O Banco Central assume, em ata de seu Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, que está em curso um cenário de desaceleração econômica e sustenta que, "na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados". A mensagem reduz as chances de o colegiado voltar a subir os juros nos próximos meses.
O Banco Central assume, em ata de seu Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, que está em curso um cenário de desaceleração econômica e sustenta que, "na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados". A mensagem reduz as chances de o colegiado voltar a subir os juros nos próximos meses.
A ata detalha as razões da manutenção do juro básico da economia em 11% ao ano em reunião realizada na semana passada, dando uma pausa ou fim definitivo ao ciclo de aperto monetário que acumula 3,75 pontos percentuais de alta. A decisão era amplamente esperada, mas o Copom sinalizou que poderia voltar a subir a taxa básica, ao afirmar em comunicado que a manutenção dos juros básicos era uma decisão que se aplicava "neste momento".
"O Copom pondera que o ritmo de expansão da atividade doméstica tende a ser menos intenso este ano, em comparação ao de 2013", afirma a ata. Até então, o colegiado trabalhava com o cenário em que o crescimento econômico se manteria estável neste ano em relação ao anterior. Muitos analistas econômicos esperavam que, ao mesmo tempo que reconhecesse a desaceleração econômica, o Banco Central enfatizasse que há riscos no cenário inflacionários - e que, caso eles se tornassem realidade, os juros voltariam a subir. Em setembro de 2010, quando o BC presidido por Henrique Meirelles interrompeu um ciclo de alta de juros em situação semelhante, o Copom disse explicitamente em sua ata que voltaria a apertar a política monetária se o cenário traçado se mostrasse equivocado. Na ata de ontem, o Copom apenas voltou a repetir mensagem de documentos anteriores de que se manteria vigilante. O Copom diz, no documento, que todas as suas projeções de inflação para 2014 e 2015 melhoraram desde sua reunião anterior, do começo de abril, com exceção dos exercícios feitos para o ano que vem no chamado cenário de mercado, que se manteve estável. Na ata, o BC não diz exatamente suas projeções, apenas indica em linhas gerais seu patamar e evolução. Ainda assim, as projeções seguem acima do centro da meta de inflação, definido em 4,5% para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). O documento divulgado ontem reafirma que há resistência dos índices de inflação e que, entre os fatores que concorrem para isso, há "dois importantes processos de ajustes de preços relativos ora em curso na economia - realinhamento dos preços domésticos em relação aos internacionais e realinhamento dos preços administrados em relação aos livres". O Copom, diz, na ata, que "reafirma visão" de que a política monetária "pode e deve conter os efeitos de segunda ordem" decorrentes desses dois fatores e enfatiza que para tanto "nos últimos 12 meses as condições monetárias foram apertadas". Conter os efeitos de segunda ordem, no jargão do BC, significa impedir que a alta do câmbio e dos preços administrados afete a inflação e leve a ondas de reajustes de outros preços da economia. A ata deixa implícita a ideia de que o Copom vai tolerar, no intervalo das metas, o efeito direto do reajuste de preços administrados. O Copom também usa uma linguagem menos assertiva sobre o reequilíbrio num prazo relativamente curto, que possa contribuir para conter as pressões inflacionárias mais imediatas, entre a absorção doméstica e Produto Interno Bruto (PIB), devido a fatores positivos como uma nova composição da demanda agregada (mais investimento e menos consumo) e aumento nos ganhos de produtividade. O comitê ainda entende que são mudanças que vão ocorrer, mas indica que elas devem se materializar no "médio prazo" e em prazos mais longos. O comitê também passa a considerar que a retomada da competitividade da indústria - em virtude da valorização do dólar - deve ocorrer em prazos mais longos, e não no horizonte mais imediato da política monetária, como sugeria até então. Na avaliação sobre o quadro internacional, o BC manteve a perspectiva de ritmo de crescimento mais intenso, apesar dos indicadores recentes. Para o colegiado, no entanto, mesmo com baixa probabilidade de eventos extremos, "o ambiente externo permanece complexo".