Desde março, as especulações em torno da corrida eleitoral e do próximo governo têm gerado forte repercussão nos mercados. A aposta no avanço dos candidatos da oposição nas pesquisas eleitorais e na possibilidade de vitória de um governo considerado mais pró-mercado vem ajudando a acentuar a queda do dólar e das taxas de juros no mercado local, enquanto a BM&FBovespa vive um período de valorização. Alguns analistas, no entanto, já apontam os riscos envolvendo esse otimismo considerado "exagerado", alertando para uma possível correção caso as expectativas não se concretizarem.
Desde março, as especulações em torno da corrida eleitoral e do próximo governo têm gerado forte repercussão nos mercados. A aposta no avanço dos candidatos da oposição nas pesquisas eleitorais e na possibilidade de vitória de um governo considerado mais pró-mercado vem ajudando a acentuar a queda do dólar e das taxas de juros no mercado local, enquanto a BM&FBovespa vive um período de valorização. Alguns analistas, no entanto, já apontam os riscos envolvendo esse otimismo considerado "exagerado", alertando para uma possível correção caso as expectativas não se concretizarem.
Embora a queda do dólar e das taxas de juros esteja relacionada também ao cenário global de menor aversão a risco, diante da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) não deve elevara sua taxa básica tão cedo, o fator político local tem ajudado a intensificar o movimento.
As taxas de juros prefixadas alcançaram recentemente mínimas não testadas há meses. E isso acende a luz amarela sobre a sustentabilidade desse movimento. "O mercado reagiu a pesquisas eleitorais mostrando chance de um segundo turno, mas ainda é muito cedo para antecipar qualquer resultado", diz o diretor de renda fixa da Franklin Templeton, Marco Freire.
Em apenas uma semana, o contrato DI (Depósito Interfinanceiro) com prazo em janeiro de 2017, um dos mais negociados, saiu de 12,26% para 12,12%. Essa taxa estava em 12,84% no dia 20 de março.
Movimento semelhante aconteceu com a NTN-B 2050, o título mais longo do Tesouro Nacional, considerado um termômetro importante da percepção de risco do investidor. O rendimento do título caiu na semana passada de 6,41% para 6,29%. No começo de abril, estava em 6,70%. "É um tombo forte, que não tem respaldo nos fundamentos. Os preços começam a se aproximar de patamares perigosos", diz o sócio-gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella.
Para Marcos de Callis, estrategista do Votorantim Private, esse fechamento de taxas deve ser atribuído, principalmente, ao ambiente externo, lembrando que o mercado esperava um cenário de redução de liquidez para emergentes e alta do dólar em 2014, o que não se concretizou. Isso abriu espaço para o achatamento da curva de juros, especialmente da parte mais longa. "Mas, olhando para frente, não acho que as condições sejam sustentáveis", diz, lembrando que as taxas dos títulos do Tesouro americano de dez anos (Treasuries) devem voltar a subir diante da normalização da política monetária americana em 2015. Por isso, em sua opinião, o momento é de "botar o ganho no bolso e reduzir risco de prazo longo".
Freire, da Templeton, vê um movimento exagerado nos contratos longos, enxergando oportunidade nas taxas com prazos mais curtos, onde está precificada a chance de uma retomada do aperto monetário a partir de 2015. Ele observa que a possibilidade de um choque de juros no ano que vem com a vitória da oposição parece precipitada, dado que a atividade fraca pode inviabilizar esse cenário.
Já o economista-chefe do Barclays para América Latina, Marcelo Salomon, não vê o risco de uma correção mais forte pelo menos até o fim de junho, por conta do cenário político ainda incerto e pela melhora do ambiente externo. Salomon destaca que o risco de uma desaceleração mais acentuada do crescimento da China ficou para trás. Além disso, os problemas na Rússia com a crise na Ucrânia acabaram beneficiando o Brasil, com os investidores realocando recursos para ativos brasileiros. Outro fator que contribuiu para melhorar o otimismo dos investidores é o fato de a Standard & Poor's ter mantido a perspectiva estável para o grau de investimento do Brasil, após ter rebaixado a nota do país.
O risco, segundo Salomon, é de uma reviravolta nos índices de popularidade da presidente Dilma Rousseff, que inviabilize uma vitória da oposição. "Se isso acontecer, vai haver uma correção nos mercados", destaca o economista, lembrando que ainda está cedo para apostar nesse cenário.
Salomon mantém a recomendação de compra do real no curto prazo, mas lembra que o câmbio abaixo de R$ 2,20 aumenta as chances de correção da moeda brasileira. O banco prevê um câmbio perto de R$ 2,45 em 12 meses.
A estrategista de câmbio para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS), Flavia Cattan-Naslausky, vê a possibilidade de correção do câmbio no curto prazo, esperando um aumento da volatilidade nos próximos meses, com a Copa do Mundo e a aproximação das eleições. Esse risco, segundo a estrategista, não está no preço com o dólar atualmente em R$ 2,215, acumulando queda de 6,02% no ano. "Acho que uma taxa entre R$ 2,40 e R$ 2,60 faz mais sentido."
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, também espera uma depreciação do real até o fim do ano, lembrando que o fator determinante para esse mercado é o fluxo, que depende das condições externas.
Já o diretor-executivo e chefe de pesquisas para mercados emergentes das Américas da Nomura Securities, Tony Volpon, vê uma mudança na política econômica no ano que vem, seja qual for o governo. Para Volpon, apesar do mercado poder passar por uma correção com uma eventual reeleição da presidente Dilma, os investidores devem voltar a precificar um risco mais baixo quando o governo começar a mostrar resultados.
Por isso, Volpon ainda vê um fluxo positivo para a renda fixa, vendo um prêmio especialmente nas taxas de juros com vencimento próximo a 2017, que acredita que têm espaço para cair. Da mesma forma, ele não vê uma escalada do dólar, destacando que o Banco Central deve manter o programa de intervenção, não devendo deixar o câmbio desancorado em meio ao processo eleitoral e na iminência da normalização da política monetária dos EUA. "Não acho que o BC vai interromper o programa, mas ele pode adotar uma atuação mais discricionária."