O Brasil não tem reparos a fazer na sua politica de ajuste para resolver problemas internos ou para melhorar a capacidade de enfrentar a menor liquidez internacional, afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ontem em Sydney, ao final da reunião das principais autoridades econômicas do planeta.
O Brasil não tem reparos a fazer na sua politica de ajuste para resolver problemas internos ou para melhorar a capacidade de enfrentar a menor liquidez internacional, afirmou o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, ontem em Sydney, ao final da reunião das principais autoridades econômicas do planeta.
Tombini destacou que o Brasil vem adotando "politicas bastante clássicas" para enfrentar a situação atual de transição para a normalização das políticas monetárias nos países ricos, que tem causado abalos nos fluxos de capitais e turbulência nos países emergentes.
"Ajuste da politica, aperto da politica monetária por razões internas, estamos apertando. Agora foi anunciado o corte do orçamento, ou seja, aperto de politica. E flexibilidade no câmbio. Países que têm condicoes, como o Brasil, usam o colchão acumulado nos tempos bons, ou seja, as reservas internacionais, de forma a oferecer proteção contra as variações cambiais e que ela seja absorvida com tranquilidade no país", afirmou.
Tombini procurou mostrar no G-20 para seus parceiros emergentes que a desvalorização da moeda é parte da solução e não do problema, no rastro da retirada a dos estímulos monetários nos EUA.
"Se temos déficit em conta corrente e o real se desvalorizou ao longo dos últimos meses, essa desvalorização faz com que nossos produtos fiquem mais baratos no exterior e as importações um pouco mais caras. Isso ajuda no ajuste da conta corrente, milita no sentido de diminuir os desequilíbrios, e não aumentar", disse.
Numa contestação indireta à avaliação do Fed, que pôs o Brasil como um dos "cinco frágeis", Tombini disse: "Desvalorização não significa vulnerabilidade, significa mudança de preços relativos, refletindo uma condição financeira global de menor liquidez, de menos fluxos para os emergentes".
O presidente do BC disse que a posição brasileira foi "uma tese vencedora" no G-20. A delegação brasileira avalia que tirou da mesa uma ideia que estava tomando corpo, de que a normalização das políticas monetárias nos desenvolvidos geraria uma potencial crise nos emergentes, pois esses países não iam poder se financiar.
Para Tombini, o fato é que o "tapering" (a redução da injeção de dinheiro na economia americana) reflete o crescimento da maior economia do planeta, com PIB de US$ 16 trilhões, e isso deve resultar em mais comércio internacional e será benéfico para os emergentes.
Só que esse processo de retirada dos estímulos monetários gera volatilidade. Daí porque o Brasil e outros emergentes no G-20 defenderam que isso seja conduzido de forma gradual, bem comunicado e com flexibilidade. Ou seja, se as condições econômicas não evoluírem como as autoridades estão prevendo, que elas tenham flexibilidade para ajustar sua política.
O presidente do BC julga que as autoridades monetárias dos países desenvolvidos entenderam essa posição, e não pela razão de cooperação internacional, mas sim pelo fato de os emergentes representarem hoje mais de 40% da atividade global. "Se há alguma volatilidade nos emergentes, isso tem impacto nas economias avançadas, e isso é levado em consideração", afirmou.
Na reunião do G-20, um dos anúncios foi o compromisso das maiores economias do mundo com uma meta de crescimento global adicional de 2 pontos nos próximos cinco anos, o que levaria também o Brasil a adotar novas medidas para crescer mais.
Tombini destaca nesse contexto, primeiro, a parte conjuntural. Os países constatam a existência de muito desemprego e baixa utilização da capacidade em algumas economias. E a estratégia é manter o caráter acomodatício das políticas no mundo para preencher esse hiato do produto.
A outra dimensão é mais estrutural, sobre o que cada país tem de fazer para elevar o produto potencial. "Cada país vai ter o seu conjunto de reformas", disse. No caso do Brasil, relatório do FMI aponta para infraestrutura, para redução dos gargalos pelo lado da oferta.
A terceira questão é o rebalanceamento do crescimento global, com países superavitários devendo estimular reformas também.
Indagado se o ajuste fiscal anunciado pelo governo na semana passada é suficiente, Tombini saiu pela tangente, dizendo que não falaria sobre macroeconomia brasileira devido à proximidade da reunião do Copom esta semana.