Os mercados acionários do Brasil e do Japão começam o último trimestre do ano em campos totalmente opostos. Enquanto o Ibovespa, principal termômetro da bolsa brasileira, tem o pior desempenho de uma lista de 33 índices, com queda de 14,1% em moeda local, o Nikkei-225 tem a melhor performance, com valorização de 39,06% até o último pregão de setembro. Em 12 meses, O Nikkei-225 sobe 63%, enquanto o Ibovespa acumula baixa de 11,6%. A comparação considera 27 países mais a zona do euro. Considerando-se os índices em dólar, a evolução do Ibovespa é ainda pior, com queda de 21,3% no ano e de 19,5% em 12 meses. O Nikkei avança 21,75% no ano e 29,16% em 12 meses.
Os mercados acionários do Brasil e do Japão começam o último trimestre do ano em campos totalmente opostos. Enquanto o Ibovespa, principal termômetro da bolsa brasileira, tem o pior desempenho de uma lista de 33 índices, com queda de 14,1% em moeda local, o Nikkei-225 tem a melhor performance, com valorização de 39,06% até o último pregão de setembro. Em 12 meses, O Nikkei-225 sobe 63%, enquanto o Ibovespa acumula baixa de 11,6%. A comparação considera 27 países mais a zona do euro. Considerando-se os índices em dólar, a evolução do Ibovespa é ainda pior, com queda de 21,3% no ano e de 19,5% em 12 meses. O Nikkei avança 21,75% no ano e 29,16% em 12 meses.
O comportamento dos índices mostra que os analistas projetam um futuro mais positivo para a economia japonesa, o que não ocorre no Brasil. O levantamento, feito pelo Valor Data, engloba países como Estados Unidos, Inglaterra, França, Canadá, Chile, México, China e Coreia do Sul.
No Japão, uma política de forte afrouxamento monetário ajuda nos ganhos. Além de um mercado acionário vigoroso, o iene se desvaloriza com força. No ano, até 30 de setembro, a depreciação da moeda japonesa em relação ao dólar é de 12,53%.
Enquanto isso, no Brasil, o principal índice acionário permanece travado com dúvidas sobre o crescimento da economia, ainda lento, pressão inflacionária, câmbio instável, eleições em 2014 e um relacionamento nervoso entre mercado financeiro e governo federal, considerado intervencionista. Ainda segundo especialistas, apesar do patamar baixo, o Ibovespa não estaria barato o suficiente para justificar compras novas, nem anima gestores a elevar a recomendação para as ações do país.
Casas como J.P. Morgan e Citi Research, por exemplo, têm recomendação de posicionamento "overweight" (acima da média do mercado) para os emergentes, mas seguem "underweight" (abaixo da média) para o Brasil.
O estrategista-chefe de renda variável para América Latina do J.P. Morgan, Pedro Martins Junior, diz que tem avaliado bastante a situação brasileira desde que a instituição rebaixou o mercado brasileiro de neutro para "underweight", em 10 de julho. Desde então, o índice se recuperou, mas ainda cai bastante no ano. Números melhores da China e expectativas de política monetária mais acomodatícia nos Estados Unidos estiveram por trás do rali recente do Brasil, sobretudo caracterizado por coberturas de posições "vendidas" (que vinham apostando na queda dos ativos) e volumes baixos, o que diminui a consistência do movimento.
Mas ele comenta que não rebaixou o Brasil por razões globais e não melhoraria a perspectiva nessa mesma base. "A linha final para nós é que a dinâmica doméstica não mudou materialmente e precisaríamos ver isso acontecendo para ter uma visão melhor sobre Brasil."
Além do crescimento fraco da economia, o executivo questiona a incerteza em relação ao câmbio. Outro fator de tensão são as eleições de 2014, que restringem a habilidade do governo de tomar passos certos em política econômica e fiscal, em particular. Para elevar a recomendação do Brasil, Martins diz que é necessário, em primeiro lugar, boa política monetária e confiança nela. Em segundo lugar, estabilização do câmbio, o que permitiria projeções mais precisas de inflação e, por consequência, de crescimento. Essas medidas devem pavimentar o caminho para um crescimento sustentado, encorajando companhias a investir e melhorar margens.
