Emergentes voltam a receber recursos

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Passada a tormenta que arrastou investimentos para fora dos países emergentes, investidores começam a retomar as aplicações nesses mercados. Nos últimos meses, os saques de fundos dedicados a eles deram uma trégua e, embora o saldo líquido ainda seja negativo em relação ao início do ano passado, o "buraco" está diminuindo.

Passada a tormenta que arrastou investimentos para fora dos países emergentes, investidores começam a retomar as aplicações nesses mercados. Nos últimos meses, os saques de fundos dedicados a eles deram uma trégua e, embora o saldo líquido ainda seja negativo em relação ao início do ano passado, o "buraco" está diminuindo.

A melhora foi notada nas principais economias emergentes, sinalizando que o receio de uma crise generalizada foi, aos poucos, superado. A expectativa agora é que os fluxos se recuperem gradualmente - sob a premissa de que o Federal Reserve não trará surpresas, mantendo a redução dosada de suas compras de ativos.

"Esperamos uma recuperação gradual nos fluxos para emergentes", afirma Robin Koepke, economista e especialista em fluxos globais do Institute of International Finance (IIF). O principal risco a esse cenário, segundo ele, é o Fed antecipar a alta na taxa de juros. "O mercado está precificando a primeira alta em meados de 2015. Se isso mudar, por exemplo, para o fim deste ano, terá um impacto significativo."

Investidores começaram a retirar aplicações de países emergentes em maio de 2013, quando o Fed sinalizou pela primeira vez a redução dos estímulos. Com a reviravolta, os fundos dedicados a ações e bônus de emergentes, que acumulavam fluxos líquidos positivos, passaram a sofrer saques e fecharam o ano em baixa. De acordo com dados da consultoria EPFR Global, ao fim de 2013, os fundos dedicados a ações do Brasil acumulavam saída líquida de US$ 7,4 bilhões e os de bônus tinham perda de US$ 5,2 bilhões no ano.

Do fim de 2013 até meados de março deste ano, a saída acumulada de recursos só aumentou, chegando a quase US$ 11 bilhões nos fundos de ações e a US$ 7,4 bilhões nos de bônus. A partir daí, contudo, os saques deram uma trégua. Em 14 de maio, último dado da EPFR, os fundos de ações brasileiras acumulavam saída líquida menor, de US$ 9,2 bilhões, e os de bônus, de US$ 7,2 bilhões em relação ao início de 2013.

O Brasil, inclusive, estaria na dianteira desse processo de acordo com o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini. "O Brasil tem liderado o processo de atração de recursos para emergentes. Temos tomado ações que colocam o Brasil bem posicionado neste momento de maior normalização das condições", disse ele em discurso no início do mês.

Questionado, o BC justificou a afirmação com base em dados da Datastream que mostram que, dos países emergentes que divulgaram os dados de fluxos no primeiro trimestre, o Brasil foi o que mais recebeu investimentos líquidos em carteira (US$ 11,96 bilhões) e investimentos estrangeiros diretos (US$ 14,17 bilhões).

Dados mais recentes da EPFR mostram que o Brasil teve forte recuperação nos investimentos em ações e uma retomada um pouco mais modesta nas aplicações voltadas para renda fixa. A comparação com os fluxos de outros emergentes, contudo, é mais complicada. "É difícil dizer com precisão se o Brasil está liderando esse processo", diz Marco Freire, diretor de renda fixa da Franklin Templeton.

De 19 de março, quando os fundos dedicados a ações brasileiras acumulavam a maior perda líquida em relação ao início de 2013 (US$ 10,9 bilhões), até o último dia 14, houve uma recuperação de US$ 1,7 bilhão nesses fluxos. Enquanto isso, outros emergentes tiveram melhora mais modesta. No caso do México e da Rússia, por exemplo, a retomada foi de US$ 316 milhões e US$ 707 milhões, respectivamente. No caso dos fundos de bônus, por outro lado, o Brasil recuperou US$ 159 milhões entre 26 de março - pico da saída líquida- e 14 de maio, menos que outros países desde os seus piores momentos.

Já no retrato mostrado pelo balanço de pagamentos brasileiro, a renda fixa é destaque. Os dados do BC, que incluem aplicações externas em títulos públicos negociados no país, mostram que os investimentos estrangeiros nessa modalidade tiveram entrada líquida de US$ 11,6 bilhões entre janeiro e março, o equivalente a 50,6% do volume de todo o ano de 2013. Enquanto isso, os ingressos para ações acumularam saldo de US$ 319 milhões, o que representa apenas 2,7% do total de 2013.

Freire explica que grande parte das aplicações em ações dos últimos meses é fruto de realocações de recursos e, portanto, não é entrada de capital novo. Já o fôlego da renda fixa, em sua avaliação, não deve se manter no longo prazo por fazer parte de um movimento global de otimismo. "Acho que não [é sustentável]", afirma.

Ramon Aracena, economista-chefe de América Latina do IIF, destaca que, desde o começo de abril o sentimento do mercado global melhorou muito, o que contribuiu para a retomada dos fluxos para emergentes. No caso brasileiro, ele cita dois incentivos adicionais: as taxas de juros elevadas e as intervenções cambiais promovidas pelo BC. "Essa resposta política tem mitigado o risco de perdas por conta da depreciação da moeda local", disse ele.

A partir de agora, contudo, a sustentabilidade desses fluxos dependerá dos fundamentos econômicos de cada mercado, na opinião dos especialistas. Segundo Freire, os países terão que fazer "ajustes duros" à frente para se manter atrativos. Aracena, por sua vez, destaca que para atrair capital de forma sustentável é preciso ter uma economia balanceada. "O mercado precisa confiar que pode haver entradas e saídas em alguns momentos, mas que o país não vai ter um grande problema", afirma.

Para Koepke, os fluxos para emergentes estarão sujeitos também ao ritmo da normalização da política monetária americana. "Se a inflação nos EUA subir mais que o esperado, o Fed pode acelerar o ritmo de alta dos juros e isso poderia causar um 'sell-off' nos mercados emergentes", afirma. Aracena afirma que é possível que os emergentes sofram alguma saída de recursos quando os juros começarem a subir, mas isso não será o prenúncio, necessariamente, de uma nova tempestade para esses países. "Será um novo equilíbrio da economia mundial", prevê.

 Fonte: Valor econômico

 

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