Bancos internacionais têm muita liquidez para financiar o comércio internacional (trade finance), mas advertem que cobram custos adicionais que atribuem à falta de coerência nas regulações bancárias nacionais.
Bancos internacionais têm muita liquidez para financiar o comércio internacional (trade finance), mas advertem que cobram custos adicionais que atribuem à falta de coerência nas regulações bancárias nacionais.
O Valor apurou que HSBC, Deutsche Bank, BNP Paribas, J.P. Morgan, Santander, UniCredit e outras grandes instituições internacionais se reuniram com o secretariado da Organização Mundial do Comércio (OMC), na última sexta-feira, para discutir a questão.
Os bancos exemplificaram que financiamentos a exportações e importações custam adicionalmente 75 pontos base, em média, para atenderem a regulações como Conheça Seu Cliente (Know Your Costumer), que visa prevenir e combater a lavagem de dinheiro e o financiamento ao terrorismo.
As normas costumam variar de país a país, e uma parte em uma jurisdição pode achar que o outro país não fez o controle adequado. Os bancos se queixam de que algo permitido em um país pode ser ilegal em outro, tornando as instituições financeiras vulneráveis a fortes multas ou processos penais.
Na reunião na OMC, a portas fechadas, os bancos disseram que o risco no "trade finance" é de apenas 0,02% do total financiado nesse segmento. Mas que a especificidade de informações exigidas para cada transação torna o custo mais oneroso.
A incapacidade para coletar informações, especialmente em mercados emergentes, onde a demanda por documentação como os fornecedores dos artigos é vista com perplexidade, faz com que algumas instituições prefiram suspender as transações, de acordo com o relato de um dos participantes.
A constatação é que sobretudo as pequenas e médias empresas e mercados emergentes menores, que necessitam mais dos bancos para financiar o comércio exterior, vão sentir ainda mais o peso das exigências impostas aos bancos.
Para analistas do J.P. Morgan, a evidência mesmo é de que parte dos clientes vai continuar enfrentando maiores custos no trade finance, que é descrito como a "graxa" que facilita as exportações e importações.
Normalmente essas operações têm maturação de até 180 dias, cobrindo até 90% dos US$ 18,8 trilhões do comércio mundial em 2013.
Com ajuda da OMC, os bancos conseguiram uma alteração no acordo de Basileia 3, no começo do ano. A exigência de capital próprio das instituições será menor do que inicialmente previsto no financiamento de curto prazo garantido pelas próprias mercadorias exportadas.
A chamada falta de coerência de várias regulações é agora o foco de nova batalha. Atualmente, a liquidez do sistema financeiro internacional é alta, mas a demanda está no mesmo nível do ano passado, quando o comércio global cresceu apenas 2,1%, menos da metade da expansão média dos vinte anos anteriores.