Já o Citi Research diz, em nota de 26 de setembro, que tem visão "underweight" para o Brasil, num grupo que conta ainda com África do Sul e Índia. Segundo o analista Markus Rosgen, esses países possuem déficits em conta corrente e podem se mostrar vulneráveis num retorno das discussões sobre cortes nas compras de bônus dos Estados Unidos. Segundo o Banco Central (BC), o déficit em conta corrente do Brasil em julho foi de US$ 9,018 bilhões, acima dos US$ 4,9 bilhões projetados para o mês. No mesmo mês de 2012, o déficit era de US$ 3,746 bilhões.
O Ibovespa também sofre com a pressão das ações da OGX e passará por mudanças no ano que vem, quando a metodologia do índice será alterada. Em relatório, o time de análise do Credit Suisse diz que o novo modelo, com mais foco em empresas de valor de mercado, tende a resultar numa composição de mais qualidade. Isso tende a ser atrativa para investidores baseados no índice e pode aumentar os fluxos para o mercado no médio prazo.
Os analistas do Credit Andrew Campbell, Daniel Federle, Andrei Sabah e Andre Hachem dizem que o índice atual mostra que o Brasil é um dos mercados mais caros dos emergentes, com preço/lucro (relação que dá uma ideia do prazo de retorno do investimento) projetado superior a 20 vezes. Apenas retirando OGX, essa relação cai a 11 vezes, basicamente em linha com os níveis históricos. Ao fazer uma análise teórica da nova composição do índice, que entrará em vigor totalmente em 1º de maio, o múltiplo cai a 10,5 vezes.
O cenário no Japão é outro. Há exato um ano, Shinzo Abe, já escolhido novo primeiro-ministro do Japão, delineava um plano que seria conhecido como "Abenomics", anunciado em janeiro, após sua posse, e detalhado em abril deste ano. O "plano de três flechas" é uma combinação de forte alívio monetário, uma política fiscal flexível e reformas econômicas.
O objetivo do governo é estimular o crescimento e tirar o país da deflação histórica. Junto com Abe, um novo presidente do banco central assumiu: Haruriko Kuroda. Com ele, um plano de voo foi delineado. Para elevar a inflação até a meta de 2%, a base monetária será dobrada em dois anos e serão gastos 101 trilhões de ienes em compras de ativos - algo como o dobro do que o Federal Reserve gastou com seu "quantitative easing", considerando a proporção de seus produtos internos brutos.
O PIB japonês cresceu a uma taxa anualizada de 4% no primeiro semestre, a maior entre os sete mais ricos países do globo, e a inflação voltou ao terreno positivo (nesse caso, um aumento perseguido), subindo 0,8% em agosto, maior taxa em cinco anos. Ao menos por ora, a confiança embala a economia e impulsiona o mercado.
O "Abenomics" tem levado os preços dos ativos a níveis historicamente altos, como seria de esperar, e como, de forma análoga, se vê nos Estados Unidos. Dúvidas não faltaram no Japão entre os analistas e o mercado acerca da viabilidade do "Abenomics". Não faltaram comparações com as políticas de Korekiyo Takahashi, na década de 1930, ou mesmo com o ciclo de euforia no mercado no período de Toshihiko Fukui à frente do BC japonês, até o fim de um programa de afrouxamento monetário que durou de 2001 a 2006. Os resultados foram pontuais e não prosperaram, todavia. Também não se sabe quais serão os resultados adiante desta vez, mas o fato é que a política sustenta a bolsa no momento.
No boom de 2003 a 2006 os yields dos títulos soberanos subiram fortemente. Agora, nem tanto, o que contribui também para manter desvalorizada a moeda, que caiu 26% neste período. Por consequência, as ações subiram mais de 63% nos últimos 12 meses. Segundo análise do Nomura, o fim da incerteza em torno das medidas fiscais que devem ser postas em prática "vai sustentar uma tendência de fraqueza da moeda a médio prazo", diz o estrategista Yujiro Got, que mantém tendência positiva para as ações. Ainda que o receio de uma "bolha" de ativos esteja no radar ou mesmo, de forma mais estrutural, de que a recuperação da economia morra na praia, é notório que a tendência de melhora das expectativas dos lucros das empresas japonesas deve perdurar por mais um tempo.