Em meio à desordem urbana, crescente no Distrito Federal...
Em meio à desordem urbana, crescente no Distrito Federal, os puxadinhos apareceram invisíveis aos olhos da fiscalização e se perpetuaram, inclusive, acima das lajes dos blocos do que seria um dos principais centros comerciais do Plano Piloto: a W3 Sul. Multiplicaram-se ao longo dos anos, encobertos pela frustrada vocação da famosa avenida. As coberturas improvisadas são usadas como depósitos e residências. Nesse último caso, com direito à caixa d’água, ar-condicionado e até antenas de tevê por assinatura.
Especialistas ouvidos pelo Correio criticam a negligência e o desrespeito do Governo do Distrito Federal (GDF) perante o plano original da cidade, fatores responsáveis pela “favelização” de áreas nobres da capital. Ontem, a reportagem percorreu quadras como a 503, a 506, a 508 e a 509 e identificou várias construções acima do limite permitido pela Norma de Gabarito de Brasília (NGB). Em tese, são permitidos dois ou três pavimentos além do térreo. Todas as estruturas fora do padrão são consideradas ilegais. “A altura exata é dada pela cota de coroamento e varia conforme a inclinação da rua. Ela deve ser homogênea para os conjuntos de blocos. Tudo que estiver acima do alinhamento entre as marquises foge da proposta”, detalha a diretora de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, da Secretaria de Habitação, Regularização e Desenvolvimento Urbano (Sedhab), Rejane Jung Viana.
O professor Frederico Flósculo, da faculdade de arquitetura e urbanismo da Universidade de Brasília (UnB), vai além. Ele analisou os flagrantes na W3 Sul e reforçou o caráter irregular das estruturas. Segundo ele, entre um terço e dois quintos dos imóveis das quadras 500 ferem a NGB no quesito de ocupação das coberturas ou telhados. Para ele, o resultado não poderia ser pior. Além da paisagem de péssima aparência, ele cita riscos à integridade estrutural das edificações. “Implica em sobrecarga. Pode comprometer a área que recebeu o ‘acréscimo’ e as edificações vizinhas. O consumo de eletricidade aumenta, altera-se o equilíbrio do prédio e dificulta o combate em casos de incêndio”, exemplifica.
Fonte: Correio Braziliense