O número de bancos à frente de uma mesma emissão de dívida no exterior continua aumentando no Brasil. Neste ano, aponta levantamento realizado pela consultoria Dealogic a pedido do Valor, a média de instituições financeiras participantes por operação de bônus está em 4, acima dos 3,7 registrados em 2012. As ofertas deste ano não saíram com menos de três bancos líderes, e há casos em que as instituições líderes somaram sete. Na América Latina, o número médio de coordenadores por emissão de bônus em 2013 é de 2,9 e, globalmente, de 3,7.
O número de bancos à frente de uma mesma emissão de dívida no exterior continua aumentando no Brasil. Neste ano, aponta levantamento realizado pela consultoria Dealogic a pedido do Valor, a média de instituições financeiras participantes por operação de bônus está em 4, acima dos 3,7 registrados em 2012. As ofertas deste ano não saíram com menos de três bancos líderes, e há casos em que as instituições líderes somaram sete. Na América Latina, o número médio de coordenadores por emissão de bônus em 2013 é de 2,9 e, globalmente, de 3,7.
A taxa de comissão paga pelas empresas brasileiras, contudo, não cresceu, variando de 0,5% até 1,5% sobre o valor captado, na média, dependendo do tamanho e perfil do emissor - quanto maior o risco de crédito do emissor, maior o percentual de comissão pago aos coordenadores. O resultado é menos dinheiro no caixa dos bancos, já que tem mais participantes para dividir o mesmo valor.
Esse movimento teve início depois da crise de 2008, quando os bancos de investimento estrangeiros, mais atuantes nesse mercado, tiveram de colocar o pé no freio e voltar o foco para dentro de casa, abrindo espaço para o avanço dos brasileiros. Até então, era comum uma operação ter apenas um banco coordenador, ou no máximo dois.
Hoje, o páreo é disputado por todo tipo de instituição financeira, com ou sem histórico de atuação no mercado. De um lado, destacam-se os estrangeiros, especialmente americanos. Já recuperados da crise, voltam a dar as caras reforçando os balanços para a concessão de crédito em troca de permanecer nos mandatos de mercado de capitais. De outro, estão os bancos brasileiros, valorizados pelas empresas emissoras por terem mantido o suporte de crédito no momento de crise. A reciprocidade virou a principal moeda nesse segmento.
Como definiu Eduardo Müller Borges, diretor do Santander da área de mercado de créditos internacional e local, em entrevista recente para o caderno especial "Captações Externas" do Valor, o que se nota é a busca das instituições por um meio-termo entre banco comercial e de investimento.
"As instituições que só tinham carteira comercial, para agregar receita aos empréstimos, passaram a pedir reciprocidade", reitera o executivo de um grande banco de varejo brasileiro. Já os bancos de investimento, que sempre ofereceram produtos de "fee" (comissão), entenderam que as empresas valorizam instituições que usam o balanço para crédito, como os brasileiros, destaca o diretor de um banco estrangeiro. "Nosso interesse é fazer operações e, por isso, estamos buscando ampliar nosso relacionamento de crédito", explica.
Instituições como J. P. Morgan, Morgan Stanley e Bank of America Merrill Lynch anunciaram reforço de balanço para atuação no Brasil. Desde 2011, o J. P. no país passou por duas injeções de capital. O Morgan Stanley também desenvolveu capacidade para oferecer empréstimos de forma tática, como um meio de acessar operações de mercado de capitais. No ano passado, por exemplo, o banco concedeu um empréstimo-ponte para o grupo Schahin para a compra de uma plataforma, e logo depois liderou a emissão de um project finance para a companhia.
Já o BofA informou que, neste ano, pretende fazer mais operações de empréstimos e financiamento ao comércio exterior para as grandes empresas brasileiras e subsidiárias de seus clientes globais. Para isso, vai utilizar tanto o balanço nos Estados Unidos como o local, já que obteve licença de banco comercial em 2011 e tem capital de R$ 1,3 bilhão.
