Segundo maior estoque de crédito para pessoas físicas no país, o crédito consignado, aquele com desconto na folha de pagamento, virou um campo de batalha entre grandes bancos. São R$ 221,8 bilhões disputados pelos cinco maiores nomes do varejo bancário brasileiro, uma vez que os bancos de menor porte reduziram muito a atuação na modalidade.
Segundo maior estoque de crédito para pessoas físicas no país, o crédito consignado, aquele com desconto na folha de pagamento, virou um campo de batalha entre grandes bancos. São R$ 221,8 bilhões disputados pelos cinco maiores nomes do varejo bancário brasileiro, uma vez que os bancos de menor porte reduziram muito a atuação na modalidade.
De um lado, o Banco do Brasil (BB), dono da maior e mais antiga carteira de consignado, viu o apetite crescente dos concorrentes pressionar sua participação de mercado em 2013. Do outro, Itaú Unibanco e Bradesco descobriram a opção recentemente e montaram operações para capturar uma fatia maior da modalidade, que cresceu 17,5% no ano passado. Mais agressiva nos juros e nos prazos, a Caixa Econômica Federal também conquista espaço.
No fim de 2011, o BB contava com uma participação de mercado de 32,2% no crédito consignado, com R$ 62 bilhões. Em dezembro do ano passado, a porção era de 27,9%. É principalmente nos desembolsos para aposentados e pensionistas do INSS e para servidores públicos federais - que representam quase 90% da carteira do banco - que o BB sentiu a concorrência.
"Como detentores da maior carteira, sofremos mais ataque. É lógico que há uma concorrência maior", diz Edmar Casalatina, diretor de empréstimos e financiamentos do BB. Em 2013, o estoque de consignado do BB cresceu 5,8%.
O interesse de Bradesco e Itaú não é de graça. Além de só perder para o crédito imobiliário em termos de estoque, o consignado tem baixa inadimplência, retorno atrativo e vincula o cliente ao banco por, em média, 62,4 meses.
Bradesco e Itaú se armaram para crescer no consignado com uma estrutura que o Banco do Brasil usa com bastante parcimônia: o correspondente bancário, agente que recebe uma comissão por operação de crédito que distribui, e é apelidado de "pastinha". Só 13% das operações do BB são feitas com esses agentes. No Bradesco, gira em torno de 50%.
O BB justifica a opção de originar operações dentro de casa com a busca por maior rentabilidade. "O custo da estrutura do correspondente é cara. E as taxas cobradas pelo BB estão entre as mais baixas", diz Casalatina. Números do Ministério da Previdência mostram que, para o consignado tomado por 60 meses, o BB cobra 1,69% ao mês. Só perde para a Caixa, que cobra 1,53% ao mês. O BB não descarta usar de forma mais intensiva os correspondentes, mas Casalatina diz que o banco tem preferência por outros meios para defender sua base de clientes.
Primeiro grande banco privado a se interessar pelo consignado, a partir da compra do BMC em 2007, o Bradesco atua com uma estrutura própria de correspondentes para consignado, por meio da Bradesco Promotora. Com essa rede, fideliza correspondentes que trabalham exclusivamente para ele, seja com melhor remuneração, seja com oferta de outros produtos, como seguros. A carteira própria de consignado somava R$ 25,5 bilhões em dezembro, com avanço de 47% em 12 meses.
Para entrar no consignado com força, o Itaú fechou em meados de 2012 uma sociedade com o mineiro BMG. Ambos se tornaram sócios do Itaú BMG, especializado na modalidade. O efeito da estratégia já aparece no balanço do Itaú. Em 2013, o estoque de crédito com desconto direto na folha cresceu 66,6%, para R$ 22,6 bilhões.
"A operação com o BMG deu ao Itaú a oportunidade de chegar aos aposentados que não tinham conta no banco", afirma Marco Bonomi, vice-presidente do Itaú. Antes da aliança, o Itaú vendia consignado só para correntistas. Sem rede de agências, o BMG se especializou em oferecer a linha por meio de correspondentes, o que permite alcançar um público maior.
Para 2014, a previsão de Bonomi é que o estoque de consignado continue ganhando espaço dentro da carteira de crédito. Em dezembro, a modalidade representava 13,4% do saldo de pessoas físicas. Num horizonte de 18 meses, a previsão do Itaú é que a carteira do Itaú BMG alcance R$ 20 bilhões, ante os atuais R$ 7,1 bilhões.
Não é só rede de correspondentes que permitiu aos bancos avançar sobre o BB. Um acordo fechado entre o Conselho Administrativo de Defesa Econômica e o BB, em outubro de 2012, determinou que a instituição encerrasse acordos de exclusividade que impunham que o servidor tomasse crédito apenas com o banco.
Por enquanto de fora da disputa, o Santander se reestrutura para voltar. O banco usava correspondentes dentro das agências, prática vetada pelo Banco Central desde o fim de 2012. Hoje, está na fase final de reconstrução dessa rede. O Santander viu sua carteira de consignado encolher 7,1% no ano passado, para R$ 13,7 bilhões.
Até sexta-feira, 100 escritórios estrategicamente colocados próximos às agências do Santander vão abrigar 1.300 correspondentes. Serão responsáveis por distribuir o consignado pela vizinhança e, depois, levar o cliente até a agência para formalizar o contrato. "É a maneira de trabalharmos para enfrentar os concorrentes. Vamos ter mais foco", diz José Roberto Machado, diretor de oferta integrada do Santander. "O consignado é bastante importante na nossa estratégia". O banco também reviu contratos com órgãos públicos, por julgar que não tinham rentabilidade adequada.
A Caixa bate de frente com o BB no mercado em que os dois concentram sua atuação: os servidores públicos. Até setembro, a Caixa contava com um estoque de cerca de R$ 43,5 bilhões em consignado, um avanço de 40,3% em 12 meses, sendo que 74% dessas operações eram com funcionários públicos.
"Procuramos nichos que ofereçam oportunidades e ofertamos taxas menores e, em alguns casos, prazos maiores para atrair os tomadores", afirma o diretor de pessoa física da Caixa, Édilo Ricardo Valadares. Entre exemplos de tais investidas estão os servidores da Prefeitura de São Paulo, funcionários do governo de Minas Gerais e servidores do governo federal.
Para 2014, o banco promete seguir ganhando mercado em consignado, embora o ritmo de crescimento vá desacelerar. "Crescer 40% não é algo simples. Vamos crescer em 2014, mas não tanto como no ano passado." A dúvida, contudo, é por quanto tempo conseguirá oferecer condições abaixo das de seu principal rival nesse segmento.