Janeiro foi um teste de resistência para a qualidade do crédito nos bancos brasileiros. Uma prova pela qual as instituições financeiras se saíram bem, a julgar pela estabilidade dos indicadores de inadimplência.
Janeiro foi um teste de resistência para a qualidade do crédito nos bancos brasileiros. Uma prova pela qual as instituições financeiras se saíram bem, a julgar pela estabilidade dos indicadores de inadimplência.
Em um mês em que o efeito calendário costuma pesar no orçamento das famílias - com o acúmulo de gastos com escola e tributos (IPVA e IPTU) -, a estabilidade dos calotes na pessoa física traz um bom sinal. Em janeiro, a taxa de inadimplência geral na pessoa física repetiu os 4,4% registrados em dezembro. Considerando-se apenas os recursos de livre aplicação, o que exclui o crédito imobiliário, a taxa passou de 6,7% em dezembro para 6,6%.
"A inadimplência foi um dado positivo para os bancos. É um sinal de que as políticas mais restritas de crédito estão funcionando", afirma Wermeson França, economista da LCA Consultores.
Por outro lado, as famílias não passaram ao largo do aperto no orçamento típico do período. Prova disso foi o aumento de 7,7% no estoque do cheque especial em janeiro, ante dezembro, a R$ 21,8 bilhões. Essa ajuda emergencial para a gestão de caixa não saiu barata. As contratações na linha cresceram justamente no período em que os juros dessas operações chegaram ao maior nível desde junho de 2012: 153,97% ao ano, segundo o BC. Em dezembro, estavam em 147,93%. Com isso, as dívidas financeiras tendem a pesar mais no orçamento das famílias, potencializando a possibilidade de calotes.
O efeito calendário também pressionou os indicadores antecedentes de inadimplência, nota a equipe de análise do Bank of America. "De fato, apesar de uma melhora nas taxas de inadimplência acima de 90 dias no varejo, observamos que a taxa antecedente de inadimplência se deteriorou 30 pontos-base no mês. Isso é atribuível ao impacto de diversos impostos em janeiro, assim como a um efeito comparação ante dezembro, quando o 13º salário é pago", afirmam os analistas do banco. Os atrasos entre 15 e 90 dias na pessoa física, com recursos livres, subiram de 6,2% em dezembro para 6,5% em janeiro.
Outro fator que também pesa em prol do calote é o ciclo de aperto monetário, que tem correlação histórica com aumento da taxa de inadimplência. Com o juro básico de 10,75% ao ano, depois de mais um aumento de 0,25 ponto na noite de quarta-feira, era de se esperar que as taxas mais altas pesassem no orçamento das famílias.
Não só os bancos têm apostado em linhas de crédito com garantias mais fortes, como consignado e imobiliário, em que a inadimplência é menor, como também têm se mostrado mais seletivos na escolha do tomador. Enquanto o estoque total de operações para pessoa física cresceu 1% no mês, o saldo de financiamento habitacional avançou 1,8% e o de consignado, 1,1%.
Um levantamento conduzido pelo BC, a Pesquisa Trimestral de Condições de Crédito, mostra que no primeiro trimestre os bancos esperam aumento na demanda por crédito, embora devam manter a oferta mais restrita nesse período. Seletividade que vai ajudar no controle de calotes, embora prejudique um avanço nos desembolsos.