Para a empresa emissora, a participação de bancos estrangeiros nas operações é imprescindível, pela capacidade de distribuição que têm no mercado internacional. Já os brasileiros, segundo fontes do mercado, ainda não desenvolveram essa capilaridade de forma tão sofisticada, mas participam pelo relacionamento com as empresas. Para essas instituições, o crescimento das emissões no mercado externo, especialmente por parte de empresas novatas e de perfil de dívida mais arriscado, mostra-se como uma oportunidade para cobrar por reciprocidade.
"O banco local que viabilizou um empréstimo no passado, alongou prazos de pagamento de uma dívida ou flexibilizou condições para um determinado financiamento agora espera ser incluído na lista de coordenadores de uma estreia no mercado de capitais externo", destaca um consultor para o mercado de dívida. Mas dificilmente uma transação será coordenada apenas por instituições nacionais.
"Os bancos brasileiros avançaram, mas ainda é difícil competirem com a rede de distribuição dos estrangeiros, como por exemplo em operações que contam com forte participação de investidores asiáticos", afirma um executivo de um banco internacional. "Há uma grande diferença de escala entre eles."
O Banco do Brasil (BB), por exemplo, desde 2009 duplicou sua equipe para mercado de capitais externo, que hoje conta com mais de 40 profissionais. Também, no ano passado, o banco estatal abriu uma corretora em Cingapura e reforçou as equipes de Londres e Nova York ao trazer executivos da concorrência, com a intenção declarada de aumentar a presença do banco nas operações de emissores brasileiros, tanto para gigantes - como Vale e Petrobras -, como para novatos nesse mercado.
A emissão de US$ 200 milhões da Aralco, fechada na última terça-feira após uma primeira tentativa frustrada, deixou evidente o peso do relacionamento. Em meados de abril, a produtora de açúcar e álcool do Estado de São Paulo esteve em visita a investidores no exterior para buscar recursos com o objetivo de melhorar o perfil do endividamento.
À frente da operação, estiveram justamente os bancos credores da Aralco, com os quais a companhia informou pretender quitar os passivos a partir da captação. Dos cerca de R$ 620 milhões de dívida da empresa, cerca de 60% estão nas mãos dessas instituições: Votorantim (R$ 141 milhões), Credit Suisse (US$ 55 milhões), Itaú BBA (R$ 87,2 milhões), HSBC (R$ 25 milhões) e Pine (R$ 37,6 milhões).
Em novembro de 2012 a Usina São João, também do ramo de açúcar e álcool, fechou captação de US$ 275 milhões com a venda de títulos para 2019, em uma operação típica "high yield", de alto rendimento. Os coordenadores foram Credit Suisse, HSBC e Itaú BBA. O Valor apurou que, na época, um banco local chegou a entrar em contato com a empresa questionando por que não estava na lista de coordenadores, e fez pressão durante o "road show" com investidores ameaçando rever operações fechadas no passado.
A construtora OAS bateu o recorde ao contratar o maior número de bancos para liderar duas emissões. Para a primeira captação, em outubro do ano passado, contou com seis bancos: Bradesco BBI, Itaú BBA, BB Securities, BTG Pactual, Deutsche Bank e HSBC. Em abril, para uma oferta de notas perpétuas, acrescentou um banco à lista dos coordenadores, o Santander, num total de sete.
Operações de empresas "high yield" chegam a pagar 2% do volume captado para os bancos envolvidos. Algumas dividem esse percentual a ser pago em uma parcela fixa mais uma taxa de sucesso, paga depois de finalizada a operação, e condicionada ao atendimento de certos pré-requisitos - retorno ao investidor e demanda, principalmente. Nessa fase, a empresa pode pagar mais para um coordenador do que para outro.
Já as emissões grau de investimento oferecem retorno de 0,5%, na média, para os bancos. Grandes empresas que acessam o mercado com frequência podem pagar menos ainda, 0,2% a 0,35%.
Fonte: Valor Econômico