A gigantesca discrepância entre as projeções de perdas que os bancos podem ter com o julgamento da correção das cadernetas de poupança durante os planos econômicos dos anos 80 e 90 tem mantido investidores cautelosos com as ações das principais instituições financeiras em um ano promissor para o setor bancário.
A gigantesca discrepância entre as projeções de perdas que os bancos podem ter com o julgamento da correção das cadernetas de poupança durante os planos econômicos dos anos 80 e 90 tem mantido investidores cautelosos com as ações das principais instituições financeiras em um ano promissor para o setor bancário.
Ainda sem data marcada, a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pode ter como resultado cifras que vão de zero a R$ 341,5 bilhões, o que beira 8% do Produto Interno Bruto do Brasil.
"Tudo tem um preço. Se soubéssemos qual é o tamanho da conta, era só colocar no preço", diz o chefe de análise de uma corretora nacional. "Ninguém quer entrar em papel de bancos sem antes saber quanto vão ter de pagar."
A insegurança de investidores sobre o futuro dos bancos se dá num ano em que os fundamentos para a indústria são bons, principalmente para os bancos privados.
É algo que não se via no setor bancário pelo menos desde 2011. O fantasma da inadimplência, por exemplo, foi finalmente deixado para trás no fim do ano passado. Os custos administrativos começam a crescer menos que a inflação, e os spreads dão sinais de retomada. Tudo isso sinaliza que, mesmo em um ambiente macroeconômico difícil, os bancos poderão ter um ano bom, de expansão dos lucros na casa de dois dígitos, segundo as projeções de diversas casas.
"As preocupações em relação ao julgamento do Supremo são o que tem segurado os investidores de comprar bancos mais agressivamente", diz o Credit Suisse.
O comportamento dos bancos na bolsa espelha um pouco o temor dos aplicadores. Desde novembro - mês em que o julgamento dos planos teve início - até ontem, o Ibovespa acumulava queda de 12,84%. As ações de Santander Brasil e Bradesco, por exemplo, têm desempenho pior que o índice, com baixas de 14,32% (a R$ 11,47) e 15,3% (a R$ 26,71), respectivamente. Só o Itaú Unibanco perde menos, com retração de 7,9% (a R$ 31,06), depois que o banco teve resultados no fim de 2013 que superaram projeções de analistas.
Quem mais sofre desvalorização é o Banco do Brasil (R$ 29,73), com queda de 29,7%. Na semana passada, o banco deu projeções para a margem e para o retorno em 2014 que desagradaram analistas.
Não é coincidência para o mau humor dos aplicadores, porém, o fato de o BB ser o banco listado em bolsa que pode pagar a maior conta pelos planos econômicos, em caso de uma decisão do STF desfavorável às instituições financeiras. Pelos cálculos do J.P. Morgan, caso os bancos tenham que arcar com R$ 150 bilhões, as indenizações do BB podem alcançar 29% do valor patrimonial do banco.
Com o intuito de trazer um pouco mais de clareza aos inseguros investidores, diversas casas de análise têm se debruçado sobre a questão. Mas, até agora, poucos ousaram determinar um número para a disputa.
O Credit Suisse calculou que a conta máxima a ser paga ficará em R$ 33 bilhões. Esse número traz R$ 7 bilhões a mais do que uma projeção inicial feita no começo de fevereiro. "Os temores em relação ao julgamento do Supremo sobre os planos econômicos são exagerados e criam em nossa visão uma oportunidade de compra [das ações de bancos]", afirma o banco.
Outras casas seguiram caminhos diferentes. O J.P. Morgan analisou 311 ações, conversou com advogados das partes e com a equipe do STF. O resultado foram estimativas de R$ 25 bilhões a R$ 150 bilhões, próximas das contas da Federação Brasileira de Bancos (Febraban). A conclusão dos analistas é aberta: "dado o tamanho potencial das obrigações, as decisões do Supremo podem ter um impacto material no sistema bancário do Brasil e até na economia".
O Deutsche Bank se encontrou recentemente com a Febraban, que apresentou cálculos da consultoria LCA. O relatório termina com interrogações. "É muito cedo para determinar o impacto que o julgamento do Supremo pode ter no sistema financeiro e na economia como um todo, já que há muitas incertezas no momento."
Sem indicar cifras precisas, que parecem ser difíceis de ser calculadas, as questões levantadas por analistas não devem dissipar o temor de investidores. Por isso, o bom ano previsto para os bancos só chegará depois do julgamento.