O alívio das tensões com os emergentes e a melhora da percepção de risco em relação ao Brasil nos últimos dias favoreceu a retomada de fluxos externos para o país. Dólar e juros acentuaram a queda após o anúncio dos cortes no orçamento, no dia 20, o que foi visto como uma tentativa do governo de recuperar a credibilidade da política fiscal e evitar o rebaixamento do "rating" soberano. Embora a reação desses dois ativos seja relevante, analistas ponderam que é cedo para afirmar que se trata de uma melhora consistente, baseada em uma nova visão do estrangeiro sobre o Brasil.
O alívio das tensões com os emergentes e a melhora da percepção de risco em relação ao Brasil nos últimos dias favoreceu a retomada de fluxos externos para o país. Dólar e juros acentuaram a queda após o anúncio dos cortes no orçamento, no dia 20, o que foi visto como uma tentativa do governo de recuperar a credibilidade da política fiscal e evitar o rebaixamento do "rating" soberano. Embora a reação desses dois ativos seja relevante, analistas ponderam que é cedo para afirmar que se trata de uma melhora consistente, baseada em uma nova visão do estrangeiro sobre o Brasil.
Ontem o dólar fechou em queda de 0,25% a R$ 2,3470, pela quarta sessão consecutiva. No mês a moeda acumula queda de 2,69%, anulando a alta de 2,3% de janeiro.
Após o anúncio da meta fiscal para 2014 houve um movimento de desmonte de posições compradas em dólar na BM&F, levando a moeda americana para o nível abaixo de R$ 2,35. Desde o dia 18, os investidores estrangeiros e institucionais locais venderam conjuntamente US$ 2,0765 bilhões em contratos de dólar futuro e cupom cambial (DDI).
Já os juros futuros devolveram praticamente todo o prêmio de risco acrescentado aos contratos no período de turbulência dos emergentes. Para se ter uma ideia, o DI para janeiro de 2017, que reflete mais a percepção de risco do investidor estrangeiro, iniciou o ano em 12,35%, alcançou a máxima de 13,07% em 3 de fevereiro, e fechou ontem em 12,20%. "Com a trégua em relação aos emergentes, alguns estrangeiros aproveitaram para aplicar em juros mais longos", diz um profissional de tesouraria de um grande instituição.
Durante a reunião do G-20, no fim de semana, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, afirmou que depois de alguns meses de saída líquida de recursos os investidores estrangeiros começam a retornar para o país, destacando que o fluxo cambial em fevereiro estava positivo em US$ 1,008 bilhão, até o dia 19.
Outro termômetro da percepção de risco, os CDS, seguro contra calote do país, também mostra melhora. Ontem, o CDS de cinco anos do Brasil tinha um custo de 178,9 pontos. Em 27 de janeiro, esse contrato era negociado a 211 pontos. Somente nos últimos três dias, após o anúncio fiscal, esse custo cedeu 10 pontos. "Além do alívio externo, existe também uma resposta ao fato de o governo ter comprado tempo junto às agências de rating", diz um analista, lembrando que a Moody's e a Fitch Ratings já se pronunciaram favoravelmente às ações fiscais anunciadas, mas que é preciso aguardar a manifestação da Standard & Poor's, que mantém a nota de risco do Brasil em perspectiva negativa.
No exterior, a menor preocupação em relação à normalização da política monetária nos Estados Unidos, que tem mantido as taxas dos títulos do Tesouro americano comportadas, e a perda de vigor da China, que ainda não sugere um quadro de ruptura, contribuem para uma recuperação dos ativos emergentes. A título de comparação, a moeda americana cai, no mês, 2,85% ante o rand sul-africano, 2,75% ante a lira turca e 0,97% em relação à rupia indiana.
Para o estrategista da XP Investimentos, Daniel Cunha, a percepção dos investidores em relação à economia brasileira melhorou "na margem", amparada por sinais de mudança na postura do governo com relação aos problemas internos, mas é cedo para se falar em um movimento de otimismo mais duradouro, que promova um novo período de entrada maciça de capital.
A estrategista de câmbio para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS), Flavia Cattan-Naslausky, também vê a melhora do fluxo para o Brasil mais como uma correção de curto prazo do que uma mudança de perspectiva. Ela destaca que a melhora na percepção favoreceu o fluxo de aplicações de "carry trade" - que buscam ganhar com a arbitragem de juros -, mas não mudou a tendência de desvalorização do real. A especialista prevê um câmbio a R$ 2,60 no fim de 2014. "Não há mudança de perspectiva para o Brasil, com crescimento econômico baixo, inflação alta e incerteza no quadro político", diz Flavia, destacando que a queda do dólar traz oportunidade de compra da moeda americana para o médio prazo.
Pelos dados do setor externo, divulgados na sexta, o investimento estrangeiro em carteira somou US$ 2,708 bilhões no mês passado, após saída de US$ 1,112 bilhão em dezembro e perda de US$ 764 milhões em novembro. A renda fixa foi destaque, com o ingresso de US$ 2,633 bilhões para títulos negociados no país. As parciais para fevereiro mostravam que até o dia 19, o ingresso para títulos de renda fixa negociados no país estava positivo em US$ 2,013 bilhões.