O Banco Central passou uma forte mensagem de que pode começar a diminuir a liquidez no mercado de câmbio que vem sendo colocada diariamente há oito meses e meio. Essa sinalização levou o dólar a disparar ontem 1,26%, para R$ 2,2470, na máxima em um mês.
O Banco Central passou uma forte mensagem de que pode começar a diminuir a liquidez no mercado de câmbio que vem sendo colocada diariamente há oito meses e meio. Essa sinalização levou o dólar a disparar ontem 1,26%, para R$ 2,2470, na máxima em um mês.
Pela primeira vez pelo menos desde fevereiro, a autoridade monetária caminha para terminar um mês reduzindo o estoque de contratos de swaps disponíveis no mercado. Na prática, isso significa que o setor terminaria maio com menos oferta de dólares em relação ao mês anterior. A venda desses papéis tem um efeito de colocação de dólares no mercado futuro e ajuda a conter momentos de estresse no segmento cambial.
Essa possibilidade ganhou força depois que, na noite de sexta-feira, o BC anunciou que começaria, ontem, a realizar leilões de rolagem do próximo vencimento de contratos de swaps a um ritmo de cinco mil contratos ao dia, ou US$ 250 milhões, e não a 10 mil (US$ 500 milhões) como nas rolagens dos meses anteriores. Essa substituição se refere ao lote com resgate em 2 de junho, que soma US$ 9,653 bilhões, mas a percepção agora é que a troca não será integral. Com tal indicação, participantes do mercado de câmbio já cogitam a não renovação no programa diário de leilões no segundo semestre.
Caso não faça ofertas extraordinárias em maio, o BC deixará de rolar US$ 4,750 bilhões em swaps, pouco menos da metade do lote total), o que terá um efeito de compra de dólares no mercado futuro no mesmo valor.
"Eu não me surpreenderia se, caso o dólar continue em torno dos níveis atuais ou insista em cair um pouco mais, o BC deixasse de fazer a rolagem do lote com vencimento em julho", diz o estrategista-chefe para a América Latina do Standard Chartered Bank, Italo Lombardi. Em 1º de julho, está previsto o vencimento do equivalente a US$ 10,060 bilhões em swaps cambiais tradicionais. "O BC quer aproveitar esse momento de mais tranquilidade no câmbio para ter mais flexibilidade, principalmente por causa das eleições no segundo semestre e pelo risco de uma alta de juro nos Estados Unidos em 2015. São elementos que o BC está monitorando. E para reforçar o poder de fogo à frente, é preciso diminui-lo agora", afirma Lombardi.
Para o estrategista, caso o BC continue rolando cada vez menos swaps, aumentam consideravelmente as chances de a autoridade monetária não renovar o programa de oferta diária de liquidez, previsto para terminar em junho, ao longo do segundo semestre. "Dessa forma, o BC faria o ajuste fino por meio das rolagens de swap e mesmo com ofertas líquidas de swap, mas sem o comprometimento de ofertar todos os dias."
A possível retirada de US$ 4,750 bilhões em maio não seria compensada pelas ofertas diárias de swaps cambiais que o BC tem feito desde o fim de agosto. Caso venda todo o lote de US$ 200 milhões em swaps conforme o cronograma, o BC terminará o mês "injetando" o equivalente a US$ 4,200 bilhões. Ou seja, o mês terminaria com US$ 550 milhões em swaps a menos no mercado.
Para analistas, a perspectiva de que o montante de swaps a ser rolado diminua revela um fortalecimento da estratégia do BC de aproveitar janelas de oportunidade para reduzir sua posição nesses ativos. Dessa forma, a autoridade monetária guardaria munição para, eventualmente, acelerar as vendas de swaps em momentos de estresse no câmbio.
O comportamento do dólar neste ano, de fato, não tem lembrado em nada o visto no segundo semestre de 2013. Salvo janeiro, quando o mundo emergente foi abalado por uma nova onda de aversão a risco, os demais meses foram marcados pela queda da moeda americana - que mais do que compensou a valorização da divisa observada no início do ano. No acumulado de 2014, o dólar recua 4,67% em relação ao real.
Mas a diferença é que, com a intensificação dessa estratégia, o BC passaria a tirar mais dólares do mercado do que coloca, enxugando a liquidez do mercado de câmbio. Isso marcaria uma mudança na postura da autoridade monetária, que foi obrigada a lançar, no fim de agosto, um programa de injeção diária de liquidez para conter a corrida por "hedge" cambial naquele mês.
O tesoureiro de um banco nacional diz que, com essa postura, o BC sinaliza que está confortável com o dólar em torno de R$ 2,20 (e não menos que isso) e que busca estabilizar sua posição em swaps cambiais junto ao mercado entre US$ 85 bilhões e US$ 90 bilhões. Com a venda de todos os 4 mil contratos de swap ontem da oferta diária de "hedge" cambial, essa posição alcançou US$ 86,923 bilhões.
Na avaliação do sócio-gestor da Modal Asset, Luiz Eduardo Portella, apesar de o BC aparentemente estar mais confortável em rolar menos swaps, o mercado não deve descartar a chance de a autoridade fazer leilões extraodinários, principalmente caso o dólar volte a ganhar força, por questões domésticas ou externas. "O dólar a R$ 2,20 é bom para o BC por causa da inflação. Pode não derrubar os preços, mas ajuda a tirar pressão sobre eles", diz.
Fonte: Valor econômico