Foi entre os bancos privados que os repasses do BNDES ganharam mais velocidade no último ano. Ainda que o spread tenha se mantido o mesmo no período, não houve como ignorar a forte demanda das empresas pelas linhas do banco de fomento. Em especial em um momento que as demais modalidades de crédito corporativo têm crescido de forma tímida, influenciadas pela falta de confiança na economia.
Foi entre os bancos privados que os repasses do BNDES ganharam mais velocidade no último ano. Ainda que o spread tenha se mantido o mesmo no período, não houve como ignorar a forte demanda das empresas pelas linhas do banco de fomento. Em especial em um momento que as demais modalidades de crédito corporativo têm crescido de forma tímida, influenciadas pela falta de confiança na economia.
Os empréstimos com recursos livres, que incluem modalidades tradicionais como capital de giro, ACC e conta garantida, crescem a uma taxa de 5,9% no acumulado em 12 meses encerrados em março. Longe, portanto, da velocidade com que avança o repasse do BNDES (17,8%).
"Se eu não fizer a operação de BNDES da empresa, um outro banco faz. Aí corro o risco de perder o cliente como um todo", afirma o executivo de um banco estrangeiro responsável pela área. Isso ajuda a explicar o porquê do maior apetite dos privados pela linha. Dados do Banco Central (BC) mostram que, em janeiro de 2013, o crescimento anualizado dos repasses de bancos privados estava em 1,1%. Em dezembro, havia saltado para 13,8%. Em novembro de 2012, essas operações recuaram 4,2%.
Na outra ponta, os bancos públicos, embora ainda cresçam a altas taxas, perderam velocidade. Em dezembro de 2013, o crescimento anual dos repasses nas instituições financeiras de controle do governo chegou a 31,2%, depois de cravar 38% em julho do mesmo ano.
"Se eu avalio o repasse de forma isolada, uma operação de até sete anos de prazo com um spread de 1,5% não é a melhor remuneração para o capital do banco. Só que essa é uma operação que tem que ser olhada em um contexto mais amplo, do relacionamento com o cliente", afirma Carlos Leibowicz, diretor do segmento de médias empresas do HSBC. O executivo diz que o banco tem buscado ampliar o número de operações de repasse como forma de fidelizar as companhias do portfólio.
O maior apetite por repasses também tem relação com o processo de melhora da qualidade das carteiras das instituições financeiras. "As linhas de financiamento de caminhões e máquinas acabam sendo uma boa alternativa em termos de garantia e segurança da operação", afirma o diretor de relações com investidores do Banco Daycoval, Ricardo Gelbaum. Para o executivo, o crescimento das operações de repasses foi concentrado mais em grandes empresas que em pequenas e médias.
No Banco Pine, as linhas de repasse de BNDES cresceram 33,5% no acumulado em 12 meses, chegando a um estoque de R$ 1,1 bilhão em março. No mesmo período, a margem financeira contábil do banco caiu 1,2 ponto percentual, para 3,6%, num movimento que o banco atribuiu à pressão dos spreads em empréstimos a empresas.
Outro banco de médio porte, o ABC Brasil, se beneficiou do aumento dos repasses, em especial no fim do ano passado. "No último trimestre do ano de 2013, tivemos um bom volume de operações de repasse", afirma Alexandre Sinzato, diretor de relações com investidores do banco.
O ritmo de crescimento do crédito concedido diretamente pelo BNDES tem diminuído quase na mesma proporção em que cresceram os repasses. Em janeiro do ano passado, o estoque de crédito concedido diretamente pelo banco de fomento crescia a uma taxa de 19,2% ao ano. Em março deste ano, o avanço foi de 13,3%, para R$ 285,2 bilhões.
A expectativa de que o ano traga desembolsos para projetos de infraestrutura deve ajudar a recuperar o volume de operações diretas, uma vez que o BNDES não costuma repassar tais operações. Segundo o executivo de um grande banco, o BNDES tem dado preferência neste ano a projetos de prazos maiores, entre 10 a 12 anos. E, embora faça os desembolsos de forma direta, tem incluído as demais instituições financeiras na operação via concessão de avais ou de operações sindicalizadas.
O próprio BNDES corrobora a expectativa de crescimento "significativo" dos desembolsos em infraestrutura, afirmou o banco em nota. "Mesmo com esta alta [dos desembolsos de infraestrutura], também há espaço para que outros bancos atuem junto com o BNDES nos projetos de maior porte, seja compartilhando parte do risco dos projetos, seja como co-financiadores."
Fonte: Valor econômico