Os dados do crédito do primeiro trimestre, divulgados ontem pelo Banco Central, mostram que a alta de juros feita desde o ano passado está chegando à economia. Mas há indícios de que esse importante canal de transmissão da política monetária não está operando a pleno vapor.
Os dados do crédito do primeiro trimestre, divulgados ontem pelo Banco Central, mostram que a alta de juros feita desde o ano passado está chegando à economia. Mas há indícios de que esse importante canal de transmissão da política monetária não está operando a pleno vapor.
No período de um ano encerrado em março, a carteira de crédito bancário cresceu 13,7%. O número se aproxima da projeção de 13% feita pelo Banco Central para 2014. Há um ano, o crédito avançava a um ritmo de 16,7%.
Há boas razões para acreditar que essa desaceleração é reflexo do movimento de alta dos juros básicos da economia. Os juros futuros subiram, conforme esperado, e os custos de captação dos bancos ficaram mais altos.
Mas os efeitos da alta de juros no mercado de crédito como um todo tem sido, até agora, relativamente contidos. Os juros básicos da economia subiram 3,75 pontos percentuais neste ciclo de aperto. Mas os juros bancários aumentaram apenas 2,6 pontos., passando de 18,5% para 21,1% ao ano entre março de 2013 e de 2014.
Era de se esperar que os juros bancários subissem mais. A política monetária mais restritiva atua no incremento tanto dos custos de captação dos bancos quanto dos "spreads", sobretudo porque cresce o risco de inadimplência quando a Selic fica mais alta. Os custos de captação, porém, subiram apenas 2 pontos, e os "spreads" tiveram incremento de 0,6 ponto.
Dois fatores principais podem explicar o entupimento da transmissão da política monetária pelo canal do crédito - a presença de bancos públicos e o crédito direcionado. Não são vetores novos, mas eles parecem ter se tornado mais importantes.
O governo continua a pisar no acelerador na concessão de crédito direcionado, como financiamentos habitacionais, rurais e do BNDES. O crescimento nos 12 meses encerrados em março dessas linhas é de 23,7%. Os juros do crédito direcionado são pouco sensíveis à alta de juros básicos pelo BC. Eles subiram apenas 0,7 ponto percentual entre março de 2013 e de 2014.
Como o crédito direcionado responde pouco à política monetária, o sacrifício no chamado crédito livre tem que ser maior. O avanço nessas linhas foi de 6,5% no período de 12 meses encerrado em março. Os juros do crédito livre subiram, em média, 5,6 pontos.
Outro fator que pode ter pesado desfavoravelmente é o continuo avanço dos bancos públicos, cuja oferta de empréstimos responde também à orientação de políticas públicas. Suas carteiras cresceram 21,1% nos 12 meses encerrados em março. Os bancos privados nacionais cresceram apenas 5,4% no período, e os estrangeiros, 9,3%.
O Banco Central tem dito, em pronunciamentos oficiais, que a expansão e o alongamento do crédito ocorrido nos últimos anos podem ter aumentado a potência da política monetária.
A questão é quanto desse ganho foi diluído nos anos mais recentes. Bancos públicos e crédito direcionado sempre obstruíram a política monetária. Mas eles se tornaram mais importantes. A participação dos bancos públicos no crédito total subiu de 34% para 52% entre setembro de 2008, marco da crise causada pela quebra do americano Lehman Brothers, e março passado. E a fatia do crédito direcionado nas carteiras dos bancos subiu de 31% para 45% no período.