A BM&FBovespa inicia nesta segunda-feira uma nova página de sua história ao adotar plenamente as mudanças na metodologia da carteira teórica de seu principal índice, o Ibovespa.
A BM&FBovespa inicia nesta segunda-feira uma nova página de sua história ao adotar plenamente as mudanças na metodologia da carteira teórica de seu principal índice, o Ibovespa.
A nova metodologia chegou ao mercado em setembro do ano passado, em meio à polêmica em torno da OGX. A bolsa sofria forte pressão de gestores e investidores para retirar o papel do Ibovespa, devido à forte volatilidade que um papel que valia apenas alguns centavos estava causando ao principal índice de ações do país.
"A imprensa insiste em afirmar que nós fomos motivados a mudar a metodologia por causa da OGX. O motivo foi bem anterior à OGX. Foi a 'bolha do alicate', o caso da Mundial ", revelou o presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, em entrevista ao Valor concedida no fim de março para comentar os planos da bolsa para este ano.
"Ali decidimos criar um grupo de trabalho junto com acadêmicos para estudar alternativas para o Ibovespa", conta Edemir. A 'bolha do alicate' foi como ficou conhecido o movimento especulativo, ocorrido em 2011, com ações da Mundial, fabricante de tesouras, talheres e alicates de unha.
A ação subiu 1.400% e ganhou tamanha liquidez que chegou a atender os critérios da metologia do Ibovespa para ingressar no índice. Porém, diante dos sinais de manipulação de mercado, a bolsa vetou a entrada do papel.
"Nós tínhamos que fazer alguma coisa. Então começamos a trabalhar na mudança. Quando o grupo já estava trabalhando, aí começou a ficar grave a questão da OGX", relata o presidente da bolsa.
O grupo decidiu criar uma nova metodologia, cujo principal critério é o valor de mercado das companhias. A antiga privilegiava o nível de liquidez dos papéis. Optou-se por montar uma carteira de transição, que vigorou entre janeiro e abril deste ano, com metade do cálculo baseado na metodologia antiga e metade na nova.
"Essa transição deu tempo ao mercado para se preparar para as mudanças e evitou um choque de preços sobre os setores mais afetados", explica o diretor de Engenharia de Produtos e Serviços da bolsa, André Demarco. "Temos agora um índice mais fácil de ser replicado pelos investidores, em linha com os principais referenciais do mercado internacional."
Entre as grandes mudanças setoriais está a volta dos bancos à liderança do Ibovespa, algo que não se via desde 1980. Conforme a terceira e última prévia do novo índice, divulgada pela Bovespa na sexta-feira, Itaú PN será a ação mais relevante do Ibovespa, com participação de 10,059%, seguida de Bradesco PN (7,592%).
Petrobras PN deixa a liderança da carteira que vigorou até abril e passa para o terceiro lugar, com peso de 7,536% no Ibovespa. Vale PNA, que era o segundo papel mais importante do índice, agora será o quinto, com fatia de 5,594%. Ambev ON ocupará a quarta posição, com peso de 5,758%.
OGX não chegou sequer a ser cogitada para o novo Ibovespa porque está em recuperação judicial. Mesmo se não estivesse, também não poderia entrar. A bolsa decidiu vetar, de todos os seus índices, as ações cujo valor seja inferior a R$ 1,00, as chamadas "penny stocks", ou ações de centavos.
O novo Ibovespa entra em vigor hoje com 71 ações, ante 73 da carteira anterior. Klabin PN, Dasa ON e Prumo ON (antiga LLX) saíram, enquanto a única ação a ingressar foi MMX ON, ironicamente a mineadora do mesmo Eike Batista que levou a OGX à concordata.
"É uma nova metodologia, uma nova vida, e eu não tenho dúvida de que o mercado passará a considerar o Ibovespa com outro peso", afirma Edemir Pinto. "A metodologia do Ibovespa tinha 45 anos. A situação lá atrás era outra. Era outro tamanho de mercado."
O Ibovespa fechou seu último pregão sob influência da metodologia antiga na sexta-feira, com alta de 2,62%, aos 52.980 pontos.
Fonte: Valor econômico