Coleta seletiva: dúvidas atrapalham resultados do projeto

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Dúvidas a respeito da coleta seletiva no DF permeiam a mente de muitos brasilienses. Com três meses do início oficial, saber como proceder com o material descartado pode facilitar o trabalho do governo, que garante ter aumentado o recolhimento de resíduos reaproveitáveis. Por outro lado, a população clama por mais esclarecimentos. Alguns moradores, inclusive, relatam que o cronograma dos caminhões nem sempre é seguido.

Dúvidas a respeito da coleta seletiva no DF permeiam a mente de muitos brasilienses. Com três meses do início oficial, saber como proceder com o material descartado pode facilitar o trabalho do governo, que garante ter aumentado o recolhimento de resíduos reaproveitáveis. Por outro lado, a população clama por mais esclarecimentos. Alguns moradores, inclusive, relatam que o cronograma dos caminhões nem sempre é seguido.

Segundo o Serviço de Limpeza Urbana (SLU), em março e abril foram coletados 7,7% do lixo reciclável, 1% a mais que o observado no primeiro mês. "Estamos em fase de adaptação, tanto da nossa equipe de coletores como da sociedade, e consideramos essa avaliação muito positiva", comentou o diretor do órgão, Gastão Ramos. A meta é atingir 15% após um ano.

Informação

A população parece disposta a colaborar, mas algumas pessoas reclamam da falta de comunicação entre os órgãos governamentais e a sociedade. “O nosso prédio é a favor da coleta seletiva. Sabemos que vai beneficiar o meio ambiente. Apenas não fomos informados direito”, revela a síndica de um prédio no Guará II, Maria de Jesus,   44 anos.

Ela fez um curso de separação de resíduos secos e orgânicos na empresa em que trabalhava e, por isso, tem o conhecimento necessário. A mulher, no entanto, encontra dificuldades  ao tentar ensinar os vizinhos. “Falei sobre como garrafinhas deveriam ser lavadas antes do descarte e a moradora me disse: 'Não vou gastar mais água para lavar garrafa PET'”, conta a síndica.

Maria acredita que sem o respaldo das autoridades não há como convencer muitas pessoas. Ela sugere ao governo emitir uma norma ou buscar as lideranças dos condomínios para debater a questão adequadamente. “A partir do momento em que isso acontecer, eu faço uma assembleia com todos os moradores”, diz.

O zelador do mesmo prédio, Antônio Alves Filho, de 54 anos, trabalha há 14 anos no local e sempre contribui com a separação do lixo. “Eu já tirava as garrafas, as latinhas, os vidros, para ajudar o pessoal da coleta e que vinha recolher”, conta o funcionário. Ele admite ter sido procurado por um fiscal do SLU, que fez pesquisa de opinião a respeito da coleta seletiva, mas nada além disso.

“No começo, aqui no prédio, foi bem difícil. Agora melhorou um pouco”, revela Antônio. O zelador afirma que o principal problema é a confusão que moradores fazem no instante do descarte. Alguns confundem o que é lixo seco e orgânico e dão trabalho extra.

Qualificar o lixo é o ponto de partida

No prédio onde trabalha o zelador Antônio Alves Filho, no Guará, “muitos ainda não limpam as garrafas PET e de vidro depois de usar e jogam fora ainda com bebida”, conta ele. O funcionário diz não se importar em ter mais esse trabalho, pois gosta do serviço, mas espera maior conscientização da comunidade com o passar do tempo.

Muitos outros condomínios estão nesta situação. Para essas pessoas, o professor Nilo Mendes Borges,  gestor do Projeto de Expansão Ambiental da Universidade Católica de Brasília (UCB), dá dicas. “A primeira orientação é qualificar o lixo que você tem em mãos. Ver o que é reciclável e o que não é”, diz. “Outros procedimentos, como guardar o óleo de cozinha e entregá-lo em pontos de coleta, também o ajudam a ser mais sustentável”, completa.

