Em meio a um trimestre marcado por um lucro recorde de R$ 7,47 bilhões, um dado do balanço do Banco do Brasil (BB) chamou a atenção de analistas e investidores ontem, dia em que o banco divulgou seu resultado.
Em meio a um trimestre marcado por um lucro recorde de R$ 7,47 bilhões, um dado do balanço do Banco do Brasil (BB) chamou a atenção de analistas e investidores ontem, dia em que o banco divulgou seu resultado.
Entre abril e junho, o banco baixou para prejuízo R$ 3,97 bilhões em operações de crédito que estão em atraso há pelo menos um ano, com pouca chance de recuperação. É um volume 30% superior àquele registrado no primeiro trimestre deste ano.
Nenhum analista questionou a qualidade dos ativos de crédito do banco. Afinal, entre os quatro maiores bancos do país com ações listadas, o BB é a instituição que possui o menor índice de atraso de pagamentos dos empréstimos.
Porém, os números apresentados ontem levantaram questionamentos sobre o crescimento acima da média do estoque de crédito da instituição ao longo dos últimos trimestres. Em 12 meses, o estoque de empréstimos do BB avançou 25,2%, para R$ 575,5 bilhões. "A qualidade dos ativos continua forte, mas mostra alguns traços de fraqueza", afirmou a equipe do Goldman Sachs em relatório.
Diversas análises divulgadas por corretoras afirmaram que a baixa para prejuízo de R$ 3,97 bilhões contribuiu para o declínio da taxa de inadimplência acima de 90 dias. O indicador ficou em 1,87% em junho, abaixo dos 2% registrados em março. O indicador de atrasos do Santander também foi favorecido por um movimento semelhante de baixas no segundo trimestre.
Quando um banco dá baixa em créditos insolventes, na prática, ele reduz o estoque de operações vencidas. Matematicamente, isso tem impacto sobre o índice de inadimplência, relação entre as operações não pagas e a carteira de crédito total. Igual tipo de efeito sobre o índice de inadimplência ocorre com o forte crescimento da carteira de crédito de uma instituição - um fator que também contribuiu para reduzir a inadimplência do BB.
Itaú Unibanco, Bradesco e Santander - principais concorrentes do BB - também registraram recuo do índice de calotes. Em pontos percentuais, porém, foram maiores que a redução mostrada pelo BB.
A decisão de tirar um empréstimo do balanço não é livre. Segue regras do Banco Central, que exige que os atrasos tenham pelo menos um ano, dependendo do prazo do empréstimo.
O banco, porém, afirma que a baixa de créditos do segundo trimestre não significa que a cifra se repetirá pela frente. "Não é um indicativo de tendência. Não nos preocupa", disse Gustavo Souza, gerente-geral de relações com investidores do Banco do Brasil. "A carteira tem crescido, então o banco tem mais baixas."
De acordo com Souza, um dos indicativos da confiança do BB na qualidade dos seus ativos é o fato de o banco ter reduzido ontem sua projeção de despesas de provisão para crédito sobre a carteira total. No início de 2013, o BB informou que essa relação deveria ficar entre 3% e 3,4% no ano. Agora, o número esperado é de algo entre 2,7% e 3,1%. Até junho, estava em 2,9%.
Outro dado do balanço que despertou a atenção de analistas ontem foi o crescimento de novas operações em atraso há mais de 90 dias. No segundo trimestre, foram R$ 3,99 bilhões que entraram nessa carteira, 33,7% a mais do que as entradas registradas nos três meses anteriores.
Os atrasos dos pagamentos se refletiram em mais despesas com provisão para devedores duvidosos. Somaram R$ 4,3 bilhões no segundo trimestre, 23% a mais do que em igual período de 2012. Na comparação com o primeiro trimestre de 2013, a alta é de 33,1%. "Esse aumento da provisão é saudável. Se dá pela simples contratação da operação", afirmou Aldemir Bendine, presidente do BB. "O prognóstico de analistas de piora da qualidade da carteira de crédito do BB não virá."
Outro fator, porém, contribuiu para que o banco tivesse um lucro recorde no segundo trimestre deste ano. A venda de uma fatia da BB Seguridade em uma oferta inicial de ações rendeu ao banco R$ 5,4 bilhões depois de impostos, sendo decisiva para o lucro líquido de R$ 7,47 bilhões. Em igual período do ano passado, o banco registrou um resultado de R$ 3,01 bilhões.
Ajustado por itens extraordinários, o lucro do BB foi de R$ 2,634 bilhões, com queda de 11,8% ante igual intervalo do ano passado. Para chegar a essa cifra, o banco excluiu os ganhos com BB Seguridade e ajustou, entre outros itens, R$ 1,3 bilhão em provisão feitas no trimestre para ações judiciais que vêm sendo discutidas.
A redução do lucro ajustado se deveu à menor receita que o BB obteve com a intermediação financeira. A chamada margem financeira depois de provisão para créditos ficou em R$ 7,47 bilhões, com retração de 5,8% na comparação com o segundo trimestre do ano passado. Resultados mais fracos de tesouraria, spreads mais baixos foram os principais motivos desse movimento, além do crescimento das provisões.
Na contramão dos bancos privados, o BB anunciou a revisão para cima da projeção de crescimento do crédito em 2013. Passou de um intervalo entre 16% e 20% para 17% e 21%, motivado pelas melhores perspectivas para as operações com empresas e para o agronegócio. Para as pessoas físicas, houve um corte nas estimativas, de 18% a 22% para 16% e 20%. Segundo Bendine, essa revisão para baixo se deu por uma questão de demanda mais fraca, não está relacionada a inadimplência.