Com as regras de capital mais rígidas, a aversão ao risco elevada e os anos de fartura para trás, os grandes bancos de investimento têm apostado em outras fontes de receita, que não as tradicionais operações no mercado de capitais. Nesse contexto, uma área que vem ganhando relevância é a de serviços transacionais, ou produtos corporativos, responsável por oferecer, entre outros, gestão de caixa, financiamento ao comércio exterior, processamento de transações em diversos países e serviços de custódia.
Com as regras de capital mais rígidas, a aversão ao risco elevada e os anos de fartura para trás, os grandes bancos de investimento têm apostado em outras fontes de receita, que não as tradicionais operações no mercado de capitais. Nesse contexto, uma área que vem ganhando relevância é a de serviços transacionais, ou produtos corporativos, responsável por oferecer, entre outros, gestão de caixa, financiamento ao comércio exterior, processamento de transações em diversos países e serviços de custódia.
Grandes bancos como o Citi e o Deutsche Bank foram por esse caminho. Nos últimos anos, essas instituições reforçaram suas áreas de serviços em todo o mundo, incluindo no Brasil, e hoje essas divisões têm grande peso nas receitas. Na América Latina, essa área do Citi, chamada de "Treasury and Trade Solutions", foi responsável por 40% do lucro líquido do braço institucional do banco, que atingiu US$ 434 milhões no terceiro trimestre. No Deutsche, a divisão, batizada de "Global Transaction Banking" (GTB), representa cerca de 22% da receita na América Latina.
Embora esse tipo de serviço seja oferecido pelos grandes bancos há anos, foi só mais recentemente que ganhou mais exposição, por conta do desaquecimento do mercado de capitais global.
No Brasil, especificamente, dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) mostram, por exemplo, que as operações nos mercados de renda fixa e variável desaceleraram bastante em relação aos anos de ouro. Até novembro, os emissores brasileiros haviam captado US$ 37,8 bilhões em bônus, bem abaixo dos US$ 50,2 bilhões registrados no mesmo período de 2012. As ofertas de ações, por sua vez, somavam R$ 20,4 bilhões em 2013 (considerando ofertas iniciais e subsequentes), volume superior ao de 2012, mas bem menor que os R$ 148,5 bilhões do forte 2010.
"Quando o banco quer diversificar sua receita e fortalecer áreas que não são do banco de investimentos, essa é uma área fundamental", diz Michael Spiegel, diretor de tesouraria e financiamento ao comércio exterior do Deustche. Em meados de 2012, o banco alemão fez uma revisão de sua estrutura global e aumentou o foco na divisão de GTB - que abarca gestão de caixa, financiamento de operações comerciais e serviços fiduciários.
Naveed Sultan, responsável pela área global de produtos corporativos do Citi, conta que o objetivo do banco ao ofertar esses serviços é ser o principal parceiro das multinacionais em outros países. "Para as empresas, os mercados são globais, não apenas locais. E elas precisam de um sócio ao redor do mundo para ajudá-las a montar seus planos de negócios", diz. O executivo afirma que o Citi auxilia as companhias a entenderem a regulação do mercado em que estão entrando, as práticas de negócios locais e até as ajuda a localizar talentos no país em questão.
Por ser um negócio de transações financeiras, a necessidade de investimentos em tecnologia é alta. "Continuamos a investir em tecnologia de ponta. Criamos centros de inovação [para aprimorar a tecnologia dos serviços] em Dublin, Cingapura e agora estamos construindo um para servir a América Latina, que provavelmente ficará em Miami", afirma Sultan.
Já a aposta do Deutsche e do Santander é o mercado de aplicativos para dispositivos móveis, pelo qual buscam facilitar o acesso dos clientes às informações sobre suas transações financeiras. "Movemos muitos de nossos serviços para o mercado de aplicativos", afirma Spiegel, do Deutsche. "Sempre investimos em tecnologia, mas a taxa de investimento acelerou. Estamos investindo muito aqui no Brasil", completa Susan Skerritt, diretora de GTB do Deutsche nas Américas, sem abrir números.
Cássio Schmitt, diretor de GTB do Santander confirma que as grandes instituições têm apostado cada vez mais nessa divisão. "Os bancos têm percebido que existe um potencial e um volume de negócios muito grande ligado a essa área", afirma. A percepção é que bancos como Santander, Itaú, Bradesco e Banco do Brasil oferecem muito bem a gestão de caixa local, isto é, de empresas brasileiras dentro do país. No quadro internacional, em que o banco auxilia os clientes que têm operações em vários países, Schmitt afirma que as instituições globais têm destaque.
Entre as 42,5 mil empresas que compõem a carteira de clientes dessa área do Citi, figuram nomes de peso como Petrobras e Embraer. "A Petrobras tem contado há um bom tempo com nosso contínuo apoio para tudo o que se relaciona a financiamento de exportações e serviços específicos de gestão de caixa para aumentar a eficiência", afirma Adoniro Cestari, responsável pela área de produtos corporativos do Citi Brasil. Para a Embraer, o banco faz a gestão de caixa em diversos países.
Outra grande companhia brasileira que faz uso desses serviços é a Vale, cliente do Deutsche Bank. "Proporcionamos serviços de gestão de caixa e financiamento do comércio exterior e somos capazes de garantir que estão utilizando seus fluxos com eficiência", afirma Susan. A executiva lembra que, além de auxiliar a atuação de empresas brasileiras no exterior, o banco faz o processo inverso, como no caso da francesa Sodexo. "Estamos proporcionando a gestão de caixa local deles e oferecendo suporte na América Latina."
O Brasil, segundo os executivos da área, continua a ser um dos destinos mais procurados pelas companhias que pretendem expandir seus negócios para mercados emergentes. Apesar de a percepção de risco do país ter aumentado no mercado financeiro nos últimos meses, o setor corporativo é bem visto pelas companhias estrangeiras.
Uma tendência observada recentemente, dizem eles, é o fortalecimento do fluxo entre emergentes, isto é, companhias de países em desenvolvimento expandindo seus negócios para mercados similares, em vez de países desenvolvidos, como era mais comum. "Usualmente, vemos companhias de países emergentes querendo expandir para mercados desenvolvidos, mas agora o movimento mais forte é entre emergentes", diz Cestari. Para Spiegel, do Deutsche, o comércio entre emergentes vai se fortalecer, em particular entre Ásia e América Latina. "Esse é um fluxo que queremos capturar."
Schmitt, do Santander, chama a atenção para os fluxos na América Latina. "Vejo um crescimento grande, mas também é forte o número de empresas americanas e europeias querendo entrar aqui."