Nilo   destaca que separar o lixo para a coleta seletiva é relativamente simples. “O lixo ôrganico é o que sobra da cozinha. Basicamente tudo aquilo utilizado no preparo do alimento: casca de frutas, verduras, etc. O lixo seco é o material  como vasilhames de vidro, latinhas e papelão”, ensina.

O professor acredita em mudança gradual. “É questão de educação mesmo. O trabalho deve ser feito para sensibilizar a todos. Observo que a comunidade, aos poucos, incorpora a ideia”, conclui.

De uma ponta à outra do sistema

Morador do Cruzeiro, o autônomo Antônio Carlos Simões, de 52 anos, garante separar o lixo “conforme manda o figurino”, mas aponta outro problema: o atual sistema de coleta. “O governo parece ainda não ter mecanismo suficiente para operar. Para eles, é mais fácil dizer que a população é mal-educada”, reclama.

“O Cruzeiro é um bairro que nós moradores somos orgulhosos de considerar um dos mais limpos. Desde o começo da coleta, estamos acumulando lixo, o que não acontecia”, denuncia. Segundo Antônio, nem ele nem seus vizinhos foram bem orientados quanto a horário de passagem dos caminhões. “Tinham que lançar uma cartilha com instruções”, sugere.

Após perguntar diretamente aos funcionários responsáveis pelo recolhimento do lixo, Antônio conta que ele e seus vizinhos passaram a regular os horários de deixar os sacos. Apesar disso, semanas se passaram sem que tudo fosse recolhido. “É uma bagunça. Tem semana que eles passam, recolhem dois sacos e vão embora, deixando o resto. Acho que às vezes nem passam e o lixo fica aí na rua”, afirma.

Catadores  

Quem tira seu sustento do lixo também tem suas dúvidas quanto à coleta seletiva. Vice-presidente da Coopativa, cooperativa que lida com material reciclável para revenda, Edson Gomes, 52 anos, reclama do sistema no SIA. “Fomos procurados  ara fazer parceria devido à coleta, mas recusamos. Não teríamos lucro quase nenhum”, diz.

Segundo ele, os caminhões que deveriam recolher apenas os resíduos secos trazem muito material orgânico. “Já teve caminhão que trouxe toneladas de lixo para aproveitarmos só 20 quilos”, relata.

Lixão à espera do fim

Uma das metas governamentais para este ano é o fechamento do Lixão da Estrutural. Pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), todos os locais desse  tipo no Brasil devem ter atividades encerradas até 3 de agosto. A alternativa para o DF é o Aterro Sanitário de Samambaia, que sequer começou a ser construído. A licença ambiental já foi emitida, mas o projeto está parado por determinação do Tribunal de Contas. 

Nessa última suspensão determinada pelo TCDF, foram apontadas possíveis irregularidades, entre elas o prazo para formulação de preço, incompatibilidade do objeto licitado, variação de 10% nos valores e diferenças na quantidade de resíduos sólidos a serem encaminhados ao aterro.

“Enquanto não houver alternativa, o Lixão da Estrutural não pode ser desativado”, sentencia Gustavo Souto Maior, professor do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB). “É a maior vergonha sanitária e social que temos no DF, mas o que será feito daquelas centenas de pessoas que vivem como catadores? Que tiram dali sua renda?”, questiona.

Ele propõe que sejam estudadas alternativas econômicas para essas famílias, caso contrário, a solução de um problema apenas dará início a outro ainda maior.

Versão oficial

A respeito dos horários dos caminhões, o SLU informou que houve mudança em 8% das 770 rotas. "A população deve ficar atenta aos horários e dias da semana. No começo houve alguns problemas, mas não temos conhecimento de que o serviço está assim hoje em dia", alegou o órgão. Sobre a desativação do Lixão da Estrutural, o SLU informou que “cumprirá todos os prazos  determinados pela Lei Nacional de Resíduos Sólidos”.

Fonte:  Jornal de Brasília 

 

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