A queda generalizada nos mercados americano e europeu arrastou a bolsa brasileira nesta segunda-feira. A preocupação com o ritmo de crescimento da economia mundial após indicadores de atividade mais fracos na China e nos Estados Unidos desencadeou uma realização mais intensa das bolsas lá fora e a fuga para ativos de qualidade.
A queda generalizada nos mercados americano e europeu arrastou a bolsa brasileira nesta segunda-feira. A preocupação com o ritmo de crescimento da economia mundial após indicadores de atividade mais fracos na China e nos Estados Unidos desencadeou uma realização mais intensa das bolsas lá fora e a fuga para ativos de qualidade.
Por aqui, a pressão externa se juntou ao mau humor persistente dos investidores estrangeiros com os países emergentes e levou o Ibovespa a fechar abaixo dos 47 mil pontos, na menor pontuação desde 12 de julho do ano passado. Se em 2013, o mercado brasileiro caiu 15,5%, neste início de 2014, a perda já supera os 10%.
“A realização ganhou força nas bolsas do mundo rico, que têm bastante gordura para queimar. Aqui não tivemos o bônus [de alta] que eles tiveram no ano passado, mas vamos ficar com o ônus [da baixa]” afirma o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. “O mau humor continua, especialmente com Brasil. E a semana está carregada de indicadores, o que tende provocar volatilidade. A não ser que aconteça alguma surpresa, deveremos continuar nesse ritmo de baixa”, avalia.
O clima negativo aqui se acentuou após a abertura das bolsas americanas – quando aumenta a presença dos investidores estrangeiros no mercado – e piorou de vez após os Estados Unidos divulgarem o índice de atividade industrial (ISM) bem abaixo do projetado pelos economistas. Mais cedo, o dado oficial de atividade industrial (PMI) da China con firmou a desaceleração da economia do país asiático, ajudando a reforçar o clima de aversão aos emergentes.
O Ibovespa fechou em baixa de 3,13%, para 46.148 pontos, com bom volume de R$ 6,781 bilhões. O analista técnico da Clear Corretora, Raphael Figueredo, lembra que o índice perdeu importante suporte na linha dos 47 mil pont os, o que reforça o movimento de baixa do mercado, rumo aos 45 mil pontos.
Em Wall Street, às 17h25, o índice Dow Jones recuava 1,65%, Nasdaq tinha baixa de 2,38% e S&P 500 caía 1,92%.
Entre as principais ações do Ibovespa, Petrobras PN despencou 5,78%, para R$ 13,85, renovando sua menor cotação desde novembro de 2008 (R$ 13,78). Já ação ON da estatal caiu 4,86%, para R$ 13,10, menor preço desde agosto de 2005. Vale PNA fechou em baixa de 3,0%, a R$ 29,10.
A XP Investimentos comentou em relatório que continua “cética” em relação ao investimento em Petrobras, devido à interferência governamental, ao alto volume de investimentos e à defasagem nos preços dos combustíveis. Porém, a instituição ressalva que o papel vem negociando com um desconto em relação ao patrimônio (0,57x) exagerado, e que nem na crise de 2008 a ação chegou nesses níveis. “É um case mais agressivo [para investir], acreditando que o ‘pior já passou’.”
Vale, por sua vez, sofreu com as notícias vindas da China – o PMI industrial oficial recuou de 51,0 em dezembro para 50,5 em janeiro, enquanto o PMI de serviços desacelerou de 54,6 para 53,4 no período – e também com o recuo do preço do minério de ferro. A commodity caiu 8,6% em janeiro e fechou o mês cotada a US$ 122,60 por tonelada. Analistas estimam que o preço médio ficará entre US$ 115 neste ano e US$ 106 em 2015.
Outro destaque de baixa foi o setor bancário. Bradesco ON (-4,70%) liderou as perdas, seguido pelo papel PN (-3,40%); Banco do Brasil ON recuou 3,68%, Itaú PN caiu 1,18% e Santander Unit fechou em baixa de 2,30%.
Operadores não identificaram razões específicas para a queda mais acentuada de Bradesco. Mas Paulo Gala, da Fator, lembra que os bancos, ao lado de Petrobras e Vale, funcionam como “pilares do mercado brasileiro” e, por isso, acabam sofrendo mais em momentos de forte saída de capital. “Nesse momento, o mercado brasileiro está sofrendo mais pela [sobra de] liquidez do que pelos fundamentos [ruins].”
Pela manhã, o Itaú informou que recebeu uma autuação da Receita Federal no montante de R$ 18,7 bilhões, referente a imposto de renda e contribuição social sobre lucro líquido, além de multa e juros, por suposto ganho de capital que o banco teve na fusão com o Unibanco, em 2008. O Itaú disse que vai recorrer da decisão e afirmou que o risco de perda do processo é remoto.
Nenhum papel do Ibovespa encerrou o dia no azul. Os que menos caíram foram Dasa ON (-0,26%), Natura ON (-0,43%) e Estácio ON (-0,64%). As ações da Dasa estão sob a expectativa da oferta de aquisição de ações (OPA) que Edson Bueno e Dulce Pugliese realizarão no próximo dia 10 na Bovespa, ao preço de R$ 15 por ação. O mercado espera que o ex-controlador da Amil eleve o preço proposto para conseguir fechar o capital da empresa de diagnósticos.
No extremo negativo do índice ficaram Gafisa ON (-6,84%), Petrobras PN, Anhanguera ON (-5,66%) e Sabesp ON (-5,21%). A empresa de saneamento de São Paulo decidiu dar um desconto de 30% aos consumidores abastecidos pelo sistema Cantareira que conseguirem reduzir o consumo em 20%. A medida é um paliativo para evitar o racionamento, diante da falta de chuvas na região da Grande São Paulo.
A Sabesp disse que a medida terá algum impacto em sua receita, mas que a preocupação no momento é garantir o abastecimento de água. Os analistas do Bank of America Merrill Lynch afirmam em relatório que a medi da terá impacto negativo sobre as ações e acrescentam que o processo de revisão tarifária da companhia continua atrasado e ainda é o principal peso sobre as ações da Sabesp neste momento.
Fonte: Valor econômico