoral atual com o daquele ano. "Em 2002 havia uma perspectiva concreta de mudança de poder que, talvez, não tínhamos visto desde a ditadura", disse em teleconferência com jornalistas.
A dinâmica do fluxo de recursos externos para o país tem afetado mais o desempenho dos ativos - e consequentemente a rentabilidade dos portfólios - do que os fundamentos macroeconômicos, avalia Takahashi. Segundo ele, a tímida captação da indústria no primeiro semestre reflete também uma migração de recursos para outros produtos de investimento. Ele citou como exemplo a maior aplicação em LCIs e LCAs por pessoas físicas, que têm incentivo tributário para comprar esses papéis. Os investidores "private", de alta renda, resgataram R$ 2,9 bilhões de fundos no primeiro semestre, enquanto os investidores de varejo aportaram R$ 1,8 bilhão.
Os fundos de pensão também sacaram recursos da indústria. A explicação é de que eles resgataram dinheiro de gestores para aproveitar a alta dos retornos pagos por títulos públicos de longo prazo atrelados a inflação, que eles carregam em carteiras próprias. As fundações tiraram R$ 4,9 bilhões de fundos de janeiro a junho.
O maior saque, porém, foi das empresas, que tiraram R$ 21,4 bilhões de fundos no período. Os estrangeiros sacaram outros R$ 2,2 bilhões - em igual período de 2013 haviam aplicado R$ 4,9 bilhões. Na direção oposta, o poder público colocou R$ 14,2 bilhões em fundos, mas em menor volume do que em igual período do ano anterior (R$ 27,4 bilhões).
O vice-presidente da Anbima destacou que a indústria de fundos está em um momento de transição, mencionando a reforma da resolução nº 409. Segundo ele, a Anbima está finalizando as suas sugestões sobre a norma para enviar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Takahashi disse que a Anbima vai sugerir alterações nos valores de aplicação que diferenciam os investidores qualificados e profissionais. Pelo texto em audiência pública, será considerado qualificado quem tiver mais de R$ 1 milhão em aplicações e profissional quem superar R$ 20 milhões. A CVM prorrogou para 10 de julho o prazo para o envio de sugestões.