A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, traz informações importantes pelo que está escrito e também pelo que não está. O que mais chamou a atenção e desagradou os mercados foi a indicação sobre uma possível "neutralidade" da política fiscal.
A ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, traz informações importantes pelo que está escrito e também pelo que não está. O que mais chamou a atenção e desagradou os mercados foi a indicação sobre uma possível "neutralidade" da política fiscal.
Uma das razões para essa nova visão do Copom, segundo o Valor apurou, é que o superávit primário já caiu o quanto podia. Portanto, a tendência é de que o superávit de 2014 seja praticamente igual ao de 2013. Sem variação, o efeito da política fiscal sobre a demanda e, consequentemente, sobre a taxa de inflação, deixaria de ser expansionista e passaria a ser neutro no horizonte relevante, que é 2014.
Outro argumento é que, com uma revisão para baixo da trajetória do PIB, mesmo que o superávit seja um pouco menor o resultado estrutural das contas públicas pode se man-ter constante sem necessariamente significar uma política expansionista.
Um aspecto curioso da ata refere-se ao impacto inflacionário da desvalorização cambial. A taxa usada para o cenário de referência era de R$ 2,25 na ata de julho. Agora, a taxa é R$ 2,40, mas mesmo com essa depreciação adicional a projeção para a inflação de 2013 manteve-se estável. Não está escrito, mas a desaceleração da atividade econômica esperada para o terceiro trimestre e a eventual modesta recuperação aguardada para o quarto trimestre não avalizaria um repasse forte da desvalorização do real para o IPCA.
A desaceleração está se confirmando. Os dados divulgados ontem pela Anfavea apontam aumento da produção e queda acentuada das vendas de carros em agosto. Os estoques da indústria automobilística aumentaram para 36 dias, acima dos 30 dias considerados razoáveis. O aumento dos estoques não passa despercebido pelo Copom que, apesar de um cenário mais favorável, assegura que o ciclo de aperto monetário vai continuar e a Selic deve subir para 9,5% na reunião de outubro, mas deve ser um ciclo curto.