Crédito e tesouraria derrubam resultado de bancos médios

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Está mais difícil para os bancos médios incrementarem seus resultados. Expansão limitada do crédito, spreads menores e perdas na tesouraria foram a combinação que apertou a margem financeira das instituições financeiras no segundo trimestre. São fatores que, em geral, afetaram bancos de todos os tamanhos, mas foram mais nocivos para os menores que têm diversificação limitada das fontes de receita e atuam em poucos segmentos de crédito. Para o resto do ano, os prognósticos apontam para um quadro ainda nebuloso para o segmento.

Está mais difícil para os bancos médios incrementarem seus resultados. Expansão limitada do crédito, spreads menores e perdas na tesouraria foram a combinação que apertou a margem financeira das instituições financeiras no segundo trimestre. São fatores que, em geral, afetaram bancos de todos os tamanhos, mas foram mais nocivos para os menores que têm diversificação limitada das fontes de receita e atuam em poucos segmentos de crédito. Para o resto do ano, os prognósticos apontam para um quadro ainda nebuloso para o segmento.

A margem financeira anualizada recuou em seis de nove bancos médios com ações listadas na bolsa de valores. O indicador desconsidera os efeitos das despesas para perdas com crédito e é composto, em sua maior parte, pelos ganhos com operações de crédito, mas contempla também o ganho na tesouraria. Considerando o mesmo conjunto de instituições, a melhora do lucro só foi observada em quatro bancos: ABC Brasil, o Banrisul, o Paraná Banco e o Pan (antigo PanAmericano).

O declínio dos spreads de crédito - a diferença entre as taxas de juro de captação e de aplicação - é resultado da cautela dos bancos de menor porte que, assim como os grandes, optaram por fugir dos potenciais clientes inadimplentes. Dessa forma, se antes muitos deles emprestavam para empresas pequenas e médias, hoje preferem conceder crédito a companhias maiores ou para pessoas físicas via consignado, com desconto na folha de pagamento. Como essas linhas oferecem menor risco para os bancos, no geral, também trazem menores spreads.

"O cenário econômico tem prejudicado os bancos, porque eles adotaram uma postura conservadora e estão gerando menos receita com crédito", afirma o analista da Moody's, Alexandre Albuquerque. O analista do BB Investimentos, Carlos Daltozo, diz que algumas instituições médias passaram por ajustes significativos da carteira de crédito. Os portfólios cresceram pouco ou até encolheram. "Esse ajuste deve continuar pressionando as margens."

Em alguns casos, a queda da margem foi significativa. No BicBanco, por exemplo, o declínio em 12 meses foi de 2 pontos percentuais e de 0,7 ponto ante o primeiro trimestre. Isso ocorreu principalmente pelas perdas nas operações de tesouraria e pelo conservadorismo do banco na hora de emprestar, após ter sofrido com inadimplência nos últimos anos.

A carteira de crédito do BicBanco declinou 5,7% ante o primeiro trimestre e 4,1% em relação a igual período de 2012, totalizando R$ 11,6 bilhões. Na tesouraria, a marcação a mercado de títulos atrelados à inflação (NTN-B) levou a uma perda de R$ 28,4 milhões. Em agosto, a agência de classificação de risco Moody's rebaixou os ratings do banco citando que a compressão das margens de crédito deve continuar a afetar negativamente os indicadores de rentabilidade e pode comprometer seu crescimento futuro.

No ABC Brasil, a margem ficou em 4,3%, com redução de 0,3 ponto percentual em relação ao primeiro trimestre deste ano e de 0,7 ponto ante igual período de 2012. A instituição diz que o indicador foi afetado negativamente pelo aumento do nível de caixa e pelos spreads mais baixos em suas operações de crédito, já que tem privilegiado clientes com menor risco.

"O cenário atual faz com que a cautela aumente", afirma Alexandre Sinzato, diretor de relações com investidores do ABC Brasil. Refletindo esse conservadorismo, o banco reduziu a projeção de avanço da carteira de crédito de pequenas e médias empresas neste ano, de um intervalo entre 17% e 22% para 11% a 16%, enquanto a estimativa para o saldo de grandes empresas se manteve.

O caixa do banco ABC totalizava R$ 2,8 bilhões em junho, com aumento de 43% na comparação anual e de 27,3% ante março deste ano.

A elevação do caixa foi observada na maioria dos bancos médios, já que, apesar de estarem emprestando menos, não deixaram de captar. No entanto, enquanto na captação frequentemente pagam a taxa do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) acrescido de um spread, o caixa é remunerado apenas pela Selic. Mesmo com a margem menor, o ABC teve melhora do lucro, graças ao aumento das receitas de prestação de serviços e à recuperação de contingências fiscais.

No Indusval, o caixa encerrou junho em cerca de R$ 680 milhões, com aumento de 13% em 12 meses e de 19% em relação ao fim do ano passado, diz Jair Ribeiro, copresidente da instituição. Esse fator, somado à redução dos spreads nas operações de crédito, consequência da mudança no mix da carteira de crédito que o banco vem promovendo nos últimos anos, levou a um recuo de 0,7 ponto percentual na margem em 12 meses, explica. "O banco tem tentado ser mais conservador, buscando emprestar menos a empresas pequenas", explica Ribeiro.

Já no Pine, a queda da margem no segundo trimestre foi de 2,9 pontos percentuais em 12 meses e de 0,6 ponto ante os primeiros três meses deste ano, para 4,9%. O banco diz que a variação é explicada pela taxa Selic menor, comparativamente a igual período de 2012, pela queda dos spreads nas operações de crédito e pelo desempenho abaixo do esperado da tesouraria. O caixa do banco chegou a R$ 1,5 bilhão em junho, com um aumento de 25% em 12 meses e de 7% ante o primeiro trimestre deste ano.

No Banrisul, a margem ficou em 8,3% no segundo trimestre, com queda de 1,5 ponto percentual na comparação anual e de 0,2 ponto em relação ao primeiro trimestre deste ano. Os analistas da corretora GBM Brasil, Gilberto Tonello e André Riva, explicam que isso se deve principalmente à cautela do banco ao emprestar, que levou a carteira de crédito a crescer apenas 6,8% em 12 meses e a ficar estável em relação a março. Entre as linhas de crédito, o destaque foi a evolução do consignado.

"A margem do banco foi afetada pelo fato de a carteira de crédito comercial não ter crescido tanto. As linhas que cresceram mais foram a de crédito imobiliário e a de financiamento de longo prazo, que inclui repasses do BNDES", diz o analista Tonello. Em seu balanço, o banco cita também que houve impacto do resultado de tesouraria.

Na contramão de seus pares, o Daycoval registrou um aumento da margem. Segundo Ricardo Gelbaum, diretor de relações com investidores, isso ocorreu porque, na tentativa de se resguardar diante da possibilidade de calote, o banco passou a cobrar taxas de juros mais altas nos empréstimos. Apesar dessa cautela, foi justamente a inadimplência que levou o lucro do banco a cair 25% no segundo trimestre, na comparação anual. Um de seus maiores clientes pediu recuperação judicial no período, resultando no aumento das despesas com provisões para crédito de liquidação duvidosa.

 

Fonte: Valor Econômico 

 

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