VICTOR MARTINS
VICTOR MARTINS
Com a alta da taxa básica (Selic), que passou de 7,25% ao ano para 7,50%, fazer um empréstimo ou financiamento ficará um pouco mais pesado para os consumidores, mas não o suficiente, segundo analistas, para segurar o crédito no país. A avaliação é de que parte dessa alta, anunciada ontem, já havia entrado na fatura de quem fez operações a partir de janeiro. Desde o início do ano, os bancos apostavam no aperto monetário e se anteciparam ao movimento do Banco Central, aumentando os encargos à clientela.
Segundo simulações da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o efeito do aumento da Selic pode ser melhor percebido em operações com valores mais elevados. No caso da aquisição de um veículo novo por meio de um CDC, por exemplo, o custo final pode subir quase R$ 200. Agora, no financiamento de produtos mais baratos, a diferença é pequena - em alguns casos, de centavos (veja quadro).
"O efeito é muito pequeno nas operações de crédito. Isso ocorre porque há um deslocamento muito grande entre a Selic e os juros cobrados dos consumidores, que, na média, chegam a 101,68% ao ano - uma diferença de mais de 1.200% em relação à taxa básica", explicou Miguel Oliveira, diretor executivo de Estudos e Pesquisas Econômicas da Anefac.
Ainda na avaliação de Oliveira, apesar da taxa definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) ter uma forte correlação com os juros cobrados do consumidor, as condições de crédito podem não se alterar no país. "Por conta da maior competição no sistema financeiro, após os bancos públicos reduzirem mais fortemente as taxas de juros, bem como a expectativa de queda dos índices de inadimplência, é possível até que algumas instituições financeiras mantenham inalterados os juros ao consumidor", argumentou.
Para o consultor financeiro da Instituto DSOP, Reinaldo Domingos, a alta da Selic será positiva para pôr freio nos gastos excessivos e no endividamento desregrado, que empurram a inflação para cima. "O movimento feito pelo BC Fará com que as pessoas que não estão endividadas pensem melhor antes de entrar nesse rumo, já que o aumento da taxa de juros deixa mais caros os financiamentos, forçando o consumidor a comprar menos", argumentou. "As compras descontroladas às quais as pessoas estão expostas atualmente tendem a recuar", disse.
Bancos
Quando o BC eleva os juros, sobe também o custo dos bancos para a captação de recursos no mercado. É com esse dinheiro que as instituições financiam a clientela. A captação mais cara é repassada imediatamente aos empréstimos e financiamentos. Ao se anteciparem ao BC , as instituições financeiras compensaram as margens reduzidas com as quais vinham trabalhando desde que o Palácio do Planalto começou uma cruzada contra os spreads bancários (diferença entre o que a instituição paga para captar e o que ele cobra do consumidor ao emprestar).
Os bancos públicos, desde o ano passado, passaram a fazer parte do trabalho da autoridade monetária ao reduzirem expressivamente suas taxas. O setor privado, sentindo-se ameaçado pelo novo cenário, viu-se obrigado a também diminuir os custos para as famílias. Porém, não conseguiu acompanhar o ritmo deBANCO DO BRASIL e Caixa Econômica e acabou por perder participação no mercado de crédito.
» Dólar perto de R$ 2
O dólar registrou alta ontem, em meio às expectativa em torno da reunião do Copom, e voltou a ficar muito próximo de R$ 2. A moeda acompanhou o cenário externo complicado, com grande aversão a risco. No dia, a expansão ficou em 0,38%, cotada a R$ 1,999 para venda. A divisa norte-americana foi negociada durante toda a tarde acima dos R$ 2, considerado por parte do mercado como o teto da banda informal de definido pelo BC - o piso seria de R$ 1,95. Mas a alta perdeu fôlego nas últimas horas do pregão. A Bolsa de Valores de São Paulo, por sua vez, fechou em baixa, pressionada pelas ações das petrolíferas OGX e Petrobras. O Ibovespa recuou 2,05%, a 52.881 pontos. O volume negociado foi de R$ 22,9 bilhões.
Fonte: Agência ANABB