Depois de um 2013 difícil de crescer no crédito, os bancos médios vão começar 2014 mais líquidos. Um indício disso foi o último balanço publicado do terceiro trimestre, que mostrou que essas instituições privilegiaram o caixa livre, em detrimento dos desembolsos. Só que, se tal tendência prevalecer ao longo deste ano, os bancos vão ter as suas margens comprometidas.
Depois de um 2013 difícil de crescer no crédito, os bancos médios vão começar 2014 mais líquidos. Um indício disso foi o último balanço publicado do terceiro trimestre, que mostrou que essas instituições privilegiaram o caixa livre, em detrimento dos desembolsos. Só que, se tal tendência prevalecer ao longo deste ano, os bancos vão ter as suas margens comprometidas.
Sergio Garibian, analista da agência de classificação de risco Standard & Poor's, diz que não espera uma redução da liquidez dos bancos médios em 2014 porque as instituições sinalizam que vão manter a rigidez na hora de emprestar. Manoel Felix Cintra Neto, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), estima que o saldo de crédito desses bancos deve crescer cerca de 10% neste ano. Executivos de bancos também dizem que as incertezas causadas pelas eleições exigem a manutenção do nível atual de liquidez.
O analista da Moody's Alexandre Albuquerque espera uma continuação dos efeitos negativos de um nível mais alto de caixa sobre a margem financeira dos bancos médios, que reflete os ganhos com a intermediação financeira. "A manutenção de um caixa elevado no balanço dos bancos leva a um aumento do custo para carregar esses recursos. Isso tem impacto sobre a margem", explica Albuquerque.
O motivo é que enquanto na captação os bancos menores pagam, geralmente, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) acrescido de um spread, o caixa é remunerado pela Selic. "Há um efeito no capital dessa estratégia, que pode levar a uma rentabilidade menor e crescimento mais limitado", diz Garibian, da S&P. "Manter um nível de caixa muito alto pode causar ineficiência para o banco", acrescenta.
Não é de hoje que as instituições de pequeno e médio porte vêm privilegiando caixa, deixando o crédito em segundo plano. As dificuldades de captação causadas por problemas financeiros e fraudes envolvendo bancos como o Pan, Morada, BVA e Cruzeiro do Sul levaram a uma postura mais cautelosa, até por uma questão de sobrevivência. De nove bancos médios listados na bolsa, apenas dois não registraram aumento de caixa na comparação entre o terceiro trimestre de 2013 - último dado disponível - e igual período de 2012. Nos últimos dois anos, o caixa livre do conjunto cresceu 20%, a R$ 26,7 bilhões. Há instituições com incrementos bem mais expressivos, caso do Daycoval que aumentou em 102% seu caixa nesse intervalo (35% só no ano passado) ou o Pan, com 53% (61% em 2013).
Um fator que tem favorecido a captação dos bancos médios foi a ampliação em maio do limite assegurado a depositantes pelo Fundo Garantidor de Créditos, de R$ 70 mil para R$ 250 mil, com a inclusão de um novo título entre os papéis cobertos - a letra de crédito do agronegócio (LCA). Além disso, há um esforço geral para diversificar os instrumentos de captação.
Manter um nível alto de caixa é uma medida conservadora adotada por bancos médios, porque reduz a chance de enfrentarem problemas de liquidez, se algum evento provocar um revés no mercado. O motivo é que o perfil de "funding" continua a ser a principal fraqueza das instituições do segmento, lembra Garibian.
Para captar, essas instituições dependem de investidores institucionais, como fundos de pensão e de investimentos, que são mais volúveis que as pessoas físicas quando há uma piora da percepção de risco. "Os investidores institucionais podem retirar os depósitos a qualquer momento", diz Garibian. "O ideal seria ter uma base de investidores de varejo."
No Pine, o caixa encerrou setembro de 2013 em R$ 1,3 bilhão. O plano é manter o atual nível de liquidez, diz o presidente Noberto Pinheiro Jr., que prevê uma alta do crédito entre 10% e 15% neste ano. "Apesar do custo, é uma maneira de fazer gestão de risco." Para ele, o efeito negativo sobre a margem financeira não é significativo.
No Daycoval, o caixa livre mais que dobrou em dois anos, atingindo R$ 2,791 bilhões. A expectativa é manter o nível atual de liquidez, que cresceu em um momento de cautela do mercado nas concessões de empréstimos, diz Ricardo Gelbaum, diretor de relações com investidores. Além disso, a estratégia é captar recursos mesmo quando o banco não precisa de caixa, aproveitando as oportunidades de mercado.
Entre 2012 e o ano passado, o custo de captação do Daycoval caiu cerca de 1 ponto percentual, para aproximadamente 106% do CDI, relata Gelbaum. Segundo o executivo, qualquer efeito negativo do caixa na margem do banco é "desprezível", quando se considera a importância de se privilegiar a solidez. "Um bom banco precisa ser muito líquido para suportar qualquer volatilidade no mercado, principalmente em um ano de eleições", diz.
Willy Jordan, diretor de relações com investidores do Pan, explica que a posição de caixa varia de acordo com a liquidação das operações de cessão de carteiras de crédito sem coobrigação. Ele espera manter nos próximos trimestres o nível atual de caixa, que acredita não ser excessivamente elevado, de R$ 1,069 bilhão. De qualquer maneira, ele considera a situação de liquidez do Pan fica folgada, quando se consideram os limites de crédito disponíveis nos acordos de "funding" com seus controladores, Caixa Econômica Federal e BTG Pactual.
Na contramão dos seus pares, o Sofisa teve uma queda do caixa. A estratégia é seguir reduzindo essa cifra, chegando a R$ 650 milhões no primeiro trimestre de 2014, diz Gilberto Maktas Meiches, presidente do conselho de administração. "Um nível de caixa muito elevado custa caro. Vamos trazer o caixa ao patamar que julgamos ser mais adequado", afirma Meiches. Uma das razões para tal prática é que não está no radar do Sofisa um crescimento forte do saldo de crédito porque o banco optou por uma maior seletividade.
O caixa do BicBanco, comprado recentemente pelo China Construction Bank, também diminuiu. Porém, o banco enfrentou uma situação diferente de seus concorrentes, sendo alvo de especulação antes da venda para o grupo chinês.