A piora das contas do governo somada à desaceleração da economia preocupa as agências de classificação de risco e, caso não seja freada, poderá levar a uma redução da nota de crédito do país.
A piora das contas do governo somada à desaceleração da economia preocupa as agências de classificação de risco e, caso não seja freada, poderá levar a uma redução da nota de crédito do país.
O chamado "rating" concedido aos governos é uma espécie de selo de qualidade que indica o risco de se investir em uma economia.
O Brasil galgou posições na classificação das principais agências e atingiu o chamado grau de investimento, que sinaliza alta estabilidade econômica, após o crescimento maior atingido entre meados e o fim da década passada.
Agora, a combinação entre arrecadação fiscal menor e o aumento de gastos do governo tem levado a uma mudança na visão das agências:
"Nossas principais preocupações são a fraqueza econômica prolongada e o espaço fiscal limitado à luz do maior fardo da dívida pública e da falta de um colchão fiscal significativo para enfrentar choques", disse Shelly Shetty, chefe da área de risco soberano da Fitch Ratings para América Latina, à Folha.
Um dos fatores analisados pelas agências é a capacidade que os governos têm para reagir a choques--como uma forte desaceleração econômica--, aumentando gastos.
No Brasil, esse espaço de reação tem sido reduzido.
Segundo Shetty, o governo precisa recuperar sua credibilidade, cumprindo as metas fiscais assumidas, antes do início do ciclo eleitoral.
A Standard & Poors (S&P), outra importante agência, também se preocupa com a piora dos dados fiscais (ver texto nesta página).
Nas duas agências, o Brasil é grau de investimento com um degrau de folga. Ou seja, se for rebaixado em um nível de nota, ainda manterá o grau de investimento.
Já na consultoria Economist Intelligence Unit (EIU)--que, desde junho, também atua como agência de risco--uma piora de avaliação pode levar o Brasil a perder o grau de investimento. Segundo Robert Wood, diretor adjunto de risco, o país está no limite da zona de rebaixamento.
Em relatório recente, a agência afirma que um aumento da relação entre a dívida bruta do setor público e o PIB (Produto Interno Bruto) para acima de 60% tem o potencial de levar a uma redução da nota. Atualmente, essa relação é de 58,75%.
Embora os indicadores fiscais do Brasil sejam melhores que os de muitas nações desenvolvidas, o curto histórico de estabilidade econômica faz com que uma deterioração forte das contas públicas tenha impacto negativo rápido sobre outras variáveis.
Sinal disso tem sido o aumento da taxa de juros nos mercados futuros, que é uma medida de quanto os investidores estão cobrando para financiar o governo.
Procurada pela Folha, a Moody's, outra agência grande, afirmou apenas que a perspectiva estável para a nota do país--que também é grau de investimento--reflete sua visão de médio prazo.